O impacto psicológico do cancro da mama

Cancro
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O diagnóstico e o tratamento podem resultar num forte impacto psicológico do cancro da mama. Mas sabia que esta experiência pode ter um potencial transformador?

O cancro da mama, pelas suas características - elevada prevalência, transversalidade etária, complexidade de cuidados envolvidos, afetação da imagem corporal da mulher e sua intimidade -, pode ter um profundo impacto psicológico e ocupa um lugar de destaque na investigação acerca do cancro.

Muitos dos estudos realizados sobre o cancro de mama têm demonstrado que o diagnóstico desencadeia elevados níveis de sofrimento psicológico (distress), que se podem exprimir de acordo com uma grande variabilidade nas respostas psicológicas nas mulheres afetadas. Os estudos revelam que cerca de 25% a 50% dos doentes oncológicos desenvolvem problemas de natureza psicológica, que beneficiam de intervenções especializadas na área da Psicologia Oncológica.

 

Fase de sobrevivência: o impacto psicológico do cancro da mama

Se as etapas de diagnóstico e tratamentos são unanimemente reconhecidas como momentos de marcado sofrimento psicológico, a realidade é que a investigação e a prática clínica revelam cada vez mais dificuldades associadas à fase de sobrevivência, verificando-se um crescimento exponencial dos pedidos de consulta em Psico-Oncologia nesta etapa.

A sobrevivência tem como consequência o surgir de um conjunto de problemáticas que resultam em novos desafios de natureza biológica, psicológica, profissional e social, à sobrevivente e seus familiares.

Este é um período em que as doentes estão mais conscientes das sequelas do diagnóstico e tratamentos, podendo sentir-se mais vulneráveis e desprotegidas face ao presente e ao futuro que se apresenta como incerto. Este sentimento de incerteza é uma das principais causas de sofrimento psicológico nesta fase, sobretudo quando o medo de uma possível recaída está presente, o que é muito comum na maioria das doentes. A par desta incerteza estão presentes outros stressores como:

  • paragem dos tratamentos
  • espaçamento das consultas e exames
  • maior afastamento dos profissionais de saúde
  • retorno à atividade profissional e rotinas de vida anteriores
  • questões de identidade e imagem corporal
  • possíveis sequelas a médio e longo prazo dos tratamentos

 

Mudanças de vida positivas decorrentes de um cancro da mama

Sendo inegável o impacto negativo de uma doença oncológica na vida do doente e familiares, não se pode deixar de reconhecer que são cada vez mais documentadas as mudanças de vida positivas decorrentes da experiência da doença. Por esta razão, o cancro que, por um conjunto de características que lhe são próprias, pode ser conceptualizado enquanto acontecimento de vida traumático, pode, simultaneamente, pela vivência das mesmas condições, ser potenciador de crescimento pós-traumático.

Este crescimento pessoal está associado a mudanças positivas na vida cognitiva e emocional, que podem ter implicações a nível comportamental, podendo assumir um caráter verdadeiramente transformador, nomeadamente ao nível das mudanças na perceção acerca de si próprio, no relacionamento com os outros e relacionadas com a filosofia e objetivos de vida.

 

A intervenção psicológica nas sobreviventes

A comunidade científica recomenda que sempre que um doente ou familiar apresenta níveis de sofrimento psicológico clinicamente significativo deve ser orientado para uma consulta especializada na área da Psicologia Oncológica. Este processo pode ser realizado numa modalidade individual ou de grupo.

Embora a eficácia dos processos de intervenção individual seja reconhecida, as terapias de grupo e dimensões terapêuticas que abordam são de especial aplicabilidade no cancro, estando já muito documentadas as vantagens das intervenções em grupo para os doentes oncológicos.

A terapia de grupo disponibiliza um espaço de mudança e suporte para os desafios vividos pelas sobreviventes de cancro da mama. Esta modalidade terapêutica acrescenta à intervenção individual:

  • a partilha de experiências entre pessoas a viver uma realidade comum
  • a validação e suporte emocional e social no grupo
  • a exploração conjunta de estratégias e recursos para lidar com esta fase da doença

A terapia de grupo oferece assim um contexto seguro, confidencial, de partilha e autenticidade.

Publicado a 07/03/2019
Doenças