"O meu filho não come": o que fazer?
Quando um filho não come, é natural que os pais se preocupem com a situação. O que fazer: obrigar a comer ou apresentar alternativas à refeição?
Uma das principais dificuldades que os pais com crianças em idade pré-escolar (um a seis anos) têm está relacionada com os filhos terem falta de apetite e gostarem de poucos alimentos. Muitas vezes, têm razão, mas é preciso ter cuidado para que a preocupação não seja exagerada. O apetite diminui nesta fase porque, ao entrar no segundo ano de vida, o ritmo de crescimento da criança abranda e, por consequência, a sua necessidade de calorias diárias também. Isso reflete-se no seu apetite. A falta de apetite pode ocorrer por outros motivos, como, por exemplo, para chamar a atenção, porque as crianças percebem a importância que os pais dão à refeição.
Ensinadas desde pequenas, as crianças podem aprender a gostar de qualquer tipo de alimento. Como mudar hábitos é sempre difícil, seguem abaixo algumas noções que os pais devem ter em conta e estratégias que ajudam a superar as dificuldades no que toca às refeições.
12 factos que não ajudam a que a criança seja "boa boca"
- Os pais oferecerem muita comida, sem terem em conta o tamanho do estômago da criança.
- O intervalo entre as refeições ser irregular, muito pequeno ou cheio de "petiscos". A criança não come porque não tem fome.
- Nestas idades, o mundo em redor é muito mais interessante e curioso e um ambiente barulhento e confuso durante a refeição não ajuda. A criança não consegue concentrar-se no ato de comer.
- A criança perceber que, se recusar a comida, os pais irão fazer diversos malabarismos para que ela coma. Ela prefere, então, divertir-se e não comer.
- Os pais ficarem tão aflitos porque os seus filhos não comem que trocam a refeição por lanches ou outras guloseimas. Quando a criança entende o processo, faz chantagem para receber o “prémio".
- Os pais fazerem promessas como "se comeres tudo, recebes um chocolate" só servem para superestimar o doce e diminuir o valor da comida.
- A comida não estar saborosa (sem sal e temperos). A criança está aborrecida porque quer ter prazer em comer.
- Repetir a ementa todos os dias. É natural que a criança acabe por se desinteressar pela comida.
- A ansiedade transmitida para que o filho se alimente, passando esta angústia para ele e interferindo na sua vontade de comer.
- Apesar de serem mais fáceis de ingerir, papinhas passadas não estimulam o bebé a mastigar e a reconhecer o sabor dos alimentos e não desenvolvem o paladar.
- Não respeitar o gosto da criança. As características funcionais das papilas gustativas são determinadas geneticamente. Isso significa que, ao nascer, a criança já tem algumas preferências (e aversões) alimentares que precisam de ser tidas em consideração.
- A criança ter dentes a nascer. A gengiva fica sensível e é mais difícil mastigar os alimentos. É preciso ter muita calma (e paciência) nesta fase.
Como podem os pais prevenir/resolver a falta de apetite?
- Estabelecer horários para as refeições e para os lanches, com intervalos de 2h ou 3h para crianças entre 1-6 anos e de 3h ou 4h para os que estão em fase escolar.
- Não trocar a refeição principal por outro alimento. Se a criança não quiser comer, aguardem meia hora ou uma hora e ofereçam-lhe novamente a mesma comida. Se ainda assim ela recusar, esperem mais tempo até que ela dê sinais de estar com fome. Mas certifiquem-se de que gosta do que está a ser oferecido.
- As crianças trocam facilmente a refeição por sumos. Por isso, os pais devem limitar a ingestão de líquidos (sumos e água) durante a refeição (antes ou depois dela podem permitir). A capacidade gástrica das crianças é limitada e não vale a pena enchê-las de líquido. Esperem que a criança coma parte da refeição para, então, oferecer sumo ou água.
- Ser um bom exemplo: a influência do ambiente em que ela vive, o exemplo dos pais e as experiências positivas ou negativas podem ser mais fortes que a genética.
- Não insistir em demasia. Os pais acham quase sempre que o seu filho está a comer pouco e acabam por forçá-lo a comer mais do que ele precisa ou aguenta. A oferta de um volume de alimentos maior do que a capacidade gástrica da criança diminui o prazer de comer do bebé e aumenta a ansiedade dos pais, além de poder desencadear patologias, como a obesidade.
- Evitar malabarismos como "o aviãozinho". Inventar técnicas para fazer o filho comer, como distrair com um brinquedo ou com a televisão ligada e camuflar o alimento não educam para o prazer de se comer bem. Podem até funcionar na hora, mas perdem rapidamente o seu efeito. A hora de comer é hora só de comer, prestando atenção aos sabores, texturas, aromas e cores.
- Substituir o alimento recusado por outro do mesmo grupo nutricional. Se insistem nos brócolos, mas o bebé cospe tudo ou provoca o vómito, tentar dar espinafres. Rejeita o feijão? Oferecer a lentilha ou o grão-de-bico. Insistir exageradamente num alimento específico pode diminuir o prazer de comer, reforçando a falta de apetite.
- Não ter medo de impor limites. Deve-se resistir às birras e estabelecer limites, seguindo horários fixos para fazer as refeições e insistindo numa alimentação nutritiva.
- Não ceder à chantagem da "greve de fome". É comum a criança recusar-se em comer o jantar e insistir nas bolachas e os pais, para que não fique de barriga vazia, permitem. No dia seguinte, é provável que o filho recorra à mesma tática, negando-se a comer o que é certo, em troca dos seus alimentos preferidos.
- Não deixar os lanchinhos estragarem a disciplina. Se à hora do almoço o seu filho não quis comer nada, mas uma hora depois está a pedir lanche e bolachas, não ceda e seja firme. Se a criança não tinha fome à hora de almoço, vai ter de esperar até a hora certa do lanche e quando ela chegar, vai ter que se contentar com a quantidade correta, mesmo que a fome seja maior. Se continua com vontade, ensine-lhe a “guardar a fome" para o jantar. Depois de alguns dias, a criança vai perceber que não tem sorte com o jogo e é melhor comer o almoço inteiro para não ficar com vontade depois.