Pela sua saúde, mexa-se!
“Sabemos que cerca de um terço dos adultos são considerados inativos ou, pelo menos, não têm o nível de atividade física ou exercício físico pretendido para uma pessoa saudável”, alerta Marco Botelho, especialista em Medicina Desportiva na Clínica CUF Alvalade e na Clínica CUF Almada. Os dados são especialmente preocupantes quando se sabe que a inatividade é um fator de risco relevante e conhecido para o aparecimento de doenças cardiovasculares, metabólicas (responsável por cerca de um terço dos casos de diabetes mellitus) e oncológicas (impacto em 25% dos casos de cancro colorretal).
Importa distinguir entre atividade física – qualquer movimento que gera dispêndio de energia – e exercício físico, feito de forma programada e com um objetivo definido. Com um papel fundamental na prevenção primária de várias doenças, o exercício tem um caráter transformador do organismo.
“Quando fazemos exercício de forma regular dão-se uma série de adaptações fisiológicas que são a forma de o organismo conseguir manter as melhores condições para o seu funcionamento”, explica o especialista, antes de citar a “cascata de processos” que garantem uma maior capacidade física no dia a dia, entre os quais o aumento do fluxo sanguíneo ao nível cerebral, a regulação da temperatura corporal, a otimização metabólica com o aumento da sensibilidade à insulina e consequente melhoria da utilização de glicose ou as alterações cardiovasculares, que permitem melhorar a capacidade de transporte e consumo de oxigénio. No dia a dia, traduz-se, ainda, num aumento de força e mobilidade e num bem-estar mental com melhores níveis de autoestima. Marco Botelho lembra ainda outro benefício associado à prática do exercício: a promoção da interação social.
Este último aspeto tem maior expressão no caso dos homens que tendem a preferir atividades coletivas e com caráter competitivo. “É uma realidade que tende a diluir-se porque, felizmente, as mulheres também aderem cada vez mais à prática de exercício físico em contexto social e competitivo, mas ainda se nota que os homens optam por atividades coletivas em que estão com amigos”, afirma Marco Botelho. Estas escolhas refletem-se igualmente no tipo de lesões sofridas, sendo as lesões traumáticas do tornozelo e do joelho as mais comuns entre os desportistas masculinos.
"Quanto menos fizermos, menos capacidade vamos ter para fazer. Daí a importância de, desde cedo, adotarmos hábitos regulares de exercício físico."
A prática desportiva é importante ao longo de toda a vida, pelo que não deve ser a idade, mas as características individuais a determinar a escolha da atividade a praticar. “A prescrição de exercício deve ser individualizada e este deve ser ajustado à capacidade da pessoa e ao que é seguro para ela praticar.
É sempre importante termos em atenção eventuais patologias crónicas ou fatores de risco associados, de modo a conseguir ligar os benefícios do exercício à gestão destas doenças”, explica o especialista em Medicina Desportiva. Também cabe ao médico ter a sensibilidade de perceber o tipo de modalidade que se adapta mais aos interesses pessoais de cada um. “Não adianta nada ter uma pessoa que quer muito fazer exercício, mas detesta correr e eu dizer-lhe que devia correr. A base do sucesso na introdução ao exercício físico é a pessoa fazer algo que gosta.”
A mais-valia da consulta de Medicina Desportiva para quem quer iniciar-se no exercício prende-se tanto com a possibilidade de avaliação clínica cuidada e individual – que vai desde a realização de exames médico-desportivos com avaliação de fatores de risco, sem esquecer a deteção de eventuais alterações ao nível musculoesquelético que devam ser tidas em conta, até à prevenção, tratamento de lesões e gestão de patologias crónicas no contexto da prática de exercício físico. “É uma especialidade que abrange uma panóplia de situações relacionadas com o exercício que nos dotam das ferramentas ideais para o acompanhamento de pessoas que pretendam fazer exercício físico regular”, garante Marco Botelho, que não se cansa de sublinhar que qualquer idade é boa para iniciar a prática desportiva.
“Quanto menos fizermos, menos capacidade vamos ter para fazer. Daí a importância de, desde cedo, adotarmos hábitos regulares de exercício físico. Sabemos que a questão da mobilidade, nomeadamente em pessoas com mais idade, acaba por ser melhorada em pessoas com hábitos de exercício”, diz o médico, que cita um artigo recente, publicado no British Journal of Sports Medicine, sobre como, por exemplo, em casos de artroses – nomeadamente do joelho –, o exercício físico regular tem os mesmos benefícios, ao nível da dor, que a toma de um anti-inflamatório. “Nunca é tarde para começar. É tudo uma questão de hábito: depois de se criar uma rotina, não são muitas as pessoas que desistem. O benefício não é apenas para quem começa com 20 anos. Quem começa com 60 anos vai mais do que a tempo de colher benefícios da prática do exercício físico.”
Fotografias de António Azevedo 4SEE