Testes de alergias: o que são e como se fazem

Alergias
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Prevenção e bem-estar
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Alimentos, medicamentos ou pó e ácaros podem provocar reações alérgicas. Existem vários testes de alergias, que podem ser feitos sempre que há uma suspeita.

As alergias são uma resposta exagerada do sistema imunitário a substâncias que deveriam ser consideradas inofensivas para o organismo. Os sintomas vão de uma leve irritação ou espirros a situações potencialmente graves, como a dificuldade em respirar, ou até mesmo um choque anafilático. Por isso, “sempre que suspeitamos de uma alergia, devemos fazer a investigação completa”, destaca Mariana Couto, alergologista CUF. E as alergias, “sejam elas quais forem, podem aparecer em qualquer idade”, reforça a especialista em Imunoalergologia Marta Chambel. As alergologistas CUF explicam o que são e como são feitos os testes de alergias.



Como surgem as alergias?

“Algumas proteínas do meio ambiente, que deviam ser interpretadas como inofensivas, são encaradas pelo sistema imunitário como sendo agressivas”, explica Mariana Couto, e “é daí que vêm os sinais e os sintomas que conhecemos de alergia, desta resposta exagerada do sistema imunitário contra estes alergénios”.

Estes sinais, segundo Marta Chambel, “dependem do tipo de reação alérgica”. No que diz respeito aos alimentos, a alergologista CUF refere que “o mais frequente é começarem a aparecer babas/manchas no corpo, lábios ou olhos inchados. Isto é o que acontece em 80 % dos casos”. Em relação às alergias respiratórias, “são sintomas nasais, de rinite, o doente alérgico tem o nariz entupido, pingo no nariz e espirros”. Mariana Couto lembra que nas alergias alimentares ou a medicamentos, além de os sintomas poderem ser mais variados, “pode mesmo haver anafilaxia, que é a expressão máxima da alergia e que pode ter uma gravidade bastante considerável”.

 

Alergias mais comuns e grupos etários

“As alergias, sejam elas quais forem, podem aparecer em qualquer idade”, afirma a alergologista Marta Chambel. Lembra que “existe muito a ideia, por exemplo, de que se a asma não aparece em bebé, então a pessoa adulta já não vai ter asma, e isto não é verdade”. Por outro lado, em “alguns grupos de pessoas, em função da idade, é mais provável existirem reações alérgicas e existirem alergias”. De acordo com a alergologista Mariana Couto, “se forem alergias respiratórias, elas acometem tanto crianças como adultos. No caso das alergias alimentares, são mais frequentes nas crianças; já as alergias, por exemplo, a medicamentos, são mais frequentes no adulto”.

Quanto às reações mais comuns, Marta Chambel destaca “as alergias respiratórias, nomeadamente a ácaros do pó, os agentes que conseguem desencadear mais reações alérgicas, seguidas dos pólens, de árvores e de ervas, e depois então as alergias alimentares”. Em geral, tendo em conta a diversidade de causas, a alergologista recomenda uma consulta médica e eventualmente testes cutâneos: “Se existe uma suspeita, se existem sintomas que sugerem tratar-se de uma reação alérgica, devem procurar ajuda junto de um médico alergologista para esclarecer e tratar de acordo com o diagnóstico”. Mariana Couto indica que “isso vai permitir ao médico, em colaboração com o seu doente, instituir um plano para tentar evitar a exposição ao alergénio ou iniciar também um tratamento que lhe permita estar livre de sintomas e ter uma ótima qualidade de vida”.

 

Que tipo de testes de alergias existem?

Mariana Couto explica que existem vários tipos de testes às alergias, “dependendo a sua escolha do tipo de alergia, nomeadamente se é uma alergia lgE-mediada ou não lgE-mediada”, em que na primeira a reação é imediata e na segunda pode demorar horas ou dias. Por outro lado, a alergologista CUF reforça que depende ainda “da parte do organismo envolvida na alergia, se estivermos a falar de alergias respiratórias, ou então se estamos a falar de alergias a alimentos ou medicamentos”. Os testes podem ser cutâneos, de picada, com selos colocados nas costas, testes intradérmicos ou provas de provocação oral.

“Os testes cutâneos por picada, que são aquelas picadinhas no braço que as pessoas conhecem, são utilizados no diagnóstico da alergia respiratória - aos ácaros, aos pólens -, da alergia alimentar e também da alergia a alguns medicamentos”, afirma Marta Chambel, “existem também os testes intradérmicos, que são utilizados para o diagnóstico de alergia a medicamentos, e os testes epicutâneos ou patch tests, em que são colados uns adesivos nas costas e são realizados sobretudo para o diagnóstico, confirmação ou exclusão, de alergia de contacto, dermatite de contato”.

Quanto ao teste de provocação oral, feito em ambiente hospitalar, “é o exame que dá a maior certeza possível de que de facto o doente tem ou não alergia quando é exposto ao alergénio”, explica Mariana Couto, referindo que é prescrito esse exame quando há dúvidas após testes anteriores. Isso porque os diferentes testes podem ser complementares: “Muitas vezes, não conseguimos ter a resposta de que precisamos com apenas um único exame”.

 

Como são feitos os testes de alergias

“Os testes cutâneos por picada são feitos muito rapidamente, muitas vezes até no contexto da consulta”, afirma Mariana Couto. “Colocamos umas gotas do alergénio no braço do doente ou podemos colocar mesmo um pouco do alimento implicado e damos uma pequena picada com uma lanceta, praticamente indolor”.

Nos testes de pele, “os selos que colocamos nas costas ficam a atuar durante 48 horas”. Por vezes, é necessário também “análises de sangue, ou, por exemplo, biópsias do tubo gastrointestinal”, refere a alergologista CUF. Já na prova de provocação oral, “o doente é exposto ao alergénio de que suspeitamos ou a uma alternativa, e vai ingerir o alimento ou o medicamento em pequenas doses crescentes ao longo de várias horas, ficando depois algumas horas em vigilância”. Marta Chambel reforça que “são essas provas que nos confirmam se aquela criança ou adulto já conseguiu ultrapassar a alergia alimentar, mas são procedimentos que devem ser sempre feitos por médico alergologista experiente, com equipa de enfermagem, com todo o material disponível para tratar alguma eventual reação alérgica”.

Mala com amostras de substâncias para realização de testes às alergias.

Riscos dos testes de alergias

A alergologista Mariana Couto salienta: “Existem sempre riscos associados a tudo o que fazemos”. Os testes de picada “normalmente são indolores e bastante bem tolerados”, sendo raras as reações. Já as provas de provocação oral “exigem bastante mais cuidados porque vamos expor o doente ao alergénio na forma ingerida ou no caso de medicamentos até mesmo na forma injetável”. Nesses casos, há o risco de haver uma reação alérgica mas, “com equipas bem treinadas, com um ambiente seguro, hospitalar, com os protocolos bem definidos e com todos os cuidados que devemos ter, o risco de ter uma complicação é baixo”.

Quanto aos testes intradérmicos com os medicamentos, a alergologista Marta Chambel afirma que “têm mais risco do que os testes por picada e, portanto, são sempre feitos em Hospital de Dia, à semelhança do que acontece com as provas de provocação oral, que são, de todos estes testes, os que têm mais risco”.

 

O que acontece após o diagnóstico?

Não estando confirmada a alergia, ou tendo esta desaparecido, o que acontece com alguns alimentos, por exemplo, a pessoa pode fazer a sua vida normal sem cuidados. Já “perante um resultado positivo, um diagnóstico formal de alergia, os cuidados em teoria e em princípio serão sempre o de evitar o contacto com o alergénio”, refere Mariana Couto, reforçando que “se estamos a falar de uma alergia alimentar, evitar ingerir o alimento, se for um medicamento, excluir a toma desse medicamento”.

Já no caso dos agentes do ambiente, os ácaros, os pólenes e os fungos, Marta Chambel afirma que é praticamente impossível evitar em absoluto aquilo a que a pessoa é alérgica”. A solução, indica, passa por medidas de controlo ambiental: “Se for alérgico aos ácaros do pó, reduz-se a quantidade de objetos no quarto, os tapetes, os cortinados, tudo dentro daquilo que for possível. Se for alérgico aos pólenes, alertamos sempre para o facto de, na primavera, se for passear de carro, não ter as janelas abertas, não arejar a casa a meio da tarde, arejar sempre cedo de manhã ou ao final do dia e não fazer exercício físico ao ar livre”. Outra hipótese, avança Mariana Couto, passa pelo “tratamento com medicamentos ou mesmo com vacinas antialérgicas, que, no caso das alergias respiratórias, funcionam muito bem e que vão permitir ao doente restaurar a qualidade de vida e não ter sintomas”.

Em caso de potenciais reações alérgicas graves, como nos alimentos ou na medicação, o cuidado deve ser maior. Marta Chambel refere que, no caso dos medicamentos, “é muito importante estar tudo registado nos processos clínicos e existir relatório médico”. E nos alimentos, onde há o risco de choque anafilático, principalmente nas crianças, pode ser necessário ter uma caneta de adrenalina. Mas a alergologista CUF lembra que “esta caneta de adrenalina só deve ser prescrita a quem tem, efetivamente, uma reação anafilática, que é potencialmente fatal, mas não faz sentido prescrevermos uma caneta de adrenalina a quem só tem, por exemplo, urticária com a ingestão do alimento”.

 

A importância do diagnóstico

A alergologista CUF Marta Chambel entende que “o mais importante é mesmo o diagnóstico clínico” e não tanto fazer de imediato os testes cutâneos. “É sempre a história clínica, aquilo que o doente conta que aconteceu, o que é que sente, o que é que não sente, o que é que já tomou e não tomou”, descreve, “e depois então, se o médico alergologista assim o considerar, fazem-se os testes cutâneos, por picada”.

Mesmo no caso das alergias a medicamentos, cuja reação pode ser grave, “existem algumas ideias erradas e existem muitas pessoas com rótulos de alergias que não fazem sentido e que podem até ser perigosas”. Marta Chambel afirma que uma grande parte da população adulta portuguesa “está rotulada como sendo alérgica à penicilina e na realidade não é”. Trata-se de uma situação complicada, porque “a penicilina e os medicamentos deste grupo são dos mais importantes para tratar a maior parte das infeções e, portanto, se aquele doente está mal diagnosticado como tendo alergia, podemos ter que lhe dar outro antibiótico, que vai desenvolver mais resistências bacterianas, vai aumentar o risco dos efeitos secundários e vai também aumentar o custo do tratamento”.

Publicado a 02/10/2024