A sua saúde em primeiro plano
Há pouco mais de um ano, Portugal vivia ainda em aparente normalidade. As ruas tinham o movimento habitual, os engarrafamentos repetiam-se à hora de ponta e os locais turísticos fervilhavam com visitantes estrangeiros. Contudo, em fevereiro de 2020, entre as equipas médicas da CUF, a realidade já era outra, tendo em vista a preparação dos hospitais da rede para a pandemia que, já se sabia, chegaria, desconhecendo-se, no entanto, a dimensão e o impacto que acabaria por ter no país. “Pelo que se estava a passar na Europa, tínhamos a noção do que poderia acontecer”, recorda Maria de Fátima Grenho, Coordenadora de Medicina Interna no Hospital CUF Tejo. “Eu e a minha equipa reunimos virtualmente com colegas de Itália e começámos a preparar-nos para uma situação como a que ocorreu em Espanha e Itália.” Este foi apenas o primeiro momento de um esforço combinado que levou a CUF a alocar quatro hospitais para o tratamento de doentes com COVID-19 – Hospital CUF Tejo, Hospital CUF Porto, Hospital CUF Descobertas e Hospital CUF Sintra –, juntando-lhes ainda uma nova Unidade de Hospitalização Domiciliária. No total, a rede CUF chegou a ter 137 camas reservadas para a resposta à COVID-19, 26 das quais em unidades de cuidados intensivos, tendo recebido mais de 200 doentes encaminhados pelo Serviço Nacional de Saúde.
O Hospital CUF Infante Santo – hoje Hospital CUF Tejo – “foi um dos primeiros a ser chamado ao combate à pandemia”, recorda Maria de Fátima Grenho, ressalvando que a equipa desta unidade já se encontrava, em antecipação, a adaptar as suas instalações, a treinar elementos e a criar protocolos antes mesmo de ser anunciado o primeiro estado de emergência. Adicionalmente, profissionais de saúde de outras unidades CUF reforçaram as equipas do Hospital CUF Infante Santo. Um apoio que permitiu garantir uma resposta adequada às necessidades apresentadas por um dos maiores e mais exigentes desafios colocados ao sistema nacional de saúde. “Era tudo novo para nós, pelo que fomos estabelecendo os protocolos de acordo com o que se estava a fazer internacionalmente. Exigiu uma preparação muito grande.” Felizmente, ao contrário do que se temia, na primeira vaga só uma minoria dos doentes internados necessitou de cuidados intensivos.
A situação revelou-se bem distinta em 2021, por ocasião da nova grande vaga da doença. “Em janeiro, houve alturas em que chegámos a ter praticamente todas as camas ocupadas”, revela Maria de Fátima Grenho. “Ocupámos um piso inteiro de internamento, cerca de 70 camas, para o tratamento da COVID-19.” A responsável recorda, aliás, que chegaram a ter famílias inteiras internadas. “O lado positivo foi o facto de muitos doentes terem recuperado, apesar das horas de angústia em que tememos que isso pudesse não acontecer.”
Adicionalmente, com as 14 camas da Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes (UCIP) do Hospital CUF Tejo dedicadas a estes doentes, foi necessário criar uma nova UCIP para atender os restantes doentes – porque, como é importante lembrar, há vida (e doença) além da COVID-19.
Para Maria de Fátima Grenho, as diferenças entre as duas vagas foram colossais, inclusive nos tratamentos adotados. “Na mais recente vaga, através de publicações e casuística, aprendemos que podíamos tratar estes doentes recorrendo a terapêutica com corticoides e, eventualmente, a heparina de baixo peso, um anticoagulante eficaz na prevenção de fenómenos trombóticos.”
Não obstante, a verdade é que se em março de 2020 até houve doentes que puderam ficar em casa com vigilância, o ano de 2021 trouxe situações mais graves. “Por vezes os doentes chegavam ao Atendimento Médico Permanente com saturações de oxigénio muito baixas, sem sequer terem noção de que estavam com dispneia (dificuldade respiratória). Apenas se queixavam de cansaço. As pneumonias também eram mais graves e, ao contrário do que aconteceu em 2020, tivemos de escalar a terapêutica com oxigénio antes de os doentes passarem para os cuidados intensivos.”
João Froes • Doente tratado à COVID-19 no Hospital CUF Tejo
João Froes foi um destes doentes. Com 66 anos e uma vida ativa, sempre se considerou saudável. Por isso, quando adoeceu com COVID-19, em conjunto com a mulher e um dos filhos, não se sentiu demasiado preocupado. Os sintomas do filho começaram num domingo; os de João e da sua mulher na terça-feira seguinte. “Todos sentíamos tosse seca, mas a minha mulher e o meu filho também tinham febre.” Os três tomaram paracetamol e, com a exceção de João, os sintomas foram melhorando e desapareceram em poucos dias. “Já o meu caso foi completamente diferente. Quase uma semana depois, a minha febre subiu para 38,5°C e comecei a sentir-me muito cansado. Entretanto, também já tinha começado a sentir alterações ao nível do paladar.” Com a sensação de fadiga a aumentar, ligou para a Saúde 24 e deslocou-se a um hospital lisboeta para fazer análises e um raio X. “Passei o resto dessa semana sempre com febre, que nunca baixava dos 38°C, cansado e sem me sentir bem.”
Depois de quase desmaiar numa dessas noites, a sua família contactou o INEM. “Os bombeiros fizeram-me uns testes e disseram que os níveis de oxigénio não eram preocupantes, por isso decidi manter-me em casa.” No entanto, o seu estado de saúde teimava em não melhorar, pelo que a família acabou por levá-lo para uma reavaliação no Atendimento Médico Permanente do Hospital CUF Tejo. “Estava psicologicamente em baixo, porque tinha visto a minha mulher e o meu filho a terem um percurso completamente diferente, mas a minha expectativa era de que o médico se limitasse a alterar-me a medicação e me mandasse de volta para casa.” Não foi o que aconteceu. Quando chegou à unidade da CUF, João encontrava-se já com uma pneumonia bilateral e saturações de oxigénio muito baixas. “Quando o João deu entrada, tinha saturações de 70 (o normal é 98), mesmo com suplementação de oxigénio de três litros por minuto”, recorda Maria de Fátima Grenho, que acompanhou o caso. “Nestes doentes, o que pretendemos é que estejam acima de 94-95, caso contrário entrarão em exaustão e precisarão de suporte respiratório”, explica a médica, recordando que “o valor baixo do João levou à necessidade de recurso a uma máscara de alto débito – que permite obter a concentração máxima de oxigénio (100%)”.
João acabou por ficar nove dias internado na CUF. Além do apoio respiratório, o tratamento consistiu na administração de medicação para prevenir e combater a possibilidade de ficar imunodeprimido ou sujeito a infeções bacterianas, situações que podem ocorrer em doentes infetados com uma doença viral. “O grau de comprometimento pulmonar é que determina a evolução, mas existe uma janela, entre os oito e 12 dias de doença, em que a evolução pode surpreender, por isso estes doentes têm de ter um acompanhamento médico e de enfermagem quase constante”, indica Maria de Fátima Grenho.
João Froes não poderia sentir-se mais satisfeito com a forma como foi assistido: “O serviço prestado foi excelente a todos os níveis. Senti-me seguro e acompanhado no meu dia a dia.”
Ao longo do internamento, manteve o contacto diário com a família, por telefone. “O facto de não podermos receber visitas de familiares e sermos acompanhados por profissionais a quem só vemos os olhos será, talvez, o lado mais estranho de toda esta doença”, confessa. Curiosamente, o internamento de João também acabou por servir para reatar uma amizade antiga. “Percebi que conhecia o meu colega de quarto, embora já não o visse desde 2003. Foi positivo, porque nos apoiámos um ao outro durante todo o tempo em que lá estivemos.” E chegaram até a haver momentos mais descontraídos, motivados pelo futebol: “Enquanto lá estivemos, o Sporting jogou duas vezes – e ganhou nas duas. Num dos jogos, a vitória chegou no último minuto. Devemos ter dado um salto na cama ao celebrar.”
Quando regressou a casa, João continuou a medicação durante três semanas e manteve a ginástica respiratória. As insónias também marcaram os seus primeiros dias em casa. “Mas agora está tudo a evoluir bem. Já tive uma consulta de pneumologia e volto a fazer exames em breve”, revela João, que recuperou peso e massa muscular, voltou a respirar normalmente e até já regressou ao escritório da empresa de distribuição de filmes que criou em 2012. “Ao fim de uma semana em casa, comecei a vir todos os dias ao escritório, um bocadinho, e atualmente já retomei a vida normal.”
Fotografias © Raquel Wise (4SEE)