Adriana Chaves
Adriana Chaves, jovem cavaleira portuguesa, sofreu uma rutura completa do ligamento cruzado anterior do joelho direito na sequência de uma queda do seu cavalo. Foi submetida a uma intervenção cirúrgica, cumpriu um plano de fisioterapia e, seis meses depois, estava de volta aos treinos.
Era suposto ter sido apenas mais um treino de preparação para o Campeonato da Europa de Dressage, onde Adriana Chaves ia competir pela primeira vez no escalão júnior. No entanto, nesse dia de julho de 2020, o cavalo Zéfiro recusou seguir as indicações. “Por vezes, há desentendimentos entre o cavalo e o dono”, diz a jovem, atualmente com 18 anos. A teimosia do animal acabou por fazer com que ambos caíssem. Zéfiro saiu ileso, mas a cavaleira não.
“Ele caiu sobre mim e, na altura, a minha reação foi levantar-me de imediato”, recorda. “A perna doía-me muito e não sentia força nela, mas não imaginei que o problema fosse tão grave.” A cavaleira já tinha sofrido outras quedas, mas nunca as consequências foram tão complicadas. Um braço partido tinha sido, até então, a sua lesão mais preocupante.
Adriana Chaves foi transportada até ao hospital, onde realizou um raio X. “Disseram-me que não tinha nada partido e encaminharam-me para a Ortopedia.” Contudo, como as dores não acalmavam, marcou uma ressonância magnética para o dia seguinte na CUF. O exame revelou uma rutura do ligamento cruzado anterior no joelho direito, pelo que Ricardo Antunes, Ortopedista no Hospital CUF Sintra, decidiu indicar o tratamento cirúrgico.
A rutura do ligamento cruzado anterior é uma das lesões mais comuns em praticantes de desportos que impliquem desacelerações, mudanças rápidas de direção, contacto com bola ou quedas no solo na sequência de saltos. O futebol, o andebol e o basquetebol são as modalidades em que é mais prevalente, mas também pode ocorrer noutras. “Esta incidência relativamente à lesão traumática pode acontecer em qualquer tipo de modalidade”, explica Daniel Pinha Cardoso, Fisiatra no Hospital CUF Sintra. “Não é típico que montar a cavalo, por si só, condicione este tipo de lesões.” O médico esclarece ainda que, devido à biomecânica e à anatomia pélvica, as mulheres têm maior predisposição para sofrerem este tipo de lesão do que os homens. “Por causa do canal do parto, a bacia é mais larga e isso condiciona uma maior inclinação interna do osso do fémur. Por sua vez, isso aumenta o ângulo interno do joelho, o que constitui um fator que predispõe para a entorse do joelho, nomeadamente após o salto, na receção ao solo ou nas mudanças de direção, quando é necessário fazer inversão de direção.”
“Os médicos e fisioterapeutas disseram-me sempre que ia voltar a fazer a minha vida normal.”
Reabilitação pré-operatória é essencial
Adriana Chaves foi submetida a uma ligamentoplastia do ligamento cruzado anterior, em setembro. Antes, cumpriu um período de reabilitação pré-operatória. “Este passo é essencial”, sublinha Daniel Pinha Cardoso. “Um ortopedista prefere operar um joelho que já não esteja muito inflamado. Se a cirurgia for realizada sem um trabalho prévio de fisioterapia, pode haver atrofia muscular e uma diminuição do controlo postural do joelho.” Ricardo Paulino, Coordenador Técnico de Medicina Física e Reabilitação do Hospital CUF Sintra, acrescenta que “o objectivo principal, é o controlo da inflamação que existe no joelho nesta fase. Com isso existirá um menor derrame articular o que irá facilitar uma melhoria gradual do controlo funcional de todo o membro inferior.”
Depois da cirurgia, seguiu-se a reabilitação pós-operatória na Unidade de Medicina Física e Reabilitação do Hospital CUF Sintra. “Começamos com uma consulta de avaliação em termos médicos. Depois, o doente faz o número de sessões estipuladas com o fisioterapeuta responsável pelo seu processo”, explica Ricardo Paulino. “A primeira fase, é essencialmente de adaptação a uma nova condição. Existe a necessidade de controlar o edema que é normal após a cirurgia, e convergir para a normalização da articulação do joelho. À medida que o joelho vai reagindo favoravelmente, vamos colocando o pé no chão e realizando mais exercícios funcionais. Começam a aparecer a bicicleta, os tapetes rolantes, os pesos, e o doente começa a ver que está a fazer cada vez mais atividade funcional.”
Além dos exercícios realizados em contexto hospitalar, foram prescritos outros para a cavaleira realizar em casa. “No Hospital CUF Sintra, temos uma aplicação especializada, profissional, de fisioterapia, que permite ao doente fazer atividade monitorizada por fisioterapeutas a partir de casa, de modo a trabalhar também fora do hospital”, refere Daniel Pinha Cardoso.
Adriana Chaves acabou por ter alta clínica, seis meses depois da cirurgia, e retomou de imediato os treinos. No verão de 2021, participou no Campeonato da Europa de Dressage, realizado em Oliva, Espanha, e ficou em quarto lugar no escalão júnior. Um resultado que a deixou verdadeiramente feliz, em especial tendo em conta a gravidade da lesão e o período de paragem forçada.
Ricardo Paulinho não duvida que o período pré-operatório, em que foi explicado à cavaleira de que forma ia evoluir a sua reabilitação, foi fundamental para este sucesso. “O processo de pré-operatório envolve muito a educação do doente. É-lhe explicado o que vai acontecer e programa-se o pós-operatório, o que faz com que o doente esteja muito mais preparado para todo o percurso. Há um envolvimento maior. O doente começa a sentir-se mais confortável, até porque toda a equipa fala a mesma linguagem”, afirma o Fisioterapeuta.
Adriana Chaves confirma: “Eu sabia que não seria fácil. Estive muito tempo parada. Tinha muita vontade de montar, mas havia momentos em que desanimava. No entanto, os médicos disseram-me sempre que ia voltar a fazer a minha vida normal, e a verdade é que, em março, já estava a montar de novo.” Por tudo isto, a jovem cavaleira não hesita em elogiar o acompanhamento de que foi alvo: “Adoro a CUF. O atendimento dos médicos e dos fisioterapeutas é de cinco estrelas!”
O que é?
O ligamento cruzado anterior é uma estrutura fibrosa, localizada na região interna do joelho, que liga o fémur à tíbia. Mede, em média, 32 milímetros de comprimento e 10 milímetros de largura. A sua função contribui para a estabilidade rotacional e antero-posterior do joelho. Na maior parte das vezes, a rutura ocorre quando há uma torção do joelho durante a prática desportiva.
Quais são os sintomas?
Quando acontece a rutura, o doente sente um estalo forte no joelho e uma dor intensa, ficando com a mobilidade comprometida. Em poucas horas, o joelho incha e regista-se um derrame articular hemático (acumulação de sangue na articulação). O doente tem dificuldade em apoiar o pé no chão ou em caminhar sem o apoio de canadianas. Se não for tratada, a rutura do ligamento cruzado anterior pode originar uma artrose precoce do joelho.
Como é tratada?
No caso de doentes menos ativos ou que pratiquem desportos que exijam menos esforço do joelho (como ciclismo ou corrida), a prescrição de analgésicos e anti-inflamatórios, juntamente com um plano de fisioterapia, serão suficientes. Por sua vez, os atletas de alta competição e os doentes que sintam o joelho instável no dia a dia terão de ser submetidos a uma intervenção cirúrgica. Segue-se um período de recuperação com, no mínimo, seis meses, durante o qual a fisioterapia é essencial para recuperar a força muscular e a flexibilidade dos ligamentos do joelho.
Daniel Pinha Cardoso
Fisiatra no Hospital CUF Sintra
Fotografias de Rodrigo Cabrita (4SEE)