COVID-19: lidar com a ansiedade infantil e sono das crianças
Ficar em casa pode ter efeitos no humor e sono das crianças, afetando o seu bem-estar. Aprenda a lidar com estes problemas em tempos de COVID-19.
Todos sentimos os efeitos do confinamento e isolamento social e os mais pequenos não são exceção. Acima de tudo, é importante que as crianças estejam cientes da importância destas medidas e que os pais respondam às suas dúvidas. Ainda assim, é possível que as crianças comecem a manifestar alterações de humor e do sono que impactam não só o seu bem-estar, como o de toda a família. Felizmente, há várias estratégias que, em tempos de COVID-19, podem ajudar os pais neste campo. Tome nota.
Sinais de que a criança pode estar a sofrer de ansiedade
Antes de mais, é importante que os pais estejam atentos ao comportamento dos seus filhos para que consigam mais facilmente reconhecer alguns sinais de que estes possam estar sob stress. Algumas dessas alterações comportamentais podem incluir:
- Preocupação ou tristeza excessiva
- Alimentação e hábitos de sono pouco saudáveis
- Dificuldades de atenção e de concentração
O stress pode ter um impacto negativo no sono e humor das crianças. Os problemas de ansiedade e de sono alimentam-se mutuamente e criam um ciclo vicioso. É comum uma maior dificuldade em adormecer, com um sono mais superficial e despertares noturnos mais frequentes. Em alguns casos, ocorre uma regressão reativa a um estado mais ansioso e perde-se alguma da autonomia e segurança que já existia no adormecer.
A ansiedade infantil está ligada ao humor e é normal e adaptativa face às mudanças que as crianças sentem no seu dia a dia e no dos seus familiares. Mas o prolongar do confinamento, com as limitações em termos de exercício físico, as alterações das rotinas, o maior tempo de ecrã, a maior exposição aos média e notícias acerca da pandemia, em conjunto, acarretam um risco acrescido de alterações no humor de tonalidade depressiva e de uma maior irritabilidade reativas a toda esta situação.
Dicas para manter o bom humor nos mais pequenos
Todos os fatores acima referidos podem influenciar o humor das crianças, provocando alterações como irritabilidade, traduzida em mais birras, maior aborrecimento e, quando mais grave, menos prazer em brincar e em fazer atividades que antes eram prazerosas.
1. Encoraje o seu filho a manter-se ativo
Se tiver jardim ou pátio, incentive o seu filho a brincar na rua, um hábito muito benéfico para a sua saúde mental e física. Dentro de casa também é possível fazer algumas atividades físicas, como pausas para alongamentos ou alguns passos de dança.
2. Ajude-o a manter o contacto (à distância) com quem mais gosta
Incentive o seu filho socializar com outras pessoas, como amigos e familiares, através de chamadas telefónicas ou videochamadas, matando as saudades de quem mais gosta.
3. Dê o bom exemplo
Cuide de si! Os pais devem dar o exemplo cuidando do seu próprio sono e da sua alimentação, criando também as suas rotinas, tendo espaço para falar das suas coisas de adultos e das suas preocupações. Se estiverem a trabalhar em casa, devem separar os contextos dentro do possível, tentando também manter rotinas separadas entre o teletrabalho/trabalho e a brincadeira.
4. Fale com a criança sobre o que está a acontecer
Explique a realidade atual. Os pais ou outros cuidadores são modelos para os seus filhos. Isto não significa que tenham de fingir que está tudo bem e calmo, nem de disfarçar as suas próprias emoções. Mas a forma como gerem as suas emoções e reações é uma referência muito importante para os filhos. Transmita tranquilidade e segurança.
5. Incentive a expressão das emoções
Os pais devem ser flexíveis com alguns comportamentos e algumas rotinas, mantendo os limites do razoável e adequado. Aceite a frustração das crianças e o direito a que, por vezes, estejam “mal humoradas”; as reações são diferentes de pessoa para pessoa e devem ser respeitadas.
Além disso, devem falar com as crianças, mostrando-se disponíveis para as ouvir, seguindo as pistas que vão dando e falando também de como eles próprios estão numa linguagem ajustada ao nível de desenvolvimento/idade do seu filho. Seja transparente e proporcione oportunidade às crianças para dizerem o que pensam e o que as preocupa; não as force a falar. Sobretudo nas crianças mais pequenas, uma boa estratégia é usar o desenho ou o jogo de faz de conta para promover a expressão de emoções.
Atenção!
Respeite o espaço da criança, mas mantenha-se atento; procure ajuda de um profissional quando lhe parecer necessário. Protelar o problema pode ser prejudicial ao desenvolvimento da criança.
A importância de uma rotina
A rotina torna as coisas previsíveis, logo, mais seguras, pois sabemos com o que contamos. Num tempo de tanta imprevisibilidade assume uma grande importância. Procure criar um horário para estudar, ter tempo livre, fazer as refeições e praticar atividade física. Contudo, deixe que nesse horário exista alguma flexibilidade para que o possa ir adaptando com base no seu dia a dia.
Efeitos da COVID-19 no sono
A ansiedade infantil gerada pelo medo da pandemia assim como o stress associado a toda a situação de isolamento social pode interferir com o sono da criança, seja na facilidade em adormecer, na capacidade de ter um sono contínuo e reparador ou mesmo no intensificar de situações como terrores e despertares noturnos ou pesadelos. É normal que numa situação de alteração brusca de rotinas existam alterações aos padrões de sono.
É importante que os pais reforcem as medidas que permitem uma melhor qualidade de sono dado que não havendo um sono reparador o cansaço da criança será maior, o que vai condicionar a sua adaptação ao inesperado e a sua tolerância à atual situação de isolamento social em que estão, muitas vezes impossibilitados de fazer coisas de que gostam.
Estratégias para ajudar as crianças a dormir melhor
Sem os horários impostos pela escola, algumas crianças poderão passar a ter horas incertas para dormir. Contudo, este é um mau hábito que pode prejudicar a qualidade do seu sono. É importante que os pais adotem algumas medidas para ajudar os filhos a ter um sono de qualidade. Disciplina é a chave.
1. Fale com o seu filho sobre a importância dos horários
É verdade que as crianças passam a ter alguma flexibilidade quanto à hora de ir para a cama e a hora de acordar, mas ter horas fixas para ir dormir e para acordar de manhã é muito importante e deve falar com o seu filho sobre isso, para que ele própria tenha essa consciência.
2. Tenha em consideração as necessidades da criança
Embora haja diretrizes relativamente às horas de sono ideais para cada idade, é fundamental que conheça as necessidades individuais do seu filho. Pergunte-lhe diretamente de quantas horas precisa de dormir para se sentir bem. Além disso, os pais devem também ter em consideração aquilo que eles próprios observam no comportamento dos seus filhos. Esteja atento a alguns sinais: por exemplo, se o seu filho quer dormir a sesta ou adormece facilmente em períodos do dia mais sossegados, como quando estão a ver um filme, poderá ser um sinal de que não está a dormir o suficiente.
3. Dê-lhe alguma margem de manobra aos fins de semana
Embora os seus filhos devam ter horários de sono fixos de segunda a sexta-feira, permita alguma tolerância na hora de acordar ao fim de semana, mas com uma regra: essa margem de manobra deve ser de no máximo duas horas. Por exemplo, se durante a semana o seu filho acorda às 9h, no fim de semana deve acordar até às 11h.
4. Permita sestas, mas…
Embora de um modo geral as sestas não sejam aconselhadas em crianças mais velhas (depois da idade pré-escolar), seja flexível desde que esse hábito não afete o sono da criança à noite. Se a criança acordar várias vezes e de forma prolongada durante a noite, deve reduzir ou acabar com as sestas.
O comportamento da criança pode ser reflexo do dos pais
Os pais são, por norma, a figura de referência e de segurança das crianças. Por isso, quando o humor ou estado de espírito dos pais está alterado, é natural que as crianças sejam o reflexo desses sentimentos. O mesmo se passa com o sono; tente tranquilizar a criança, sem mentir ou deixar de ser realista, para que as alterações a estes níveis tenham o menor impacto possível.