Imunoterapia:
Apesar de ainda não ser recomendada para todos os tipos de cancro, a imunoterapia pode ajudar o sistema imunitário a combater esta doença. Saiba como.
A imunoterapia é incontornável quando se fala atualmente no tratamento do cancro. Tem-se assistido, ao longo da última década, à multiplicação de ensaios clínicos utilizando esta estratégia terapêutica, quer em contexto de tratamento paliativo, quer como adjuvante. Os resultados demonstraram o seu benefício no controlo da doença em alguns tipos de cancro - como melanoma, cancro do pulmão, da bexiga, do rim e linfoma - e em cerca de um terço dos doentes com doença metastática.
Que tipos de imunoterapia existem?
Existem diferentes tipos de imunoterapia que podem ser dados em forma de medicamentos ou através de terapia de células estaminais, ou seja, são extraídas células imunes do doente, que são modificadas em laboratório para atacar determinadas células cancerígenas quando injetadas novamente no corpo dos doentes.
Inibidores de Checkpoint
Libertam um travão natural no sistema imunitário de forma a que as células imunes (chamadas "células T") reconheçam e ataquem os tumores.
Terapia com células CAR T (Chimeric antigen receptor T)
Esta abordagem consiste na modificação genética das células imunitárias do próprio doente para se fazer uma nova proteína. Isto reforça estas células imunitárias tornando-as mais fortes no combate ao cancro.
Vacinas para o cancro
Estas vacinas treinam o corpo a proteger-se contra as suas próprias células danificadas ou anormais, incluindo as células cancerígenas.
Dependendo do tipo de cancro, a imunoterapia pode ser utilizada em primeira linha de tratamento ou em linhas subsequentes. Quando se observa resposta, esta é, geralmente, de longa duração. Isto deve-se ao facto de o sistema imunológico possuir memória para a destruição de células tumorais, estranhas ao organismo, mantendo dessa forma a doença controlada.
Exemplo disto, são os muito favoráveis resultados alcançados no melanoma, cancro do pulmão e cancro urotelial (em primeira e segunda linha de tratamento), no cancro do rim (após terapêuticas prévias), no linfoma de Hodgkin (em recidiva ou refratário) e no cancro da cabeça e pescoço (após quimioterapia prévia).
No entanto, noutros tipos de cancro, como o da mama, os resultados têm ficado aquém do esperado. Isto acontece porque o cancro da mama, como outros tipos de cancros, têm um baixo número de mutações genéticas e, consequentemente, de proteínas estranhas ao organismo capazes de estimular o sistema imunológico. As células do cancro da mama conseguem, assim, passar despercebidas à vigilância do sistema imunológico e não ser identificadas como estranhas pelas principais células responsáveis pela defesa do organismo contra as células tumorais, os linfócitos T. Os tumores da mama, em particular, parecem ter uma carga mutacional mais baixa do que outros tipos de cancro. Por este motivo, nestes tumores será mais eficaz utilizar a imunoterapia associada a outras terapêuticas convencionais, como hormonoterapia, quimioterapia, radioterapia e cirurgia.
É preciso saber que...
Apesar de alguns bons resultados alcançados, a imunoterapia pode não ser a melhor opção para todos os doentes. Dependendo do tipo de imunoterapia e das terapêuticas que a ela sejam associadas, as respostas podem variar entre 11 e 70%.
Efeitos secundários
Os efeitos desencadeados pela imunoterapia são muito diferentes da quimioterapia: não se observam os sintomas tradicionais de náuseas e vómitos, queda do cabelo ou baixa dos valores sanguíneos. Com a imunoterapia, observam-se sintomas de autoimunidade, ou seja, efeitos provocados pela reação do sistema imunológico contra as células normais do organismo. Estes efeitos podem, em teoria, afetar qualquer órgão do corpo, mas atingem mais frequentemente:
- pele (através de vermelhidão e secura)
- intestino (provocando diarreia e colite)
- fígado (através das hepatites)
- órgãos endócrinos (como a tiroide, provocando hipotiroidismo, ou a hipófise, provocando hipofisite)
Para precaver estes sintomas, o doente deve ser observado desde o início e a intervenção também deve ser o mais precoce possível.
Deve ou não a imunoterapia assumir-se como tratamento preferencial do cancro?
Para alguns tipos de cancro, como o melanoma, a imunoterapia já substituiu os tratamentos convencionais, como a quimioterapia. No entanto, para outros tipos de cancro, irá provavelmente constituir uma alternativa terapêutica, não substituindo totalmente tratamentos como a quimioterapia e as terapêuticas-alvo.
As imunoterapias já estão disponíveis em Portugal para tratar os doentes com cancro?
Sim, alguns destes medicamentos já estão disponíveis em Portugal para o tratamento de doentes com certos tipos de cancro. Esses medicamentos chamam-se inibidores de checkpoint imunológico e já estão a ser utilizados na prática clínica diária por um número cada vez maior de doentes.