500 MILES: o projeto que capacita a economia social
Conheça o 500 MILES, um projeto da Fundação Manuel Violante, que, com o apoio da CUF, procura ajudar instituições do setor social a adquirir novas competências na área da gestão.
Vítor Gonçalves, Diretor de Serviços da Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira, não tem dúvida de que “o Programa 500 MILES apareceu na altura certa, quer por coincidir com o centenário da instituição, quer por coincidir com o fim do período crítico da pandemia”. Este projeto, inserido no Programa CUF Inspira e que junta mentores voluntários da CUF e da Fundação Manuel Violante com o intuito de capacitar em gestão as empresas do setor social de regiões onde a CUF está presente, foi a alavanca que a instituição do distrito de Aveiro precisava para ter um novo fôlego na implementação das mudanças necessárias à sua atividade.
Nascida em 1921 com o foco na prestação de cuidados hospitalares de saúde, atividade que cessou depois de 1974, aquando das nacionalizações dos hospitais das misericórdias, a Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira reinventou-se e passou a centrar a sua atividade na área social, primeiramente com uma resposta direcionada à população idosa – com a criação de um lar e de um centro de dia – e estendendo depois a ação à primeira infância, com creche e pré-escolar, e à infância em risco, com um centro de acolhimento temporário. Tem também uma ação na área dos sem-abrigo, com um refeitório comunitário, e integra, desde 2007, a Rede Nacional de Cuidados Continuados com uma unidade de 30 camas. Em 2018 e 2022, a instituição expandiu o apoio aos concelhos limítrofes, através da aquisição de centros sociais em duas localidades.
Com um leque tão alargado de respostas, Vítor Gonçalves reconhece que a equipa precisava de uma maior articulação “sob pena de trabalharem seguramente bem, mas isoladamente”. Era necessário que “a missão, visão e valores da instituição se traduzissem em procedimentos comuns de trabalho, na definição de uma nova estratégia de comunicação e na medição de resultados”.
Todos a trabalhar para o bem comum
Em 2022, a Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira decidiu participar na segunda edição do 500 MILES, trabalhando com a equipa de mentores constituída por Vera Duque, Gestora de Recursos Humanos da CUF, e Maria João Antunes, da Fundação Manuel Violante, nos três pilares do Programa: diagnóstico, formação e implementação.
Apesar de, como revela Vera Duque, na fase do diagnóstico terem constatado que “já havia algum trabalho feito”, as mentoras aperceberam-se de que “havia um conjunto de intenções que estavam paradas e que, com o Programa, voltaram a ser avaliadas e postas em prática”, nomeadamente os descritivos de função de cada colaborador, o sistema de avaliação de desempenho e a comunicação interna e externa. Num segundo momento, ocorreram as ações de formação, envolvendo as pessoas responsáveis pelas várias valências da instituição, pois, frisa a mentora da CUF, “sem a colaboração das pessoas, as mudanças não acontecem”. O envolvimento, “deu-se logo desde o início” e foi, por isso, “um fator fundamental no sucesso do Programa”.
Vítor Gonçalves reconhece que “nas instituições temos a noção do que temos de fazer, mas é muito mais fácil quando temos alguém de fora que nos motiva e envolve”, como acontece com a mentoria dos colaboradores da CUF e da Fundação. Vera Duque corrobora esta ideia, lembrando que, ao acompanharem de forma efetiva a implementação do plano de ação, os mentores “vão avaliando se as mudanças estão a acontecer, como estão a acontecer, e desbloqueiam alguma dificuldade sentida pelas instituições”.
Em termos práticos, segundo o dirigente, o 500 MILES fez com que a instituição começasse por “redefinir a sua missão, incorporando as premissas de acolher, valorizar e cuidar, o que acaba por absorver todas as áreas de intervenção da instituição sob os princípios do humanismo cristão, pois não podíamos deixar de colocar na nossa missão aquilo que resulta de sermos uma misericórdia”. Foram igualmente concluídos “vários procedimentos de gestão de recursos humanos, entre os quais os documentos onde estão descritas as funções de cada colaborador. Voltaram a olhar para todos os organogramas e fizeram, também, os descritivos de função que entretanto surgiram na organização e não estavam documentados”, lembra Vera Duque. Este foi um passo importante, diz a mentora, para realizar as avaliações de desempenho, processo que foi “redefinido e redesenhado” com a ajuda do 500 MILES, de acordo com os objetivos globais da instituição.
Uma das necessidades identificadas no diagnóstico foi a de melhorar a comunicação interna entre as direções técnicas e a gestão de topo. Desta forma, foram criados dois momentos por ano para ambas as partes reunirem. Nestes momentos, cada área de intervenção da Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira tem a oportunidade de apresentar o que conseguiu realizar, com recurso a indicadores de impacto de cada ação concretizada, e dar a conhecer os objetivos a que se propõem alcançar no ano seguinte. Ainda neste âmbito da comunicação interna, sublinha Vítor Gonçalves, foi definido “um projeto de reuniões setoriais mensais com a direção para discussão de problemas, leitura de propostas e afinamento de estratégias de intervenção”. Na primeira quinta-feira de cada mês, uma área setorial reúne com Vítor Gonçalves e, na última quinta-feira, decorre uma ação de formação conjunta e transversal a todas as respostas sociais, cada uma delas organizada por uma diretora técnica. A Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira colocou ainda em prática ações de melhoria da comunicação externa, a começar pela imagem no mundo digital. “Era importante tornar o nosso website mais apelativo e, nesse sentido, foi reformulado”, frisa o dirigente.
FORMAÇÃO EM SAÚDE
Todas as instituições que participam no Programa recebem gratuitamente formação em saúde promovida pela CUF Academic Center. Em 2022 foram transmitidas técnicas e conhecimentos na área dos primeiros socorros para atuação e situações de emergência.
Ser mentor num programa de voluntariado como o 500 MILES é um desafio que traz muita satisfação a quem dá de si em prol das instituições participantes. Quem o garante é Juliana Rodrigues, Gestora de Produção no Hospital CUF Coimbra, que foi a mentora da Associação de Apoio à Juventude Deficiente (AAJUDE), uma instituição que acolhe jovens com deficiências ligeiras e moderadas no concelho do Porto. Ao ouvir o testemunho de colegas da CUF que já tinham participado nas edições anteriores do programa, a gestora decidiu que ser voluntária neste projeto seria “uma forma de dar um pouco de mim à comunidade e fazer voluntariado numa área que nunca tinha feito e que, afinal, é a minha área profissional: a gestão”. Decidiu, assim, participar na terceira edição.
O facto de se tratar de um programa a médio prazo deu a Juliana Rodrigues a certeza de que os nove meses de experiência permitiriam “alargar competências de uma forma que não seria possível num projeto a curto prazo, bem como criar ligações mais fortes, como acabou por acontecer”.
Em conjunto, as mentoras da CUF e da Fundação Manuel Violante, construíram uma ligação muito estreita com a capitã de equipa da AAJUDE, que influenciou positivamente as várias fases do programa, desde o diagnóstico ao nível das competências de gestão na associação até às ações de formação nas áreas consideradas mais deficitárias, sem esquecer a implementação do plano de ação centrado nas prioridades da instituição. É um processo, diz Juliana Rodrigues, no qual os mentores desempenham um papel fundamental de motivação, troca de ideias e orientação, e onde “o foco é sempre a melhoria contínua”, que se deseja prolongada para lá do tempo de duração do 500 MILES.
Olhando para trás, Juliana Rodrigues assegura que as mais-valias do projeto acontecem para ambas as partes: “Para o setor social, estes programas são extremamente úteis, porque conseguem profissionalizar e tornar mais fácil a atividade na área da economia social.” Por sua vez, ainda de acordo com a gestora, para o setor empresarial este tipo de projetos ajuda a ter “uma visão de outra realidade, a perceber as coisas de forma diferente e a pôr em perspetiva algumas das nossas decisões e das nossas motivações”.
Em última análise, reforça a mentora, o 500 MILES ajuda a “perceber o impacto direto que as instituições do setor social têm efetivamente na vida das pessoas”.
Reconhecimento do caminho percorrido
Todo o trabalho desenvolvido pela Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira fez com que esta fosse reconhecida como uma das três instituições que mais se destacaram na implementação do programa 500 MILES, obtendo, em resultado, o primeiro lugar no Prémio CUF Inspira 2022. Vera Duque assegura que, embora a equipa não tenha trabalhado especificamente para esse fim, ficou “muito orgulhosa” com a atribuição desta distinção.
Vítor Gonçalves também não esconde o orgulho pelo prémio, partilhando que este “representa um reconhecimento de um desafio ao qual estivemos à altura na prossecução e correta implementação de tudo o que foi delineado”. E acrescenta: “O projeto é uma semente que, estou convencido, irá germinar uma bonita árvore.” O prémio monetário, no valor de cinco mil euros, foi investido num novo software que permite o registo da atividade diária e facilita “a tomada de boas decisões de gestão, consubstanciadas na evidência da nossa atividade”.
Vítor Gonçalves não deixa ainda de enaltecer o papel dos mentores ao longo de todo o projeto: “A mentoria foi indispensável para cortar a inércia, garantir que o processo não se prolongava no tempo e assim conseguirmos cumprir todos os prazos”.
Fotografias de Miguel Proença 4SEE
Em 2022, o Programa 500 MILES contou com a participação de 17 instituições do setor social de cinco localidades do país:
- Matosinhos
- Porto
- São João da Madeira
- Sintra
- Viseu
TERCEIRA EDIÇÃO DO PROGRAMA 500 MILES
Este ano os mentores CUF vão apoiar entidades da economia social de: Almada, Coimbra, Montijo, Oeiras, Santarém, Sintra e Torres Vedras.