O que deve saber sobre a cesariana a pedido

Gravidez
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Há casos em que a cesariana é a opção certa. Mas porque é que há grávidas que preferem este tipo de parto mesmo quando não há indicação? Tenha noção dos riscos.

A cesariana a pedido trata-se de uma cesariana pré-trabalho de parto, a pedido materno, sem indicação clínica, materna ou fetal. Esta indicação não está incluída nos códigos de nomenclatura G.D.H, ICD9 e poderá não ser aceite e comparticipada pelas seguradoras. Perante esta situação, o médico tem a obrigação de esclarecer a grávida sobre as vantagens do parto vaginal normal "eutócico" e sobre os riscos de uma cesariana e as suas implicações nas gravidezes e partos subsequentes. Saiba mais sobre os riscos e possíveis complicações futuras de uma cesariana.

 

Quais as vantagens de um parto vaginal?

  • Internamento mais curto
  • Recuperação mais rápida
  • Maior ligação (“bonding”) entre mãe e filho
  • Menor morbilidade materna e fetal
  • Menores custos hospitalares
  • Menores riscos nas gravidezes e partos subsequentes

 

Então, porquê a cesariana a pedido?

Existem várias razões que podem levar a que a grávida queira optar por uma cesariana a pedido:

  • Conveniência de um parto programado
  • Equipa
  • Logística familiar
  • Medo do parto e das complicações de um parto vaginal
  • Experiências negativas em partos anteriores
  • Preocupações sobre o risco fetal e medo de ter como complicação incontinência urinária ou fecal
  • Medo de haver necessidade de uma cesariana emergente ou de um parto vaginal instrumentado, isto é, com fórceps ou ventosa

 

Cesariana e partos futuros

Uma cesariana vai condicionar partos futuros. Não se deve induzir um parto com cesariana anterior, pelo risco acrescido de rotura uterina. Nas cesarianas repetidas há maior risco de complicações intraoperatórias, pois há maior possibilidade de existirem placentas acretas ou prévias. A placenta acreta pode originar dificuldades na extração da placenta com risco de hemorragias, podendo mesmo obrigar à realização de uma histerectomia.

 

É necessário consentimento prévio

Por todos estes factos, as grávidas, devidamente esclarecidas sobre os riscos da cesariana tanto para si como para o recém-nascido, têm de assinar um consentimento que deve ter anexo todos os esclarecimentos sobre os riscos maternos e fetais.

 

Quais os riscos maternos?

Apesar da mortalidade materna atribuída à cesariana ser praticamente nula, é três a sete vezes superior à dos partos por via vaginal. A causa mais frequente de mortalidade materna associada a cesariana é a trombose venosa profunda e a embolia pulmonar. Podem verificar-se complicações intraoperatórias, como hemorragias uterinas, por extensão da incisão a estruturas vizinhas, rotura uterina ou placentas acretas. Também podem ocorrer lesões do aparelho urinário e do tubo digestivo, que são raras (1/1300). As infeções são as sequelas pós-operatórias mais frequentes, sobretudo nas grávidas obesas ou com diabetes.

 

Outras complicações para a mãe

As infeções da sutura e infeções urinárias são outras complicações menos graves que podem ocorrer. Existe uma associação entre o número de cesarianas e as placentas prévias, pois são mais frequentes nas mulheres com placenta prévia e cicatrizes de cesariana. As mulheres sem cicatriz uterina têm 4,5 % de risco de placenta acreta, versus 24% a 38% nas mulheres com placenta prévia e cicatriz uterina.

 

Riscos neonatais

Para o bebé, existe maior risco de dificuldade respiratória, sobretudo se a cesariana eletiva for feita antes das 39 semanas. 0,4% dos recém nascidos podem sofrer lacerações (feridas) acidentalmente durante a técnica cirúrgica.

 

O que diz a lei

Existe um parecer nº P/12/APB/08 sobre o direito de escolha da via do parto: "Se assiste ao casal e à mulher grávida em particular um direito à escolha da via do parto. Nomeadamente, se deve ser dada a possibilidade à mulher grávida de escolher - de um modo livre e esclarecido - o modo como o seu filho irá nascer: por via vaginal ou através de uma cesariana". Que a generalização da possibilidade de escolha da via do parto pode originar um agravamento de custos com a prestação de cuidados de saúde. "Que em todo o caso, qualquer decisão neste domínio deve ter em consideração a evidência clínica existente sobre os riscos associados a cada uma das vias de parto".

 

Interesse clínico, o mais importante

A obtenção de um consenso sobre este tema revela-se particularmente pertinente de modo a padronizar as práticas no sistema de saúde português, independentemente da natureza jurídica da instituição prestadora de cuidados de saúde. De facto, assiste-se a disparidades gritantes entre as práticas verificadas no setor público e no setor privado, sem uma razão suficientemente plausível que o justifique.

Avaliando todos estes prós e contras, temos de considerar que o importante é o interesse clínico, isto é, o melhor parto para determinada mulher e para o recém-nascido. A decisão deve ser tomada sempre após aconselhamento clínico e assinatura de um consentimento informado e esclarecido.

Publicado a 18/03/2014