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Qual o papel da fisioterapia pélvica?

Gravidez
Prevenção e bem-estar
9 mins leitura

A fisioterapia pélvica é uma solução eficaz para tratar e prevenir disfunções do pavimento pélvico, que podem afetar mulheres, homens e até crianças.

"O meu parto foi natural e durou dez minutos. Acredito que a conjugação de exercício físico com fisioterapia pélvica permitiu-me chegar com uma maior preparação e, acima de tudo, confiança" partilha Marta Cotrim, que decidiu preparar-se com antecedência para garantir um parto tranquilo e uma boa recuperação. Contudo, a sua história é uma exceção. Muitas mulheres - e homens - desconhecem ou desvalorizam a importância desta terapia. Conheça o testemunho de Marta Cotrim e saiba mais sobre a fisioterapia pélvica com a ajuda de Sara Estrela Rego, médica especialista em Medicina Física e de Reabilitação, e de Patrícia Pessoa de Almeida, fisioterapeuta.



A importância da fisioterapia pélvica

Segundo a Sociedade Portuguesa de Ginecologia, estima-se que cerca de 50 % da população feminina adulta sofra de incontinência urinária, mas apenas entre 25 e 61 % procura tratamento. A prevalência de prolapso do pavimento pélvico sintomático, caracterizado pela sensação de abaulamento vaginal, varia entre 5 e 10 %. Muitas pessoas sofrem em silêncio por vergonha ou falta de informação, mas estas disfunções não devem ser vistas como normais.

"A problemática do pavimento pélvico é um grave problema de saúde pública e, atualmente, ainda temos estes temas subvalorizados e subdiagnosticados, muitas vezes por uma questão de vergonha e de estigma social associados", explica Sara Estrela Rego, médica especialista em Medicina Física e de Reabilitação. Acrescenta ainda que "estes quadros frequentemente afetam a qualidade de vida do doente. Além de todo o estigma social a que estão associados, podem levar a uma elevada prevalência de sintomas depressivos, ansiedade e isolamento social".

 

O que é o pavimento pélvico?

O pavimento pélvico é um conjunto de músculos, ligamentos e fáscias situados na base da pélvis, que fornecem suporte a órgãos como a bexiga, o reto e o útero nas mulheres e a próstata nos homens. "Vai desde o osso púbico até ao cóccix, daí a sua nomenclatura. Além de fornecer suporte, ajuda a controlar a função da bexiga, permitindo a continência urinária, e a função do reto, auxiliando na continência fecal. Tem ainda um importante papel na relação sexual e no processo de gravidez e trabalho de parto," explica a especialista.

Quando esta estrutura está enfraquecida ou contraída de forma inadequada, podem surgir sintomas como perda de urina, dor nas relações sexuais e dificuldades em evacuar. "A problemática do pavimento pélvico ocorre em todas as idades, desde que somos crianças. E, portanto, é preciso pensar nesta área, não só na base do tratamento, mas também na prevenção", reforça a médica.

 

Sintomas das disfunções do pavimento pélvico

Quando a musculatura do pavimento pélvico não funciona corretamente, vários sintomas podem surgir, como perda involuntária de urina, gases ou fezes, idas frequentes ao WC, sensação de peso na vagina ou no reto, obstipação, dor pélvica e desconforto nas relações sexuais. "A incontinência urinária de esforço, por exemplo, pode estar associada a perdas de urina com esforços como pular, pegar em pesos ou até mesmo com o espirro ou a tosse. Estas situações são muito desagradáveis para o doente e condicionantes para um dia a dia sem restrições. A própria disfunção sexual em homens e mulheres sexualmente ativos pode ser motivo de dificuldades de relação, de autoestima e assim diminuir a qualidade de vida", alerta Sara Estrela Rego.

 

Como funciona a fisioterapia pélvica?

A fisioterapia pélvica tem como objetivo fortalecer e reeducar os músculos do pavimento pélvico, melhorando sintomas e prevenindo complicações futuras. "Antes do início dos tratamentos, é feita uma consulta médica onde se realiza uma história clínica detalhada, identificação dos fatores de risco, exame objetivo e, se necessário, prescrição de exames complementares ou de medicação", explica a especialista.

Esta área especializada “dedica-se, sobretudo, à recuperação e à prevenção de sintomatologia associada a disfunções do pavimento pélvico. Intervimos na mulher, no homem e também na criança. A nível da mulher acompanhamos quando necessário em toda a fase da vida, portanto, desde a adolescência, gravidez, pós-parto, durante toda a idade fértil e também na menopausa. A nível do homem, a fisioterapia tem tido um papel fundamental no acompanhamento do paciente de pré e pós-cirurgia da próstata e também pessoas com disfunções anorretais. Não tão falado, mas igualmente importante, a fisioterapia pélvica também tem esta componente pediátrica e, portanto, acompanhamos crianças que, sobretudo, a partir dos 5 anos apresentem disfunções vesicais ou anorretais”, explica Sara Estrela Rego.

No que respeita a fisioterapia do pavimento pélvico, propriamente dita, existem várias técnicas de atuação. Em primeiro lugar, o fortalecimento do relaxamento da musculatura do pavimento pélvico. “As pessoas que nos chegam apresentam uma fraca consciencialização desta musculatura. Portanto, antes desse trabalho de fortalecimento, temos uma fase inicial de consciencialização do movimento. Depois, começamos a trabalhar contração e relaxamento, progredindo nas sequências de exercícios e na sua frequência”, conclui a especialista.

 

Técnicas da fisioterapia pélvica

Segundo a fisioterapeuta Patrícia Pessoa de Almeida, na CUF, a fisioterapia pélvica envolve diversas técnicas adaptadas às necessidades de cada pessoa:

  • Terapia manual: "Utilizamos muito a massagem ou mesmo a nossa ajuda a nível manual para facilitar que o paciente perceba como é que pode relaxar o pavimento pélvico e como é que o pode ativar. A ferramenta de terapia manual é a maior aliada nos tratamentos de fisioterapia pélvica".
  • Biofeedback: Equipamento que permite visualizar, em tempo real, a contração e o relaxamento dos músculos pélvicos, ajudando na reabilitação. ”Permite que a pessoa tenha uma noção real, olhando para o computador, percebendo como é que está a ocorrer a sua contração e relaxamento. Isto acaba por ser motivante no processo de recuperação”.
  • Eletroestimulação: Pequenos impulsos elétricos que ajudam a fortalecer músculos muito enfraquecidos ou a relaxar aqueles que estão demasiado tensos. “Utilizamos a eletroestimulação para ajudar a musculatura pélvica a ganhar este reforço muscular”.
  • Exercícios de consciencialização e reforço: São ensinados durante as sessões e devem ser praticados em casa para garantir resultados ainda mais eficazes.

Para obter resultados duradouros, é muito importante continuar os exercícios recomendados pelos fisioterapeutas fora das sessões.

 

Quem pode beneficiar da fisioterapia pélvica?

Esta terapia é essencial para qualquer pessoa que sofra de disfunções do pavimento pélvico. “É um erro pensar que estas disfunções afetam apenas mulheres mais velhas. O pavimento pélvico deve ser cuidado em todas as fases da vida, desde a infância até à idade adulta", alerta a médica, que acrescenta que a reabilitação não é indicada apenas para mulheres: “Muitos homens que fizeram prostatectomia desenvolvem incontinência urinária e beneficiam imenso desta intervenção".
A fisioterapeuta Patrícia Pessoa de Almeida reforça: "Com a prática da fisioterapia pélvica, as pessoas melhoram a qualidade de vida, não só nas situações em que conseguimos ter a recuperação total”, mas também em situações mais complicadas, em que há sempre ganhos.

 

Indicações para a fisioterapia pélvica

A fisioterapia pélvica pode ser indicada em diversas situações, incluindo:

  • Pré e pós-parto: para prevenir lacerações, facilitar o parto e ajudar na recuperação;
  • Após cirurgias ginecológicas, urológicas ou da próstata: para reabilitação da musculatura;
  • Incontinência urinária e fecal: para tratar e melhorar a qualidade de vida;
  • Disfunção sexual: para tratar dor nas relações ou dificuldade de relaxamento;
  • Prolapso dos órgãos pélvicos: para melhorar a qualidade de vida.

 

Pré e pós-parto: fisioterapia pélvica na primeira pessoa

Marta Cotrim decidiu fazer fisioterapia pélvica durante a gravidez para se preparar para o parto e garantir uma boa recuperação. "Se eu perguntasse à minha mãe se fez fisioterapia pélvica quando esteve grávida de mim, provavelmente não o fez. Mas eu fui falando sobre esta preocupação de como preparar e ter o pavimento pélvico saudável para o parto e foi assim que cheguei à CUF."

Com a ajuda de fisioterapeutas especializadas na CUF, Marta fez um acompanhamento de 12 sessões, incluindo técnicas específicas para o parto. "Fui aconselhada a iniciar por volta das 32 semanas e fiz oito sessões antes do parto e quatro sessões depois. Para mim, foram essenciais para me sentir mais segura."

No pós-parto, Marta focou-se na recuperação do pavimento pélvico e na prevenção de problemas como incontinência urinária e dor pélvica. "Queria garantir que a saúde toda que tenho vindo a construir nos últimos dez anos se mantinha no pós-parto. A fisioterapia deu-me essa segurança.”

 

Resultados e impacto na qualidade de vida

A fisioterapia pélvica não trata apenas os sintomas, mas melhora significativamente a qualidade de vida. Muitos pacientes referem um aumento da confiança e a recuperação da sua autonomia. "Com a prática da fisioterapia pélvica, as pessoas melhoram a qualidade de vida, não só nas situações em que conseguimos ter a recuperação total, mas mesmo nas mais complexas", relata Patrícia Pessoa de Almeida.

Relativamente ao tempo de recuperação, depende muito da condição clínica, da gravidade, da idade do paciente, hábitos de vida e motivação para o tratamento. “Podemos dar um tempo de três meses para ter efeitos mais significativos com o acompanhamento da fisioterapia pélvica. É mesmo importante que, após a alta, o doente mantenha a rotina de tudo o que aprendeu nos tratamentos de fisioterapia pélvica. Faz parte do processo de recuperação. Nenhum paciente sai da sessão de fisioterapia sem trabalhos de casa. O nosso objetivo é promover a autonomia do doente para que possa manter os ganhos da terapia", aconselha a fisioterapeuta.

Se sente sintomas ou tem dúvidas, não hesite em procurar um especialista. O primeiro passo para recuperar a sua qualidade de vida pode estar na fisioterapia pélvica.

Fontes:

Sociedade Portuguesa de UroGinecologia, março de 2025

Publicado a 08/04/2025