Radioterapia: um pilar fundamental no tratamento do cancro

Fruto do desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos, a radioterapia desempenha um papel cada vez mais determinante no tratamento da doença oncológica. Conheça a aposta da CUF nesta área terapêutica.

Os termos utilizados podem ser algo técnicos, mas não há como escapar-lhes para compreender em que consiste a radioterapia. De acordo com Gonçalo Fernandez, Coordenador de Radioncologia no Hospital CUF Descobertas e no Hospital CUF Tejo, trata-se de “um tratamento aplicado em doenças oncológicas que utiliza radiações ionizantes de alta energia com o intuito de erradicar o cancro”. Em termos práticos, é uma terapêutica que se baseia “na destruição do tumor pela absorção de energia da radiação, salvaguardando os tecidos saudáveis circundantes e oferecendo um grande benefício no controlo e tratamento de uma grande multiplicidade de tumores”. 

 

Gonçalo Fernandez

Segundo um artigo recentemente publicado na revista científica Radiation Oncology, estima-se que cerca de 40% dos doentes diagnosticados com cancro terão indicação para fazer tratamentos de radioterapia ao longo do curso da doença. 

A relevância desta especialidade fica também patente nas palavras de Catarina Travancinha, Radioncologista no Hospital CUF Descobertas e no Hospital CUF Tejo, que afirma que “a radioterapia é um pilar importantíssimo no tratamento da doença oncológica”, acrescentando que “o seu benefício é praticamente transversal a todos os tipos de cancro”. A especialista explica que a radioterapia pode ser utilizada em momentos diferentes do percurso de tratamento do cancro. O doente pode fazer radioterapia antes de uma cirurgia – e, nesses casos, o objetivo é “tornar a cirurgia mais adequada, menos tóxica, ou seja, com menos morbilidade pós-cirúrgica” – ou depois da cirurgia, “de modo a tratar a doença residual e evitar que a doença reapareça”. 

radioterapia também pode ser aplicada ao tratamento da doença oncológica de forma isolada ou em conjunto com os chamados tratamentos sistémicos – quimioterapia e imunoterapia – sem necessidade de recorrer a cirurgia. Neste campo, Catarina Travancinha destaca a complementaridade existente entre radioterapia e imunoterapia, um dos mais recentes avanços no tratamento do cancro. A radioncologista esclarece que, tratando-se a imunoterapia de uma terapêutica que “ajuda a estimular as defesas do organismo para ser o próprio sistema imunitário a combater o cancro”, a radioterapia contribui com aquilo a que os especialistas chamam de “efeito sinérgico”. Isto significa que a morte celular do tumor, provocada pela radioterapia, “liberta substâncias tumorais estranhas ao organismo que são reconhecidas e identificadas pelo sistema imunitário, levando a uma maior visibilidade do tumor e, consequentemente, a uma maior resposta imune, utilizando as próprias células do sistema imunitário” que foram estimuladas pela imunoterapia.

Catarina Travancinha

Evolução permite individualização do tratamento

Da mesma forma que a imunoterapia é o reflexo da evolução farmacológica, também na radioterapia temos assistido a uma evolução notável, particularmente na sua componente tecnológica. Paulo Costa, Coordenador de Radioncologia no Instituto CUF Porto, acredita que a diferenciação que se tem alcançado com equipamentos de ponta faz com que, atualmente, “seja possível adaptar o melhor tratamento mediante a patologia oncológica”. Por sua vez, o conhecimento ganho sobre a interação entre a radiação, a biologia e a radiossensibilidade tumoral tem permitido adaptar as doses e o número de sessões a cada caso em particular, “com reflexo direto na qualidade de vida do doente”. 

Catarina Travancinha elenca os benefícios destes avanços para as técnicas e equipamentos utilizados na radioterapia: “Permitem tratar de forma mais precisa volumes tumorais cada vez mais limitados e com doses cada vez mais elevadas, tornando os tratamentos mais eficazes, seguros e cómodos para o doente.” Essa comodidade está relacionada também com a redução do número de tratamentos que, há alguns anos, podiam chegar a 30 ou 40 sessões e hoje se podem reduzir a menos de cinco – ou até a uma única sessão, durante a cirurgia para retirar o tumor. 

Na última década, segundo Gonçalo Fernandez, “o maior desenvolvimento prende-se com a radioterapia guiada por imagem (IGRT), que permite identificar e localizar os alvos terapêuticos e as estruturas saudáveis antes de cada sessão de tratamento”. O responsável qualifica este recurso como “indispensável para qualquer tratamento que realizamos em Radioncologia na CUF, uma vez que permite adaptar o mesmo, reduzir margens de segurança e expor o doente a uma menor dose de radiação”. 

Ao recorrer a tratamentos de radioterapia guiados por imagem, os especialistas têm “uma melhor perceção do que se está a tratar, mas também do que se quer proteger, o que diminui a margem de radiação nos tecidos saudáveis à volta do tumor”, refere Catarina Travancinha. Desta forma, acrescenta a médica, “é possível tornar o tratamento menos tóxico e com menos efeitos secundários”, preservando as áreas não atingidas pela doença oncológica.

Outra grande evolução é a radioterapia de intensidade modulada – também denominada IMRT ou VMAT – que ajuda a “variar a intensidade de um mesmo feixe de radiação durante o tratamento, o que permite tratar com doses diferentes volumes diferentes do tumor”, refere Catarina Travancinha. A técnica torna possível “minimizar a dose [de radiação] que os órgãos saudáveis recebem”, o que também contribui para minimizar os efeitos secundários do tratamento, diminuir a toxicidade e preservar os tecidos saudáveis.

Existe ainda uma outra técnica que tem vindo a revolucionar o tratamento do cancro: a braquiterapia – muito utilizada no cancro da próstata, mas também no cancro da mama, no cancro ginecológico e no cancro da pele –, que permite elevar substancialmente a dose terapêutica. Segundo a especialista, “funciona como uma radioterapia interna, que pode substituir ou complementar tratamentos cirúrgicos ou de radioterapia externa, de modo a escalonar a dose de uma maneira segura”, explica Catarina Travancinha. 

O recurso a estas técnicas de radioterapia, cada vez mais especializadas, veio revolucionar o tratamento de alguns tumores. Em termos práticos, de acordo com a Radioncologista, teve um impacto significativo no tratamento do cancro do pulmão, “com benefício de cerca de 30% na sobrevivência a longo prazo e cerca de 10% de menor toxicidade grave”. Já no cancro da mama, o uso de técnicas mais inovadoras permitiu, entre outros ganhos, “a redução do risco de efeitos secundários até 15%, nomeadamente na pele, no pulmão e no coração”. Por sua vez, no carcinoma da próstata, “a radioterapia de intensidade modulada tem conseguido diminuir significativamente os efeitos secundários agudos e tardios, como queixas urinárias e gastrointestinais”. No caso do cancro de cabeça e pescoço, Gonçalo Fernandez lembra que “a tecnologia de ponta aplicada à radioterapia tem um papel determinante na cura ou prevenção de recidivas”.

Inovação tecnológica dita mais eficácia com menor toxicidade

O avanço das técnicas sustenta-se no desenvolvimento tecnológico de equipamentos de radioterapia observado na última década. Atenta a este fenómeno com benefícios no tratamento do cancro, a CUF tem apostado nas mais recentes e inovadoras tecnologias.

É o caso do CyberKnife M6, que se encontra disponível no Instituto CUF Porto. Dirigido à radiocirurgia e à radioterapia robótica, este equipamento “distingue-se pela versatilidade na colocação dos feixes na região que queremos tratar, que muitas vezes não pode ser tratada em equipamentos convencionais, seja pela sua localização ou por já ter sido submetida a outros tratamentos”, explica Paulo Costa.

O especialista acrescenta que é através do braço robótico do equipamento que é possível “atingir posicionamentos que nenhuma outra tecnologia consegue”, o que alarga as soluções de tratamento e possibilita o reforço das doses de radiação. “É um equipamento único quanto à versatilidade que permite introduzir nestes tratamentos!”

Paulo Costa

Também existe o acelerador linear VERSA HD, instalado no final de 2018 no Hospital CUF Descobertas, que permite a execução de várias técnicas de tratamento e tem como um dos aspetos mais diferenciadores o facto de “estar acoplado a um robusto sistema de imagem guiada não invasiva que permite conduzir os tratamentos de radioterapia através da superfície corporal do doente em tempo real”, conta Gonçalo Fernandez. Desta forma, é possível o tratamento em inspiração forçada, um procedimento utilizado em doentes de cancro da mama esquerda para evitar a radiação no pulmão e no coração. “Esta modalidade de imagem também nos permite guiar os tratamentos de radioterapia estereotáxica ou radiocirurgia sem a necessidade de métodos invasivos, possibilitando mais conforto sem perder a precisão e eficácia.”

O especialista identifica ainda como mais-valia a mesa robotizada Hexapod, que “permite a correção submilimétrica de desvios de posicionamento antes de cada sessão de radioterapia, gerando maior precisão e confiança na administração dos tratamentos”. Na senda da melhor oferta terapêutica para o doente, a CUF também disponibiliza no Centro Gamma Knife, no Hospital CUF Tejo, um equipamento único em Portugal, exclusivamente dedicado a tratar lesões cerebrais como alternativa ou complemento a uma cirurgia: o Gamma Knife Perfexion. Nas palavras de Gonçalo Fernandez, este é “um tratamento realizado numa única sessão, com elevada segurança, precisão e efeitos secundários praticamente inexistentes, podendo o doente retomar a sua atividade habitual no dia seguinte sem necessidade de interromper outras terapêuticas em curso”.

De acordo com o especialista, “o Centro Gamma Knife concentra uma equipa multidisciplinar muito especializada e dedicada, tendo uma casuística de tratamentos única a nível nacional, com uma vasta experiência em patologia benigna e maligna”. A isto, acrescenta-se o facto de a rede CUF partilhar entre si o conhecimento das equipas e recursos tecnológicos, permitindo a referenciação do doente a partir de qualquer hospital CUF.

A mais recente aposta tecnológica da CUF Oncologia chegou já este ano, em outubro, ao Hospital CUF Descobertas e é o novo acelerador linear INFINITY, que veio reforçar a capacidade de resposta da unidade. Gonçalo Fernandez explica que se trata de um equipamento “que permite realizar tratamentos rápidos e com o mesmo nível de precisão do VERSA HD”.

Todos estes avanços tecnológicos são, na perspetiva de Paulo Costa, uma das “chaves do sucesso” na medida que têm vindo a melhorar o prognóstico no tratamento das doenças oncológicas. Apesar do crescente aumento no número de casos de cancro em Portugal, dispor de melhores meios de diagnóstico, terapias sistémicas mais eficazes, técnicas de radioterapia mais precisas e menos tóxicas e equipas multidisciplinares especializadas e diferenciadas tem levado a um aumento na sobrevivência dos doentes oncológicos para números que, diz o especialista, “antes pareciam uma utopia, mas hoje já são uma realidade”.

 

Fotografias de António Azevedo e Diana Tinoco (4SEE)

Marta Flores
Revista +VIDA

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Publicado a 02/11/2022