Artrite idiopática juvenil:

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A artrite idiopática juvenil é o tipo de artrite mais comum em crianças. Embora crónica, o tratamento permite uma vida normal, sobretudo quando detetada cedo.

O termo artrite idiopática juvenil (AIJ) diz respeito a um conjunto de patologias com três características comuns: são de causa desconhecida (designada idiopática), surgem na infância ou adolescência até aos 16 anos e manifestam-se com inflamação / inchaço nas articulações.

Dentro das doenças que ocorrem na infância, as artrites idiopáticas juvenis são consideradas raras, sendo, ainda assim, a principal causa de doença reumática crónica juvenil. Segundo a Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), “pensa-se que a cada 1000 crianças em idade escolar surja uma com [artrite idiopática juvenil] ou, por outras palavras, que existam tantas crianças com artrite idiopática juvenil como com Diabetes Mellitus Juvenil”.

 

Porque é que acontece?

Nas artrites idiopáticas juvenis, consideradas doenças autoimunes, o nosso sistema imunitário ataca indevidamente as articulações. Em resposta, aumenta a produção de líquido sinovial, provocando inchaço, dor e rigidez das articulações. A inflamação atinge também os tecidos que envolvem a articulação, podendo provocar danos na cartilagem e osso, mas também pode afetar outros tecidos (por exemplo, os olhos).

 

Os sinais de alarme mais comuns são...

A inflamação das articulações pode ocorrer logo no primeiro ano de vida e as suas manifestações dependem das articulações envolvidas e da doença em questão.

  • Dificuldade na marcha e adoção de posições de defesa quando pedem à criança que caminhe, caso a inflamação ocorra na anca, joelho ou tornozelo
  • Dor ao toque, inchaço e menor amplitude de movimento nas articulações afetadas
  • Rigidez matinal, com melhoria dos movimentos ao longo do dia
  • Inflamação do olho (pode ficar vermelho, mas na maior parte das vezes há apenas redução progressiva da capacidade visual, sem outros sintomas)
  • Febre
  • Manchas avermelhadas no corpo ou placas vermelhas e descamativas na pele e/ou couro cabeludo
  • Aumento dos gânglios linfáticos
  • Perda de apetite
  • Alterações do desenvolvimento da criança

 

Como se faz o diagnóstico?

O diagnóstico das artrites idiopáticas juvenis - estabelecido seis ou mais semanas após a doença se manifestar - é clínico, isto é, baseia-se nos sintomas que a criança manifesta e na observação feita pelo reumatologista pediátrico. A realização de análises poderá ser necessária.

 

Os principais tipos de artrite idiopática juvenil

Os fatores que determinam o tipo de artrite idiopática juvenil são o número de articulações afetadas, a presença de manifestações não articulares associadas (febre, manifestações na pele, órgãos internos, olho), a idade da criança e a evolução da doença. Existem seis tipos:

 

1. AIJ oligoarticular

Envolve até quatro articulações nos primeiros seis meses de doença. Afeta maioritariamente o sexo feminino antes dos seis anos.

 

2. AIJ poliarticular

Há envolvimento de cinco ou mais articulações nos primeiros seis meses de doença, com dor e inchaço de um modo simétrico. As queixas podem continuar na idade adulta.

 

3. AIJ sistémica

Ocorre em qualquer idade, sem diferença entre os dois sexos. "As análises de sangue mostram uma marcada inflamação" e "as queixas articulares podem ocorrer meses depois do início da febre, mas o diagnóstico de certeza só é possível quando estas surgem", refere a SPR.

 

4. Artrite psoriática

Ocorre em crianças de qualquer idade com psoríase na pele (placas vermelhas, descamativas, que surgem nos cotovelos, joelhos, nádegas, couro cabeludo) ou que tenham familiar de primeiro grau com a doença.

 

5. Espondilartrites juvenis

Ou AIJ relacionada com entesite, caracteriza-se pela inflamação nos locais de inserção dos tendões no osso (como o tendão de Aquiles no calcanhar).

 

6. AIJ Associada a Doença inflamatória intestinal

Faz parte de um subtipo da anterior e pode manifestar-se com as mesmas queixas de dor lombar e inchaço nas articulações dos membros inferiores. Pode, em certos casos, provocar perda de peso e diarreia crónica.

 

Em que consiste o tratamento?

O objetivo do tratamento é, essencialmente, aliviar a dor, reduzir o inchaço, melhorar a mobilidade e força articular e prevenir danos nas articulações. A terapêutica inclui medicação e exercício físico.

Hoje em dia existem vários fármacos muito eficazes para tratar as AIJs. O tratamento varia consoante a forma de AIJ e pode incluir:

  • Anti-inflamatórios não esteroides, como ibuprofeno e naproxeno
  • Corticoesteroides, muitas vezes administrados através de injeção na articulação afetada
  • Fármacos modificadores de doença (DMARDs), que previnem danos nos ossos e articulações pela supressão do sistema imunitário
  • Agentes biotecnológicos, que permitem ao sistema imunitário controlar a inflamação

 

De acordo com a SPR, “em crianças que estejam totalmente bem e sem inflamação por dois anos, é possível iniciar a diminuição progressiva da medicação e, em alguns casos, suspender a medicação. Cerca de metade dos doentes mantém doença ativa na idade adulta”. Por outro lado, segundo o American College of Rheumatology, nalgumas crianças a artrite idiopática reumatológica entra em remissão.

 

Que consequências pode ter?

Restaurar a normal função da criança é o principal objetivo do tratamento de uma artrite idiopática juvenil, assim como evitar lesões nas articulações e deformação que possam ser causadas pela inflamação. "Na idade pediátrica é fundamental evitar as lesões atuais ou futuras, permitindo o crescimento harmonioso da criança", lê-se no site da SPR.

Algumas das complicações que podem surgir associadas a este tipo de doença:

  • Deformações articulares
  • Deficiente crescimento da mandíbula (micrognatismo)
  • Dificuldades de mastigação (se a articulação têmporomandibular for atingida)
  • Baixo peso e baixa estatura
  • Atrofia muscular
  • Osteoporose

A inflamação ocular, quando não é tratada adequadamente, pode provocar perda de visão, glaucoma e cataratas, que podem causar cegueira.

 

Há formas de prevenir?

Até ao momento, não existem formas de prevenção conhecidas para as artrites idiopáticas juvenis. Deste modo, é fundamental que os pais estejam atentos a possíveis sinais de alarme que possam estar associados a este tipo de doenças. O diagnóstico precoce e avaliação por um médico reumatologista pediátrico favorecem uma melhor eficácia do tratamento. Segundo a SPR, “contribui decisivamente para a prevenção secundária das lesões articulares e para a preservação da qualidade de vida dos doentes afetados”.

 

Viver com artrite idiopática juvenil

Crianças que sofram deste tipo de doença devem manter a sua vida o mais normal possível na escola, nas atividades extracurriculares e nas atividades da família. Para se tornarem adultos saudáveis, devem desenvolver atividades que favoreçam a autonomia e manter atividade física regular.

Fontes

American College of Rheumatology, setembro de 2019

Cleveland Clinic, setembro de 2019

Sociedade Portuguesa de Reumatologia, setembro de 2019

Publicado a 22/06/2022