Saúde no masculino
Com uma maior propensão para doenças cardiovasculares e níveis de incidência superiores quando estão em causa patologias como a obesidade, os homens têm, à partida, uma esperança de vida inferior à das mulheres. Estas e tantas outras patologias podem, contudo, ver os seus riscos diminuírem através da adoção de comportamentos preventivos e um acompanhamento médico regular, feito de uma forma holística, como a que é proposta na CUF.
De acordo com o relatório “Estado da Saúde na União Europeia: Portugal”, os homens são mais propensos a classificar o seu estado de saúde como bom (56%) do que as mulheres (45%). Uma postura otimista que talvez explique a tendência para recorrer ao médico apenas em situações agudas. Não obstante, na generalidade, os homens vivem menos do que as mulheres. Em Portugal, a esperança média de vida até registou um aumento superior a cinco anos durante as primeiras duas décadas do século XXI, passando de cerca de 77 anos em 2000 para cerca 82 anos em 2019, mas se as mulheres portuguesas têm atualmente uma esperança média de vida à nascença de 84 anos, no caso dos homens portugueses esta não vai além dos 78 anos.
A explicar esta discrepância estão vários fatores, entre os quais os fisiológicos. “Nos homens, sobretudo em idades mais jovens, existe mais patologia cardiovascular. Isto acontece, por um lado, porque as mulheres têm a questão hormonal que as protege”, explica Vanessa Mendes, Coordenadora de Medicina Geral e Familiar e da Unidade da Família do Hospital CUF Tejo. Tabagismo, excesso de peso, obesidade, consumo de álcool e a falta de prática regular de atividade física são aspetos que vêm agravar a já maior propensão para a doença cardiovascular. “Até aos 50 anos, as doenças cardiovasculares afetam mais os homens. Por sua vez, a mortalidade em idades mais jovens está mais associada a enfartes e acidentes vasculares cerebrais (AVC)”, lembra a médica. De facto, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), as mortes de residentes em Portugal por enfarte agudo do miocárdio em 2020 atingiram principalmente os homens, numa relação de 143 óbitos para 100, quando comparados com as mulheres.
Outro aspeto que pode contribuir para uma menor longevidade é a resistência masculina em ir ao médico. De acordo com um estudo de uma instituição académica americana, apenas metade dos homens costumam fazer exames de rotina. Esta é, felizmente, uma situação que parece estar a mudar. “Nos últimos tempos temos assistido a uma mudança de paradigma e temos tido uma maior procura no sentido da prevenção”, refere Vanessa Mendes. “A Medicina Geral e Familiar tem como principal foco a prevenção para a saúde e, numa primeira fase, os doentes procuram-nos para isso.” Para a médica, é essencial um acompanhamento médico regular ao longo de toda a vida, mesmo sem a presença de queixas. “A partir dos 40 é aconselhável uma avaliação anual ou de dois em dois anos pelo seu médico de Medicina Geral e Familiar, contudo caso existam antecedentes familiares que confiram maior probabilidade de ter doença a avaliação deve ser realizada em idades mais jovens. O objetivo é a realização de uma avaliação médica e de eventuais exames de rotina que permitem detetar alterações e atuar de forma preventiva. No caso da doença cardiovascular significa muitas vezes apenas alterar estilos de vida com a promoção da prática de exercício físico, a cessação tabágica, a adoção de medidas dietéticas com restrição de gorduras e o controlo do peso.
Ultrapassada a barreira dos 50 anos, embora as doenças cardiovasculares continuem a ser as que mais afetam a população masculina, a principal causa de morte entre os homens são as neoplasias. Os cancros da próstata (21%) e colorretal (20%) são, a par com o do pulmão, os mais frequentes na população masculina.
Para Vanessa Mendes esta é uma realidade que torna ainda mais importante a vigilância. “Na Medicina Geral e Familiar apostamos muito na prevenção e, como tal, a partir dos 50 anos é fundamental a realização de exames de rastreio - por exemplo, o despiste do cancro colorretal, com colonoscopia ou análise das fezes”, defende. No caso da prevenção do cancro da próstata, apesar de não apenas de não estar preconizado como rastreio populacional, pode revelar-se importante a realização da análise ao antigénio prostático específico (PSA), a partir dos 50 anos. No que refere à parte respiratória, a especialista recomenda que “todos os fumadores de longa duração e inclusive ex-fumadores com cargas tabágicas elevadas, dada a elevada probabilidade de desenvolver doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), devem fazer uma avaliação da sua função respiratória, por exemplo, através de uma espirometria. Nas pessoas a partir dos 50 com elevado risco de cancro do pulmão, também muito associado ao consumo de tabaco, a CUF desenvolveu o “Programa de Deteção Precoce do Cancro do Pulmão” para o qual os doentes que cumpram determinados critérios devem ser encaminhados. Para Vanessa Mendes “Os profissionais de Medicina Geral e Familiar têm uma posição privilegiada no acompanhamento das pessoas, ao longo de toda a sua vida, sendo verdadeiros gestores da saúde, desde a sua promoção ao seguimento de várias doenças. E no caso de identificarmos uma doença que necessita de avaliação por outra especialidade funcionamos como elo de ligação, de ponte, com outros colegas, o que nos permite oferecer o melhor tratamento no menor tempo possível”.
Fotografias de José Fernandes 4SEE