Cancro do cólon antes dos 50 anos
Aos 37 anos, João faz parte de uma tendência crescente que se tem vindo a verificar há alguns anos, o aparecimento de cancro colorretal antes dos 50 anos, idade em que habitualmente se inicia o rastreio desta doença oncológica.
Em dezembro de 2020, João teve COVID-19 e na altura começou a perder peso, sentia a barriga inchada, tinha dores e, num primeiro momento, considerou que estas alterações seriam efeitos colaterais da infeção pelo vírus SARS-Cov 2. Era altura do Natal e percebeu que comia e sentia-se demasiado cheio rapidamente, indisposto e continuava a perder peso.
“Aos 37 anos pensamos que nada nos acontece, somos saudáveis, temos planos, temos tanto para fazer”
Em janeiro de 2021 decidiu começar a procurar ajuda médica. Depois de análises, exames e consultas em três médicos diferentes, todos acabavam por chegar à mesma conclusão, o João não apresentava nada que justificasse aquele mal estar. Chegou a vir ao Atendimento Permanente na CUF, onde foram realizados mais exames e análises, mas nada indicava valores fora dos parâmetros normais. O João tinha à data 37 anos, estava fora da idade considerada para rastreio do cancro colorretal e não tinha antecedentes familiares de doenças oncológicas que justificassem outro tipo de exames.
Teve então conhecimento da Consulta Pós-COVID na CUF e decidiu marcar para ter uma avaliação mais completa do seu estado. Foi nessa consulta que a médica assistente decidiu prescrever a colonoscopia, mesmo o João não tendo, à partida, os critérios clínicos para a realização deste exame de diagnóstico, nomeadamente de cancro colorretal. Porém o conjunto de sintomas, aos quais se juntava agora a presença notória de sangue nas fezes, suscitou a dúvida e tornou-se necessário solicitar este tipo de exames
“Digo às vezes, que se não tivesse tido COVID, podia ter descoberto isto tarde demais”
O diagnóstico
No dia do exame, João recebeu o diagnóstico. O gastrenterologista explicou-lhe que tinha sido detetado um tumor no cólon e que tinha sido realizada uma biópsia para análise laboratorial, por isso, naquele momento ainda não era possível saber se seria benigno ou maligno. “Saí de lá meio atordoado, só horas mais tarde caí em mim”.
Nesse mesmo dia, foi-lhe explicado que seria marcada consulta com o cirurgião Carlos Leichsenring, especialista em tumores digestivos, nomeadamente do cólon e do reto para que lhe fosse explicado todo o processo que se seguiria.
Mas antes da consulta, havia uma conversa que era necessária ter, contar à família. João ponderou, escolheu as palavras com todo o cuidado para contar aos seus pais, sem alarmismos. A informação foi debitada aos poucos, com especial atenção para com quem a ouvia. Não foi fácil, João era a primeira pessoa da família a ter um cancro e era a última coisa que esperava aos 37 anos. Desde o primeiro momento, sentiu um enorme apoio de todos e isso, deu-lhe ânimo e força para os momentos seguintes.
O plano de tratamento
No dia da consulta, “o Dr. Carlos foi direto, pragmático e explicou-me tudo, eu tinha um tumor maligno no cólon, mas era para se tratar e para não se perder muito tempo. Tinha só duas perguntas, a primeira era há quanto tempo, a segunda, porquê. Acho que todos acabamos por ter estas dúvidas. O Dr. Carlos explicou-me que a ciência e a medicina têm evoluído muito no diagnóstico, no tratamento e em conhecer melhor o cancro, mas ainda não se chegou às conclusões absolutas das causas e de quando começa. Ele suspeitava de que o tumor estivesse a crescer há cerca de seis meses. E em relação ao porquê, bom, o cancro é isto, pode acontecer a qualquer um, não nos devemos culpabilizar.”
O plano foi traçado na consulta, seguiam-se os exames de estadiamento para se conhecer melhor a extensão do tumor e de seguida, a reunião multidisciplinar onde o caso seria discutido pela equipa da Unidade de Cancro Colorretal. “Entre a colonoscopia e a minha primeira cirurgia, foram 12 dias. Foi muito rápido!”
Com a conclusão do diagnóstico completo, a primeira abordagem seria então uma laparoscopia exploratória para se perceber de facto, que tecidos estariam afetados. A equipa multidisciplinar suspeitava que o tumor estivesse localizado e circunscrito apenas a um local, porém os exames realizados, deixavam ainda algumas dúvidas que era necessário clarificar para se seguir o protocolo clínico mais adequado.
Confirmou-se que o tumor estava localizado, por isso, o próximo passo seria iniciar o tratamento com quimioterapia e radioterapia. Foram sete ciclos, dois deles concomitantes, ou seja, quimioterapia e radioterapia realizados no mesmo período de tempo. “Foi duro, tive momentos difíceis, perdi muito peso, mas tive acompanhamento e os médicos também disseram que seria um efeito expectável neste tipo de tratamento.”
João decidiu que faria os tratamentos sozinho, preferia estar entregue à equipa e não trazer para o ambiente hospitalar as suas pessoas. Nunca se sentiu sozinho, dentro ou fora do hospital, tinha sempre a sua rede de apoio. “Costumo dizer que a equipa da CUF são os meus anjos da guarda, desde o Dr. Aires Figueiredo, à equipa do Dr. Carlos e do Dr. António Quintela, o meu oncologista, administrativos, auxiliares e, em especial os enfermeiros, todos foram espetaculares. Senti-me sempre bem acompanhado. Informaram-me sempre de todos os passos, senti mesmo que estava em boas mãos e não quis procurar mais nenhuma opinião. Já sou cliente CUF há, pelo menos, 20 anos e é aqui que me sinto bem”.
O momento mais difícil
Seis semanas após o fim dos tratamentos, passou-se à fase seguinte. Seria necessária uma segunda cirurgia para remoção da zona do intestino onde se localizava o tumor, com a colocação de uma colostomia provisória, que consiste na construção de uma abertura do cólon (intestino grosso) para o exterior.
“Primeiro tive de assimilar que aquilo era temporário. Não foi fácil, é algo que não faz parte do nosso corpo. Temos de aprender a viver com a colostomia.”
Essa aprendizagem começou mesmo antes da cirurgia na Consulta de Estomaterapia e na Consulta de Nutrição. Foi necessária toda uma readaptação de rotinas, aprender a cuidar do estoma, a preparar cada kit dos dispositivos para a colostomia e alterar os hábitos alimentares. “Nós não temos noção do que comemos e tive de cortar muita coisa. Tudo o que eram alimentos processados, gorduras, bebidas alcoólicas, açúcares, acabou. Passei a comer mais carnes brancas, cozidos e grelhados sem ser no carvão.”
Este foi, talvez, o período mais difícil de todo o processo. Porém, João avançou com a certeza de que ia ficar bem, apesar dos dias mais difíceis ou de períodos momentâneos de dúvidas e receios. Decidiu também que o apoio psicológico seria importante, pois garantiu-lhe estratégias para lidar melhor com tudo o que se apresentava ao comissário de bordo, hoje com 38 anos.
A vida profissional foi também fundamental, pois quando se sentia bem e preparado, era a voar que se abstraía da sua condição. Agora falta o último passo, passados seis meses, e no momento desta conversa, João irá realizar a última cirurgia de todo processo, encerrar a colostomia. “A seguir vou manter a minha vigilância periódica com o Dr. Carlos e com o Dr. Quintela e, todos os anos, terei de realizar os meus exames, nomeadamente a colonoscopia e depois, vou seguir a minha vida”.
A mensagem do João
“Aos 37 anos pensamos que nada nos acontece, somos saudáveis, temos planos, temos tanto para fazer, mas gostava de deixar uma mensagem às pessoas da minha idade, e mesmo a todas as pessoas. Não deixem de ir ao médico, não deixem de fazer os vossos exames de rotina, não custa nada. Além disso, estejam atentos aos sinais e sintomas para que rapidamente possam descobrir o que se passa. Ficar descansado e saber que se está bem, é o melhor que podemos ter! Depois, seja qual for o diagnóstico, é fundamental manter a força, uma atitude positiva e estarmos rodeados de quem nos apoie.”
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