Vírus Sincicial Respiratório (VSR) nas crianças

Bebés e crianças
Gripes e constipações
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A infeção por VSR pode progredir para bronquiolite ou pneumonia. Mónica Cró Braz, Pediatra, aponta os sinais de alerta e estratégias de prevenção.

Os meses frios de inverno são, em Portugal e em países com um clima temperado como o nosso, os meses típicos de infeção por VSR - Vírus Sincicial Respiratório. Esta doença é sazonal e mais comum nos meses de novembro a março. Contudo, o vírus circula durante todo o ano e podem existir ajustes epidemiológicos, tal como ocorreu no ano de 2021, em que o VSR esteve muito presente no verão, após o confinamento pandémico.

 

Conheça os principais sintomas a que deve estar atento e saiba como ajudar o seu filho a prevenir a infeção pelo Vírus Sincicial Respiratório. Esclareça também as principais dúvidas sobre a “vacina” do VSR, um anticorpo monoclonal aprovado para administração em Portugal na época 2024/2025 com o objetivo de reduzir os casos de infeção, transmissão e internamento por VSR.

 

Sintomas de VSR a que os pais devem estar atentos

O Vírus Sincicial Respiratório provoca, de forma frequente, sintomas de constipação. A infeção por VSR inicia-se por:

  • Congestão nasal
  • Corrimento nasal
  • Tosse

 

Dois a três dias depois o quadro pode progredir para uma infeção respiratória baixa: bronquiolite ou pneumonia viral, com risco de agravamento nos dias seguintes.

 

A criança com bronquiolite por VSR demonstra sinais de dificuldade respiratória tais como:

  • Respiração ofegante
  • Covas no pescoço, entre costelas ou abaixo das costelas
  • Gemido
  • Balanceio da cabeça
  • Abertura das asas do nariz

 

Perante estes sintomas, o bebé deve ser observado num serviço de Atendimento Permanente.

 

Os pais devem também estar atentos a outros sintomas e sinais de gravidade na bronquiolite:

  • Febre alta (ou qualquer valor de febre até aos 3 meses)
  • Prostração
  • Irritabilidade
  • Vómitos
  • Não se alimentar
  • Urinar pouco

 

Uma respiração irregular ou com pausas a respirar e lábios azulados sugerem também um quadro mais grave.

 

Sabia que...

Uma primeira infeção por VSR não confere imunidade duradoura e completa. Os primeiros episódios podem ser mais graves - devido, por exemplo, à idade precoce do bebé. As reinfeções são comuns e podem acontecer na mesma época sazonal, mas tendencialmente menos graves - exceto se for uma criança de risco (por exemplo, com doença crónica).

 

Principais complicações da infeção por VSR em crianças

67% dos internamentos por infeções pelo Vírus Sincicial Respiratório ocorrem em bebés abaixo dos 6 meses.

 

Os bebés com maior risco de contrair a infeção por VSR - e também as formas mais graves da doença - são:

  • Bebés prematuros
  • Bebés imunocomprometidos
  • Bebés com menos seis meses de vida
  • Bebés com doenças crónicas (cardíaca, respiratória, neurológica)

 

Tal deve-se à imaturidade do pulmão, à incapacidade de resposta do sistema imunitário e/ou à fragilidade dos outros sistemas do organismo. Apesar disso, 95% dos internamentos por infeções pelo VSR ocorrem em crianças saudáveis.

 

Como noutras infeções virais, as bactérias podem complicar a infeção por VSR e provocar otite ou pneumonia. A infeção por VSR pode ainda agravar situações de base como, por exemplo, asma ou insuficiência cardíaca. Uma pequena percentagem das crianças pode ficar com sequelas da infeção por VSR. Pode ainda ocorrer mortalidade em 1% dos casos.

 

É necessário internamento hospitalar na infeção por VSR?

As crianças infetadas pelo Vírus Sincicial Respiratório podem precisar de internamento, sobretudo por dois motivos:

  • Dificuldade na alimentação
  • Dificuldade respiratória

 

Apesar de não existir nenhum tratamento específico para o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), estes bebés carecem de apoio para se alimentar (através de sondas ou através de soro endovenoso), bem como, muito frequentemente, de oxigénio. Por vezes, o esforço respiratório é tão grande que o oxigénio não é suficiente para o tratamento. Por isso, pode ser necessário um suporte ventilatório e apoio em unidades com cuidados diferenciados.

 

Prevenção da infeção por VSR

As formas mais eficazes de prevenir a infeção por VSR nas crianças são, à semelhança de infeções por outros vírus respiratórios:

  • Lavagem frequente das mãos
  • Evicção do convívio com pessoas doentes e de locais com grandes aglomerados de pessoas
  • Cumprimento de regras de etiqueta respiratória (como, por exemplo: cobrir a boca e o nariz ao espirrar e tossir; tossir para o braço)

 

Para além disso, a não exposição ao fumo do tabaco e a amamentação são igualmente fatores importantes na proteção do bebé.

 

“Vacina” do VSR

Desde 2013 que, em Portugal, já era administrado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) um anticorpo monoclonal - palivizumab - em crianças de risco (grandes prematuros e bebés com doenças crónicas cardíacas, pulmonares ou neurológicas).

 

Em outubro de 2022 foi autorizado pela Agência Europeia de Medicamentos um outro anticorpo monoclonal - nirsevimab. Este tem sido testado em algumas zonas de países europeus, incluindo a Região Autónoma da Madeira e a Galiza, em bebés nascidos a partir de abril de 2023. Os resultados são promissores na redução da infeção, da transmissão e do internamento por VSR.

 

No verão de 2024 foi aprovado em Portugal este anticorpo monoclonal (nirsevimab) para a época 2024/2025, que vai ser administrado a partir de outubro de 2024 a:

  1. Todos os bebés nascidos entre 1 de agosto de 2024 e 31 de março de 2025
  2. Serão ainda contemplados:
    • Todos os bebés prematuros (< 34 semanas), nascidos entre 1 de janeiro e 31 de julho de 2024
    • Todos os bebés com fatores de risco acrescido para doença grave por VSR (patologia crónica cardíaca, neurológica ou respiratória) que tenham menos de 24 meses até ao dia 30 de setembro de 2024

 

Desde 2023, está igualmente autorizada na União Europeia uma vacina, disponível apenas para pessoas acima dos 60 anos e para grávidas. Neste último caso, através dos anticorpos recebidos pela vacina - que deve ser administrada entre as 24 e 36 semanas de gestação -, a mãe consegue proteger o bebé nos primeiros seis meses de vida.

Publicado a 09/10/2024