Vacina da COVID-19: o infecciologista responde

COVID-19
6 mins leitura

Para esclarecer algumas dúvidas relativas à vacina da COVID-19, Paulo Andrade, infecciologista CUF, responde a várias questões sobre o tema.

Desde o surgimento da pandemia de COVID-19, o mundo científico focou-se e uniu esforços para desenvolver uma vacina que conferisse imunidade contra o vírus SARS-CoV-2, responsável por esta infeção. Em dezembro de 2020, chegam a Portugal as primeiras doses da vacina, prontas para administrar à população de forma faseada. Sendo algo recente, é normal que surjam várias dúvidas por parte das pessoas sobre como atua a vacina, se podem ou não ser vacinadas, os possíveis efeitos adversos, o que nos espera depois da vacina, e não só. Para ajudar a esclarecer algumas dúvidas, Paulo Andrade, infecciologista CUF, respondeu às questões que nos deixou no Facebook CUF.



Vacinas: o que são e como funcionam

Em primeiro lugar, é importante esclarecer questões mais básicas em relação às vacinas de um modo geral. Já todos as tomámos ao longo da nossa vida, mas sabe realmente o que é uma vacina? De acordo com as explicações do especialista em Infecciologia, “uma vacina é um produto biológico que é inoculado num hospedeiro, neste caso, o ser humano. O objetivo é induzir uma resposta imunológica. Ou seja, o sistema imunitário é apresentado com antigénios (substância que estimula no nosso organismo a formação de anticorpos capazes de a neutralizar) de um agente infetante e a ideia é criar uma memória imunológica de tal forma que num segundo contacto com o agente, desta vez, o agente real, exista uma resposta imunológica que o elimine e, portanto, não chega a ocorrer uma infeção”.

 

O que é uma vacina mRNA?

Uma das vacinas neste momento aprovadas e a ser administrada em Portugal é uma vacina mRNA, que significa ácido ribonucleico mensageiro. Esta “é uma técnica nova de desenvolvimento vacinal”, conta-nos o infecciologista CUF, explicando que “o RNA mensageiro é material genético que é incorporado dentro da célula humana e que a induz a produzir uma proteína do vírus. O aparecimento desta proteína, a proteína spike, leva ao desenvolvimento de uma resposta imunitária, que confere posteriormente imunidade ao vírus SARS-CoV-2”.

 

Sobre a vacina da COVID-19

Com o decorrer do tempo, vemos mais vacinas da COVID-19 a serem aprovadas. O facto de existirem várias opções diferentes contra esta infeção tem uma explicação: “Dada a premência da pandemia, houve a necessidade de se encontrar rapidamente uma resposta vacinal para a mesma. Assim, as diferentes casas farmacêuticas desenvolveram técnicas diferentes para chegar a uma vacina eficaz, também incentivadas pelos Governos e pelas autoridades de saúde. Isto fez com que tivéssemos vacinas diferentes a chegarem mais ou menos ao mesmo tempo agora ao mercado”, esclarece Paulo Andrade.

 

Efeitos secundários da vacina da COVID-19

Segundo o infecciologista CUF Paulo Andrade, os efeitos adversos mais expectáveis são:

  • Dor no local da administração da vacina
  • Mialgias (dores musculares)
  • Cefaleias (dores de cabeça)
  • Prostração (cansaço)
  • Artralgias (dores nas articulações)
  • Febre

 

Para lidar com estes efeitos adversos, “pode colocar frio (gelo) no local onde foi administrada a vacina e, eventualmente, tomar um medicamento antipirético ou anti-inflamatório”, sugere.

 

Contraindicações da vacina da COVID-19

“As contraindicações para fazer a vacina verificam-se nas pessoas que já desenvolveram reações alérgicas ou anafiláticas aos componentes presentes na vacina da COVID-19. Se foi a um outro componente que não está presente na vacina, à partida poderá fazer a vacinação. Outras alergias, como à penicilina, ao marisco, ao pólen, por si só, não representam uma contraindicação para ser vacinado”, afirma Paulo Andrade.

 

O médico infecciologista alerta que, caso tenha ocorrido reação alérgica à primeira toma da vacina da COVID-19, não deve proceder à administração da segunda dose.

 

Se, no passado, já fez alergia à administração de outras vacinas, não é garantido que não possa tomar a vacina da COVID-19. Segundo o especialista, “depende da natureza da reação alérgica: se a reação alérgica foi a um componente que também está presente na vacina da vacina da COVID-19, sim, é uma contraindicação e não deve fazer. Se foi a outro componente que não está presente na vacina, à partida poderá tomá-la”.

 

Quanto à toma de medicamentos, também não existe uma incompatibilidade com a administração da vacina da COVID-19, refere o especialista.

 

“A patologia cardíaca, autoimune, oncológica, não é contraindicação para a realização da vacina”, refere o médico. O mesmo se aplica a doentes oncológicos, que “não têm nenhuma contraindicação para serem vacinados para o SARS-CoV-2. Aliás, a doença oncológica constitui uma das indicações para a vacinação na segunda fase”, afirma.

 

Contudo, é aconselhável que fale com o seu médico assistente, que fará uma avaliação de cada caso específico e determinará se existe alguma contraindicação à vacinação.

 

Sabia que…

Se já teve COVID-19, pode ser vacinado, pois não existe contraindicação nesse sentido.

 

Crianças e grávidas

As crianças não devem ser vacinadas contra a COVID-19, afirma Paulo Andrade, pois os “estudos feitos até agora sobre a vacina foram realizados em pessoas maiores de 16 anos”. Por isso, a vacinação deve ser feita apenas a partir dessa idade.

“Quanto às grávidas e mulheres em fase de aleitamento, não existe uma contraindicação para a vacinação. O que não temos é dados sobre os efeitos da vacina nessa população”, salvaguarda o infecciologista. Portanto, “uma mulher grávida ou em fase de aleitamento deve falar com o seu médico assistente para decidir se tem vantagem ou não em ser vacinada”, recomenda.

 

A imunidade depois da vacinação

A imunização contra o vírus SARS-CoV-2 não ocorre imediatamente depois da administração da vacina. De acordo com Paulo Andrade, ficamos imunizados contra o novo coronavírus “a partir do sétimo dia após a segunda toma da vacina”. Quanto à duração dessa imunidade, ainda não há uma resposta, “porque ainda não há estudos nesse sentido e, portanto, embora seja pouco provável, é possível contrair SARS-CoV-2 após a inoculação com a vacina”, alerta o infecciologista.

 

Quando podemos voltar à “vida normal”?

Após o início da administração da vacina à população, não é garantido quando poderemos reduzir as medidas de segurança. “O levantamento das medidas de prevenção da COVID-19 que estão em curso - utilização de máscara, distanciamento social, higiene das mãos e respiratória - vai depender muito mais da curva epidemiológica da própria infeção na comunidade e não tanto da vacinação. Embora a vacinação influa a curva epidemiológica da infeção”, explica o infecciologista CUF Paulo Andrade.

 

Atenção!

Se vai ser vacinado mas tem sintomas respiratórios, deve aguardar que os sintomas melhorem.

Publicado a 08/01/2021