Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica (CPRE)
A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é uma técnica que utiliza simultaneamente a endoscopia digestiva (procedimento que consiste na utilização de tubos flexíveis que permitem a visualização de imagens do tubo digestivo em monitores de televisão) e a imagem fluoroscópica (que permite diagnosticar e tratar doenças associadas ao sistema biliar e pancreático).
Vantagens e benefícios
Esta técnica tem a vantagem de permitir, numa mesma sessão, detetar e tratar anomalias da árvore biliar e/ou do canal pancreático principal, recorrendo a diversos acessórios especializados que se passam através do duodenoscópio.
Assim, é possível durante uma CPRE extrair cálculos, executar dilatações do canal com balão ou colocar uma prótese.
Importa referir que a CPRE é uma técnica complexa que, comparativamente a outros procedimentos endoscópicos, está mais associada a complicações graves, pelo que deve ser reservada para os casos em que está devidamente indicada.
Habitualmente, todos os doentes propostos para CPRE já foram submetidos a outros exames de imagem menos invasivos, como a ecografia abdominal, tomografia computorizada ou ressonância, que ajudam a definir a doença em causa e a sua localização, facilitando a interpretação dos dados da CPRE.
Metodologia
O procedimento endoscópico inicia-se com o doente em decúbito ventral, sob anestesia geral ou sedação.
É utilizado um duodenoscópio que é inserido na boca do paciente e passa através da garganta para o esófago, estômago e segunda porção do duodeno, local onde se visualiza a papila duodenal (Papila de Vater). Esta papila corresponde ao ponto de convergência do canal pancreático principal e do canal biliar comum, onde são drenadas as secreções pancreáticas e biliares para o duodeno.
Após observação da papila procede-se à introdução de uma cânula no ducto biliar comum ou no canal pancreático principal (conforme as indicações), obtendo-se um colangiograma ou um pancreatograma, respetivamente, que consiste na injeção de produto de contraste radiopaco no canal em causa para permitir a sua visualização por fluoroscopia.
Este exame demora entre 30 a 90 minutos, em média uma hora.
Indicações
Atualmente, a CPRE é uma técnica preferencialmente terapêutica e não diagnóstica. A principal razão para esta evolução deve-se à utilização de técnicas diagnósticas menos invasivas, tais como a tomografia computorizada, a endoscopia ou a ressonância magnética que ajudam a seleccionar os doentes que necessitam de CPRE.
A CPRE está indicada na avaliação e no tratamento das seguintes situações de doença biliar e pancreática:
- Obstrução biliar secundária à presença de cálculos
- Estenoses benignas e malignas do ducto biliar
- Fístulas biliares
- Pancreatites agudas recorrentes de causa desconhecida
- Pancreatite crónica Litíase sintomática do canal pancreático
- Tratamento de pseudoquistos pancreáticos sintomáticos
- Diagnóstico de neoplasias malignas do pâncreas, através da realização citologia e biópsias
Cuidados a ter
O exame é, em princípio, realizado sob anestesia. Para isso o doente deverá ser observado previamente em consulta de anestesia e realizar alguns exames complementares, como uma radiografia do tórax, eletrocardiograma e análises laboratoriais.
É importante informar o médico que vai realizar o exame sobre toda a medicação em curso, especialmente no que se refere a anticoagulantes ou antiagregantes plaquetares. Poderá ser necessário suspender esses medicamentos ou substitui-los por outros em função da presença de doença cardiovascular e do risco de hemorragia associado a este procedimento.
Será igualmente importante informar o médico sobre eventuais alergias a medicamentos.
O médico irá analisar a história de cirurgias prévias para determinar se existem alterações.
O procedimento pode implicar um internamento de curta duração (se ocorrerem eventos adversos esse internamento será mais prolongado).
É necessário um jejum de pelo menos 6 a 8 horas para assegurar que a cavidade gástrica não tenha líquidos ou resíduos alimentares que impeçam o procedimento ou aumentem o risco de aspiração.
Como qualquer procedimento, a CPRTE pode associar-se a complicações, como uma pancreatite aguda, hemorragia, infeção, perfuração do esófago, estômago, duodeno ou da via biliar, complicações associadas aos fármacos utilizados na anestesia e complicações cardio-respiratórias.
Como em todos os atos médicos interventivos, existe um risco de mortalidade, embora reduzido, inferior a 1%.
Mas, no seu conjunto, trata-se de um exame muito útil e muito seguro.
Marcar Exame
Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva, 2012
National Digestive Diseases Information Clearinghouse, Junho 2012
UpToDate, 2014
WebMD, 2013