Preocupações urológicas
“São muitos os motivos que levam os homens à consulta de urologia: cólicas renais, disfunção sexual, problemas com a próstata. Mas é sobretudo no tema da próstata que surgem as maiores preocupações”, admite Pedro Bargão Santos, urologista no Hospital CUF Descobertas e no Hospital CUF Tejo.
A próstata é uma glândula que faz parte dos sistemas urinário e reprodutor masculinos, e cuja principal função é a produção de líquido, constituinte do esperma, que facilita a mobilização dos espermatozoides. Tem o volume aproximado ao de uma castanha, mas, com a idade, começa a aumentar, dando origem a um problema chamado hiperplasia benigna da próstata, que é também uma das patologias mais prevalentes na população masculina. “Estima-se que, por volta dos 50 anos, cerca de 40% dos homens possam ter sintomas desta doença e aos 90 anos, este número aumenta para os 90%”, afirma o urologista.
A hiperplasia benigna da próstata pode manifestar-se através da dificuldade em esvaziar a bexiga, mesmo indo repetidas vezes à casa de banho, ou, de forma menos frequente, através de uma menor capacidade de armazenar urina, o que provoca urgência miccional. Em ambos os casos, numa fase inicial, os sintomas podem ser controlados recorrendo a medicação. No entanto, quando a próstata se torna mais obstrutiva, passa também a ser considerada a solução cirúrgica, procedimento que, nos últimos anos, teve uma grande evolução. “Novas técnicas têm surgido, como a REZUM, que é menos invasiva do que a cirurgia tradicional de ressecção”, explica Pedro Bargão Santos. Este tratamento consiste na aplicação de jatos de água que provocam a destruição das células prostáticas. “O processo é realizado em ambulatório e com recurso a sedação ligeira. Os resultados são atingidos cerca de um mês e meio a dois meses após a cirurgia.”
Este não foi o único procedimento inovador a surgir nos últimos anos. Na cirurgia clássica de desobstrução, a chamada prostatectomia simples, a intervenção é hoje realizada tanto por laparoscopia como por cirurgia robótica, que garante uma intervenção mais precisa e segura. “O controlo da hemorragia é muito maior graças à coagulação que o robô permite. O doente tem alta precoce e fica menos tempo algaliado”, refere Pedro Bargão Santos. Na CUF, este procedimento ganhou características próprias com o desenvolvimento da chamada CUF Technique, caracterizada principalmente pela abordagem extraperitoneal - que evita o contacto com as vísceras, como o intestino - e usada quer no tratamento da hiperplasia, quer no cancro da próstata. Nesta última patologia e com recurso ao robô Da Vinci Xi, é feita uma prostatectomia radical robótica por via extraperitoneal. “Uma das vantagens está no posicionamento do doente, que permite aos anestesistas ventilar muito melhor. Consequentemente, a recuperação pós-operatória também é melhor”, explica o urologista.
“É essencial manter a regularidade nos exames e nas consultas de urologia”
O número de diagnósticos de cancro da próstata tem vindo a aumentar nos últimos anos, facto que Pedro Bargão Santos atribui não ao aumento efetivo da prevalência da doença, mas aos avanços nos meios de diagnóstico e a uma cada vez maior preocupação por parte dos homens na adesão aos exames de vigilância. Estes dois factos combinados têm permitido detetar a doença em fases mais precoces, o que se reflete de forma positiva no prognóstico. “A taxa de mortalidade tem diminuído”, assume o urologista, que sublinha ainda a evolução nos tratamentos. “A cirurgia robótica é uma cirurgia minuciosa, que nos possibilita, em primeiro lugar, cumprir o objetivo oncológico - tratar o tumor - e, ao mesmo tempo, preservar a função sexual e a continência dos doentes”.
A biópsia prostática eco-guiada, realizada por via transperineal e anestesia local com fusão cognitiva (sem nenhum software informático) a partir de imagens de ressonância magnética multiparamétrica, como a que existe na CUF, é
hoje muito mais segura e anatomicamente mais precisa. Esta abordagem elimina problemas hemorrágicos e diminui a probabilidade de complicações infeciosas das biópsias eco-guiadas por via transrectal. Este tipo de biópsia que permite a comparação de imagens ecográficas com imagens da ressonância magnética, garante assim uma perceção mais clara sobre a situação de cada doente.
O cancro da próstata, tal como outras neoplasias, está relacionado com o envelhecimento. “Se fizermos biópsias a todos, quase 80% dos homens com 80 anos têm tumores na próstata – mas, na maioria, não são clinicamente significativos. O que interessa é perceber se esses tumores são agressivos. Daí a importância de não desprezar a realização do toque retal e, também, da ressonância magnética multiparamétrica - uma técnica recente, efetuada num equipamento de última geração, que permite obter imagens de elevadíssima qualidade”, alerta o médico. Além de ser menos incomodativa para o doente, a ressonância magnética multiparamétrica fornece informação mais precisa sobre a próstata, o volume exato, as áreas eventualmente suspeitas que possam ser passíveis de biópsia prostática dirigida e a relação com as estruturas vizinhas. “A grande revolução que se tem verificado no tratamento do cancro da próstata tem que ver com a imagem”, assegura o especialista.
O cancro testicular é outra das doenças abordadas na consulta de urologia. Menos frequente – corresponde a apenas 1% das neoplasias urológicas –, afeta sobretudo homens mais jovens, com o pico de incidência a registar-se entre os 25 e os 35 anos. Geralmente a primeira suspeita surge por palpação de um nódulo, sendo este um sinal que deve levar à marcação de uma consulta. “É um tumor que, se não for detetado, pode evoluir e ser fatal. Mas, quando é detetado e está localizado, é o tumor urológico mais curável”, explica o médico.
Para garantir que esta e as restantes patologias urológicas são detetadas em fases precoces, é essencial manter a regularidade nos exames e nas consultas de urologia. É importante fazer uma análise da PSA base aos 40 anos, que é uma idade em que a maioria dos homens não tem sintomas, e passar a incluí-la nas análises de rotina”, recomenda Pedro Bargão Santos. “Em relação aos sintomas, podem aparecer em idades mais avançadas. Nessa altura, deve procurar-se apoio médico para perceber o que se passa, por exemplo com uma fluxometria que permite determinar a velocidade do fluxo urinário.” O especialista resume a três passos a prevenção eficaz das principais doenças urológicas: “Fazer os exames na altura certa, ter a preocupação de realizar o PSA e ser observado por um urologista.”
Fotografias de José Fernandes 4SEE