Gravidez após cirurgia da obesidade: quais os cuidados?
A obesidade está associada a vários problemas durante a gestação. A perda de peso antes da gravidez é benéfica e pode ser feita através da cirurgia bariátrica.
A gravidez é um verdadeiro desafio ao corpo da mulher. Entre as muitas adaptações que ocorrem no decorrer da gestação - desde as alterações hormonais, ao ganho ponderal (aumento de peso) -, há ainda um aumento das necessidades de vários nutrientes, vitaminas e minerais. Nos dias de hoje, estão bem estabelecidos os suplementos necessários durante a gravidez para o adequado desenvolvimento do bebé e para a saúde da mãe.
Gravidez e obesidade
Idealmente, todas a gestações devem ser programadas e, em especial, na mulher obesa.
Sabemos que a obesidade está associada a um vasto conjunto de complicações na gravidez, nomeadamente:
- hipertensão arterial e pré-eclampsia
- diabetes gestacional
- macrossomia fetal (bebés grandes e com excesso de peso)
- parto pré-termo
- aumento do número de cesarianas
- aumento da percentagem de abortos
- morte fetal
A obesidade está ainda associada a um aumento da taxa de infertilidade (por alteração dos ciclos menstruais, com muitos ciclos a serem anovulatórios, ou seja, sem óvulos), tal como a uma redução na resposta a tratamentos de fertilidade.
Sendo a cirurgia bariátrica o tratamento comprovadamente eficaz na abordagem da obesidade, promovendo a perda de peso de forma sustentada, a mesma deverá ser realizada antes da gravidez.
Engravidar depois da cirurgia bariátrica
A vigilância dos doentes submetidos a cirurgia bariátrica deve ser para toda a vida e, na mulher que pretende engravidar, deve ser mais frequente.
Enquanto o intervalo de tempo ideal entre a cirurgia e a conceção não está bem definido, recomenda-se que a mulher evite a engravidar por um período de cerca de 12 a 24 meses após a cirurgia, de forma a que o organismo esteja mais estabilizado. Sabendo que a perda de peso é mais acentuada no primeiro ano a ano e meio após a cirurgia, nessa janela temporal os desequilíbrios nutricionais são mais frequentes.
Como a perda de peso significativa após a cirurgia aumenta a fertilidade, recomenda-se, nesta fase, a utilização de um método contracetivo eficaz. Os anticoncecionais orais não devem ser utilizados, pela perda de eficácia devido à alteração da absorção, sobretudo na cirurgia de Bypass-Y-Roux.
O prognóstico da gestação futura depende, essencialmente, do Índice de Massa Corporal (IMC) alcançado antes da gravidez, estando comprovada a menor incidência de Hipertensão arterial (HTA), Diabetes gestacional e macrossomia fetal em mulheres com IMC inferiores a 30 kg/m2.
É importante salientar que a cirurgia bariátrica, por si só, não está associada a um aumento de abortos, malformações ou parto pré-termo.
Parto
Relativamente ao parto, a cesariana não é obrigatória, mas sabe-se que a taxa de cesarianas é mais elevada na gravidez pós cirurgia bariátrica quando comparadas com a população obstétrica em geral, já que a idade e a obesidade são fator de risco para parto por cesariana.
Suplementação
Em todos os doentes que se submeteram a uma cirurgia bariátrica com o objetivo de tratar a sua obesidade, houve alteração da anatomia da região gástrica e/ou intestinal, resultando numa alteração da capacidade de absorção. Esta alteração da fisiologia normal exige uma restrição alimentar e a toma de suplementos para o resto da vida, de forma a evitar complicações.
Na gravidez a suplementação inadequada pode ter um impacto muito negativo, pelo que os regimes de suplementação devem ser individualizados para a grávida e de acordo com o procedimento cirúrgico realizado.
Os défices nutricionais mais comuns são:
- Vitamina B12: ajuda a evitar o aparecimento de alterações neurológicas no cérebro do bebé
- Ácido fólico: na gravidez o seu défice está associado a defeitos do tubo neural
- Ferro: é importante para manter a produção adequada de sangue e fortalecer o sistema imunitário contra infeções
- Cálcio: é essencial para o desenvolvimento de ossos saudáveis no bebé, assim como para o desenvolvimento do coração e nervos
- Vitamina D: além de fortalecer o sistema imunitário, ajuda na absorção do cálcio para o desenvolvimento dos ossos do bebé
Em suma, a perda de peso antes da gravidez é benéfica e, quando indicado, pode ser feita através da cirurgia bariátrica. No entanto, é crucial o acompanhamento da grávida por uma equipa multidisciplinar, que inclua a Endocrinologia, a Obstetrícia, a Nutrição e, se necessário, a Cirurgia. Esta gestão multidisciplinar é determinante no sucesso de uma gravidez pós cirurgia bariátrica.