Dúvidas frequentes na Gravidez: a obstetra responde

Gravidez
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Cristina Maria Dias, obstetra CUF, responde às dúvidas mais frequentes que as grávidas fazem nas consultas. Assista ao vídeo.

A gravidez é um momento de muitas alterações no corpo e hábitos da mulher, o que traz também muitas dúvidas. “Posso comer carne mal passada?”. “E o sushi?”. “É melhor eliminar o café da minha alimentação durante a gravidez?”. “Que exames devo fazer?”. Estas são algumas das questões sobre gravidez que a obstetra CUF Cristina Maria Dias mais ouve durante as suas consultas. Fique a saber a resposta a estas perguntas e não só.



Qual a importância da consulta pré-concecional?

“A consulta pré-concecional é de extrema importância uma vez que vai avaliar o risco de uma futura gravidez”. Esta deve ser realizada “no mínimo três a seis meses antes da gravidez”. E em que consiste esta consulta? São avaliados vários aspetos:

  • Historial médico e cirúrgico da mulher.
  • Antecedentes obstétricos, isto é, das anteriores gravidezes.
  • Medicação que está a ser feita, pois podem ser necessários ajustes ou mesmo suspensão previamente à gravidez.
  • Exame ginecológico.
  • Rastreio do cancro do colo do útero, caso este não se encontre atualizado.
  • Prescrição de exames específicos, como, por exemplo, exames de sangue e de urina, eventualmente uma ecografia ginecológica e, em mulheres mais velhas, poderá estar indicada a realização do rastreio do cancro da mama através de uma ecografia mamária e/ou mamografia.
  • Suplementação com ácido fólico para prevenção de doenças do tubo neural.

 

Quais os sintomas iniciais de uma gravidez?

“Os primeiros sinais e sintomas da gravidez variam de mulher para mulher. Enquanto algumas mulheres não sentem nada e apenas sabem que estão grávidas porque lhes faltou o período menstrual, fazem o teste e têm um resultado positivo, noutras mulheres ocorre exatamente o contrário: começam a ter alguns sintomas, nomeadamente, tensão mamária, náuseas, cansaço, sono, que podem alertá-las para a possibilidade de estarem grávidas, levando-as a fazer o teste de gravidez”, explica Cristina Maria Dias.

Quanto às náuseas, um sintoma tão frequente nas grávidas, a sua duração é também uma das questões mais comuns em consulta. No entanto, não é possível prever: “As náuseas podem não existir ou quando existem podem passar precocemente ou durar a gravidez toda”, esclarece a obstetra.

 

Quando deve ser marcada a primeira consulta de gravidez?

“A primeira consulta de gravidez deve ser realizada entre as seis e as oito semanas tendo em conta o primeiro dia da última menstruação”. Porquê? “Há análises que devem ser feitas nessa altura para despistar doenças que possam existir - nomeadamente, infeções, o citomegalovírus, a toxoplasmose -, que devem ser diagnosticadas precocemente, e para programar tudo o resto, como a ecografia, falar sobre o rastreio das trissomias e orientar todos os cuidados que a grávida deve ter”, responde Cristina Maria Dias.

 

Que exames são realizados na gravidez?

Cada grávida é uma grávida e, por isso, os exames a realizar durante a gestação devem ser adaptados ao seu caso específico. “De um modo geral, os exames de rotina da gravidez, ou seja, as análises de sangue e de urina e as ecografias obstétricas, são realizadas uma vez a cada trimestre. Em casos de gravidez com risco clínico estes exames poderão ser ajustados e poderão ser necessários alguns exames adicionais”.

 

Sabia que…

A grávida deve ir ao dentista e tratar os seus dentes, pois, muitas vezes, a gravidez agrava as patologias preexistentes, alerta Cristina Maria Dias.

 

Existem cuidados a ter com a alimentação durante a gravidez?

Durante a gravidez, a grávida deve ter alguns cuidados a nível de alimentação - além de adotar uma dieta variada -, que dependem de vários fatores, como a imunidade ou não à toxoplasmose. Nas grávidas não imunes à toxoplasmose, alimentos como as frutas e os legumes não devem ser ingeridos crus, a não ser que sejam bem lavados com água corrente, como a alface, o tomate e os morangos. Como alternativa, fruta e legumes podem ser descascados ou cozinhados. Outro cuidado a ter nestas grávidas é o de não ingerir carne crua ou mal passada, o que inclui os enchidos. Contudo, para as mulheres que não gostam de carne bem passada, há um pequeno truque que podem colocar em prática: “Congelar a carne durante três dias” e, depois sim, cozinhá-la e consumi-la mal passada, sugere Cristina Maria Dias, acrescentando que devem lavar muito bem as mãos depois de manipular carne crua.

A somar a estes cuidados existem ainda alguns associados à prevenção da listeriose, que pode ser grave na gravidez. A grávida deve consumir apenas laticínios pasteurizados, pelo que é muito importante estar atenta aos rótulos. Cristina Maria Dias acrescenta que, deste modo, não deve comer queijo fresco nem requeijão.

 

Sabia que…

A maioria das mulheres não é imune à toxoplasmose.

 

A grávida pode comer sushi?

A resposta a esta questão difere entre especialistas. Segundo a opinião de Cristina Maria Dias, “o consumo de sushi deve ser moderado e evitar-se aquele que não é cozinhado, pois é muito agressivo e pode provocar infeções graves. Além disso, o sushi tem vegetais não cozinhados, o que pode trazer risco de toxoplasmose”.

 

É recomendado consumir café na gravidez?

As grávidas podem incluir o café na sua alimentação, afirma Cristina Maria Dias, mas sem exageros: uma chávena por dia, no máximo duas. “O chá a mesma coisa. Se for chá rico em teínas, uma chávena por dia. Quanto a todos os outros chás, a mulher deve perguntar ao seu médico, porque existem muitas ervas que na gravidez não se podem consumir”, esclarece.

 

A grávida deve comer por dois?

Comer por dois” é uma expressão muito associada à alimentação na gravidez. Contudo, não, não é suposto que uma mulher grávida duplique a quantidade de alimentos que ingere ao longo do dia. “A grávida deve fazer uma alimentação racional, não deve estar mais de três horas sem comer e deve comer pouca quantidade várias vezes ao dia, até porque a sua digestão está mais lentificada”, explica Cristina Maria Dias.

 

Quanto peso deve uma grávida aumentar?

Apesar de ser uma pergunta muito comum durante as consultas, a resposta não é igual para todas as grávidas, depende também do peso que já têm no início da gestação, explica Cristina Maria Dias: “Se uma grávida com um índice de massa corporal (IMC) muito elevado aumentar 5 kgs, é bom. Numa grávida com um IMC muito baixo, aquelas mulheres muito magras, tem efetivamente de aumentar mais quilos, que podem ir até 16 kgs. Em média, o aumento de peso deve situar-se entre os 9 e os 12 kgs.”

 

É recomendado fazer exercício físico na gravidez?

“A grávida pode e deve praticar exercício físico, se o já fazia”, afirma Cristina Maria Dias, esclarecendo que, em consulta, costuma ser recomendado que “mantenha a mesma atividade física, cortando nos exercícios que têm impacto - ou seja, correr, saltar, andar de cavalo -, pois podem aumentar algum risco de descolamento, quer do saco amniótico quer posteriormente da placenta. Os restantes tipos de exercício, como o localizado e com pesos, podem ser realizados, mantendo o mesmo nível de peso. Também o pilates e a natação são ótimos para a grávida”. Por outro lado, “se for uma mulher que era mais sedentária e não fazia nada, o mais sensato é dar umas boas caminhadas”, sugere. 

 

A grávida pode pintar o cabelo?

Sim, “mas mais tardiamente, nunca no primeiro trimestre, porque existem substâncias que podem ser absorvidas e que podem ser tóxicas na gravidez”, afirma Cristina Maria Dias, salvaguardando que “há tintas que são menos agressivas e a grávida pode falar sobre isso com a sua cabeleireira”.

 

Sabia que…

Existem alguns sinais e sintomas que são expectáveis na reta final da gravidez. “Nas últimas semanas, é normal sentir algum desconforto no fundo da barriga ou na vagina, isto deve-se ao peso e à pressão da cabeça do bebé. Também é muito comum o inchaço das mãos e dos pés, sobretudo na altura do verão”.

 

Quais os sintomas que devem levar à procura de ajuda médica?

“No início da gravidez, os sinais que devem levar a grávida a recorrer ao médico são essencialmente perda de sangue e dores hipogástricas (na parte inferior do abdómen)”, alerta Cristina Maria Dias. Depois, segundo a obstetra, há um sinal que acontece com alguma frequência, mas que a grávida não deve valorizar, que é a sensação de desmaio. Isto acontece porque, “na gravidez, as tensões arteriais baixam e, em mulheres que já as têm tendencialmente mais baixas, determinadas situações, como o calor ou quando se levantam rapidamente, podem fazer com que a grávida sinta a sensação de desmaio. Não é necessário chamar uma ambulância. Deitar de pernas ao alto, sentar com a cabeça entre as pernas, ou comer algo salgado resolve muitas vezes esta complicação”.

À semelhança do que acontece no início da gravidez, também no final existem situações em que a grávida deve dirigir-se ao atendimento permanente, “entre elas a perda de líquido amniótico ou sangue pela vagina, as contrações regulares e dolorosas ou a diminuição dos movimentos do bebé”. Cristina Maria Dias acrescenta ainda um outro motivo para se dirigir à maternidade: deixar de sentir o bebé. Além disso, refere, “existem outros sintomas que podem alertar para algumas doenças de gravidez, nomeadamente edemas que a grávida não tinha, cefaleias, alterações visuais que nos podem levar a pensar num quadro de pré-eclâmpsia, ou prurido nas palmas das mãos ou nas plantas dos pés, que podem levantar suspeitas de uma complicação que é colestase gravídica”.

Por outro lado, “a saída do rolhão mucoso pode acontecer dias a semanas antes do parto e, portanto, não é obrigatório recorrer ao atendimento permanente”.

 

Sabia que…

“No final da gravidez, num período de 12 horas, habitualmente durante o dia, o bebé deve realizar no mínimo dez movimentos distribuídos ao longo do dia”.

 

Publicado a 05/09/2023