Lidar com a doença sem medos
Conheça o caso de Teresa Silva Ferreira, que não se deixou atemorizar pela pandemia e foi atempadamente diagnosticada e tratada a um cancro gástrico.
Teresa Silva Ferreira está habituada a encarar a vida de frente. Com 78 anos, criou seis filhos em Vilar Formoso, onde nasceu. Sempre foi uma mulher trabalhadora e nunca deu demasiada importância às doenças – embora tenha o cuidado de manter sempre um check-up anual. “Aos 47 anos fiz uma histerectomia. Também sofro da tiroide. E quando era mais nova tinha fortes dores no estômago. Mas, fora isso, nunca tive outros problemas de saúde”, conta. Não obstante, em 2020, surgiram-lhe sintomas novos. “Foi muito estranho. O estômago não me doía, mas eu comia e, passado um bocado, ficava novamente com a sensação de estar cheia de fome. Esta acabava por passar mesmo que eu nem comesse nada.” Marcou uma consulta assim que foi possível, foram-lhe prescritas uma endoscopia e uma colonoscopia e, no Hospital CUF Viseu, obteve o diagnóstico do que a afligia: cancro gástrico.
“Quando a Teresa veio à consulta, o cancro encontrava-se já no estadio II clínico. No entanto, no cancro gástrico, nem sempre os exames de imagem nos permitem avaliar a real extensão de doença. É por isso que, além da endoscopia e da TAC torácica, abdominal e pélvica, a maior parte dos doentes faz também uma laparoscopia de estadiamento – uma cirurgia minimamente invasiva – para avaliar localmente e perceber se existem outros locais de metastização”, explica Nuno Bonito, Oncologista no Hospital CUF Coimbra e no Hospital CUF Viseu.
O processo evoluiu rapidamente. “Na semana seguinte, ligaram-me a dizer que seria operada. Arranjei as minhas coisinhas e fui”, diz Teresa, que encarou toda a situação de forma estoica. “Não tive medo. Mesmo quando me disseram que era cancro, não entrei em pânico. Não chorei. Nem sequer pensei na pandemia. Aceitei tudo com muita fé e tem corrido tudo muito bem.” Nem o início da quimioterapia, em novembro, a assustou em demasia. “Fui com um certo receio, é claro, mas não me custou. Fui muito bem tratada no hospital. As pessoas são cinco estrelas!”
O tempo é um fator crítico
“Este caso é um exemplo vivo de que, mesmo em contexto de pandemia, não devemos negligenciar sinais e sintomas. Devemos recorrer ao médico assistente e fazer os exames necessários”, explica Nuno Bonito. “O período de tempo que medeia entre o diagnóstico e a primeira atitude terapêutica é a chave para o sucesso.” Na CUF, o protocolo determina que não passem mais de cinco dias úteis desde a referenciação até à consulta de primeira vez; cinco dias úteis será o tempo máximo que medeia entre a consulta de primeira vez e a apresentação em reunião de decisão terapêutica; e outros cinco dias entre essa apresentação e o início do tratamento.
Na CUF é sempre privilegiada a estratégia multidisciplinar, por grupos de patologia, explica o Oncologista. Protocolos estruturados, centralizados no doente, preconizados por grupos multidisciplinares, são necessários para melhorar o diagnóstico atempado e minimizar os riscos para o doente. “Neste momento, a Teresa está quase recuperada, em fase de controlo clínico”, garante o Oncologista. Teresa manterá consultas trimestrais, depois passará a um controlo semestral, transitará daí para um controlo anual (até cinco anos) e, nessa altura, a expectativa é que tenha alta.
Consciente de tudo isto, Teresa Silva Ferreira só lamenta ainda não ter arranjado forças para tratar do seu jardim. “Mas faço a minha vida normal. Evito carregar pesos, mas posso ir a todo o lado. Posso dizer que estou bem.”
A sobrevivência dos doentes com cancro digestivo melhorou drasticamente nos últimos 15 anos.
“Consequência de estratégias personalizadas no que diz respeito às terapêuticas multimodais, bem como à melhor seleção de doentes e das terapêuticas sistémicas”, explica Nuno Bonito. Abordagens visando a angiogénese, microambiente e interações do estroma são fundamentais para o sucesso do tratamento.
“O recurso à biópsia líquida no decurso do tratamento permite uma avaliação em tempo real do status molecular da doença, bem como avaliar a emergência de novos alvos terapêuticos e/ou de mecanismos de resistência.”
Fotografia © Carla Tomás 4SEE