Cifose: o que é, tipos e como se trata
A cifose é a curvatura excessiva da zona superior da coluna e, embora na maioria das vezes não necessite de tratamento, há casos em que há indicação cirúrgica.
A nossa coluna não é direita, tem curvas, e é normal. São estas curvas que nos ajudam, por exemplo, a manter a postura. Na zona torácica, estas devem ter entre 20 a 45 º. Quando essas curvas são excessivamente acentuadas (com mais de 50 º), podem não só dificultar uma boa postura, como a adoção da posição de pé. Há um nome para estes casos: cifose. Este problema de coluna, que se caracteriza por uma curvatura saliente na zona superior das costas, é coloquialmente denominada corcunda.
A cifose pode variar em termos de gravidade - quanto maior a curvatura, mais grave é - e pode surgir em qualquer idade, embora seja mais comum durante a adolescência. Ainda assim, na maioria dos casos a cifose não causa muitos problemas nem precisa de tratamento, sobretudo quando diagnosticada precocemente, mas, por questões estéticas, pode afetar a autoestima do doente.
Tipos de cifose
Existem vários tipos de cifose. As três mais comuns são:
- Cifose postural: tal como o próprio nome indica, está associada à adoção de uma má postura. É a mais comum das cifoses e costuma tornar-se visível na adolescência, afetando mais raparigas do que rapazes. A curvatura é habitualmente redonda e flexível, “desaparecendo” quando o doente se mantém de pé e direito. Não costuma causar dor ou outros problemas e, como a curvatura não tende a sofrer um agravamento, habitualmente não causa problemas na vida adulta.
- Cifose de Scheuermann: costuma tornar-se evidente durante a adolescência, mas, ao contrário da cifose postural, pode causar deformidades mais graves na coluna. Ocorre quando as vértebras têm um formato triangular em vez de retangular. Deste modo, os doentes normalmente têm uma curvatura exagerada e angular na zona superior das costas e podem sentir maior rigidez. Nalguns casos, pode existir dor na zona mais proeminente ou até na coluna lombar, que pode ser agravada pela atividade física e por períodos prolongados em posição de pé ou sentado. A cifose de Scheuermann para de evoluir quando a fase de crescimento chega ao fim.
- Cifose congénita: está presente desde o nascimento e é causada por um mau desenvolvimento da coluna vertebral enquanto o bebé ainda está no útero. Pode ser resultado de uma má formação dos ossos ou pela fusão de várias vértebras e tende a agravar-se com o avançar da idade. Neste tipo de cifose, é muitas vezes necessário recorrer à cirurgia logo numa idade muito jovem para evitar a progressão da curvatura. É comum que o doente tenha outros defeitos congénitos, com impacto noutras zonas do corpo, como coração e rins.
A cifose é um problema só de idosos?
Não. Na verdade, a cifose surge mais frequentemente durante a adolescência, uma fase em que os ossos crescem mais rapidamente. Contudo, também pode desenvolver-se em adultos mais velhos, pois, com o avançar da idade, as vértebras tendem a perder alguma da sua flexibilidade. Por outro lado, com a idade, ocorrem frequentemente fraturas osteoporóticas das vértebras da coluna dorsal e dorso-lombar. Essas fraturas levam ao acunhamento progressivo das vértebras, tornando-se a coluna progressivamente mais cifótica. Como resultado, a coluna vertebral começa a inclinar-se para a frente.
A inclinação progressiva da coluna para a frente exige do corpo um maior esforço e dispêndio de energia para se manter a postura de pé e olhar em frente.
Sabia que...
Em pessoas mais velhas, a doença de Parkinson pode contribuir para o desenvolvimento de cifose.
Quais os sintomas da cifose?
Nas situações em que a cifose é pouco acentuada, este problema pode não provocar sintomas e até passar despercebido.
Os sintomas e sinais da cifose não são iguais em todas as pessoas, dependendo, por exemplo, do que está a causar a curvatura na coluna e da gravidade da deformação. Alguns exemplos são:
- Ombros curvados e/ou um alto (corcunda) visível na zona superior das costas - estes são os sinais mais característicos da cifose
- Dificuldade em executar tarefas simples na posição de pé (cozinhar, por exemplo), sem estar apoiado
- Tendência para fitar o chão e não o horizonte
- Diferença de altura entre os dois ombros
- Cabeça mais inclinada para a frente comparativamente ao resto do corpo
- Altura da zona superior das costas parece mais elevada que o normal quando a pessoa se dobra para a frente
- Dor de costas
- Fadiga extrema
- Rigidez na coluna
- Tensão nos músculos localizados na parte de trás das coxas (isquiotibiais)
Embora raro, com o avançar do tempo, a progressão da curvatura da coluna pode acabar por causar outros problemas, entre os quais:
- Perda de sensibilidade
- Fraqueza, dormência ou formigueiro nas pernas
- Alterações dos hábitos intestinais ou urinários
- Falta de ar e outras dificuldades respiratórias, resultantes da pressão que a coluna exerce nas vias aéreas
- Problemas de equilíbrio
- Problemas digestivos - em casos mais severos, a cifose pode exercer pressão no sistema digestivo, causando problemas como refluxo gástrico e dificuldade em engolir
Além disso, a cifose pode também provocar problemas de autoestima, sobretudo em adolescentes, em que o doente sente complexo em relação à curvatura da sua coluna ou até devido ao uso de ortótese. Nas pessoas mais velhas, as inseguranças em relação à imagem podem mesmo levar a isolamento social.
Como é feito o diagnóstico?
A par da recolha do histórico clínico (informação geral de saúde e queixas), o primeiro passo para o diagnóstico da cifose consiste na observação física. Para isso, além de avaliar as costas, o médico assistente pedirá ao doente que faça alguns movimentos, como curvar-se para a frente com os pés juntos, joelhos direitos e braços a pender, enquanto lhe apalpa as costas para verificar se existem zonas de maior sensibilidade. Este exame - chamado teste de Adams - permite ao médico verificar se existem deformidades na coluna vertebral.
Outros testes que podem ser utilizados para diagnosticar a cifose são, por exemplo:
- Raios-X: permitem ver as estruturas ósseas. Podem ser feitos de diversos ângulos para determinar, por exemplo, se há alterações na coluna vertebral e o grau da curvatura. Caso o médico assistente pretenda uma imagem mais detalhada da coluna, poderá pedir uma tomografia computadorizada (TAC).
- Testes de função pulmonar: permitem verificar se a respiração é afetada pela diminuição do espaço na zona torácica / do peito.
- Ressonância Magnética: permite visualizar a coluna vertebral de forma mais detalhada e detetar eventuais infeções ou tumores nesta zona.
- Exames neurológicos
- Densitometria óssea: a baixa densidade óssea pode agravar a cifose.
O tratamento da cifose
O tratamento da cifose tem como objetivo interromper a progressão da curvatura e prevenir deformações.
Para definir a melhor estratégia terapêutica, o médico assistente deverá ter em conta vários critérios, como:
- Idade e estado de saúde geral
- No caso das crianças, durante quantos anos é que ainda vão estar em fase de crescimento
- Tipo de cifose
- Gravidade da curvatura da coluna
O tratamento da cifose pode ser cirúrgico ou não cirúrgico e depende da causa da cifose.
Nos casos de cifoses provocadas por fraturas osteoporóticas da coluna, o tratamento dessas fraturas evita a cifose e o tratamento da osteoporose evita fraturas futuras. Para o tratamento das fraturas osteoporóticas há várias abordagens, dependendo do tipo, deformidade e localização da fratura. O tratamento poderá ser:
- Conservador, com ou sem colete de imobilização.
- Cirúrgico recorrendo a técnicas minimamente invasivas para preenchimento da vértebra fraturada com cimento ósseo. Esta técnica, denominada cifoplastia é uma técnica realizada através de duas pequenas incisões no local da fratura e permite restaurar parcialmente a altura da vértebra e diminuir a dor associada à fratura.
- Cirúrgico, através da estabilização, pode ou não ser complementada pela estabilização da vértebra recorrendo a parafusos e barras.
Em casos de cifose postural ou cifose de Scheuermann com curvatura inferior a 75 º há várias hipóteses não cirúrgicas, nomeadamente:
- Monitorização do doente: permite que o médico assistente acompanhe a evolução da curvatura da coluna, atuando antes do seu agravamento. A menos que a curvatura agrave ou cause dor, poderá não ser necessário tratamento adicional.
- Fisioterapia: a realização de exercícios específicos pode ajudar no alívio da dor de costas e melhorar a postura. Isto porque fortalece os músculos abdominais e das costas.
- Medicação: a toma de medicamentos anti-inflamatórios não esteroides - como ácido acetilsalicílico (conhecido por aspirina), ibuprofeno e naproxeno - pode ajudar a aliviar a dor de costas.
- Uso de ortótese: este tratamento pode ser recomendado para casos de cifose de Scheuermann em doentes que ainda se encontram em fase de crescimento. A ortótese vai sendo adaptada à evolução da curvatura da coluna e o número de horas diárias de uso depende de cada caso.
Embora na maior parte dos casos não seja necessário recorrer à cirurgia, nas situações mais graves poderá ser a solução mais adequada. Esta opção é muitas vezes recomendada por exemplo nas situações de cifose congénita ou em pessoas com cifose de Scheuermann com curvatura superior a 75 º ou dor de costas grave, quando as opções não cirúrgicas não funcionam.
A cirurgia de fusão da coluna - que, explicando de um modo muito simples, consiste em “fundir” as vértebras afetadas para que cicatrizem e se transformem numa só vértebra - é o procedimento cirúrgico mais comum no tratamento da cifose e permite reduzir o grau da curvatura e prevenir a sua progressão. Além disso, pode também ajudar a aliviar a dor de costas.
É possível prevenir a cifose?
Depende do tipo de cifose. A que tem origem postural pode ser prevenida através de alguns gestos, como:
- Adoção de uma boa postura
- Manutenção de um peso adequado
- Prática de exercício físico que fortaleça o corpo - sobretudo a zona abdominal e das costas - e que promova uma boa flexibilidade
- Carregar pesos numa mochila resistente ou num trolley
Cleveland Clinic, novembro de 2021
Johns Hopkins Medicine, novembro de 2021
Mayo Clinic, novembro de 2021
OrthoInfo, American Academy of Orthopedic Surgeons, novembro de 2021