O que é?

O conceito de alcoolismo abrange a globalidade dos problemas motivados pelo álcool, no indivíduo, nos planos físico e psíquico, nas perturbações da vida familiar, profissional e social, e também nas suas implicações económicas, legais e morais.

Em Portugal, apesar dos últimos dados disponíveis indicarem um ligeiro decréscimo a nível nacional, a sua ingestão, per capita, mantém-se bastante elevada. Por outro lado, tem-se verificado um consumo crescente entre jovens e mulheres e alterações significativas que agravam as situações de risco. Este tópico tem sido tema recorrente nos meios de comunicação e tem determinado alterações na legislação de modo a tentar controlar este problema.

Portugal surge de forma sistemática entre os maiores consumidores de bebidas alcoólicas a nível europeu e mundial. Num estudo recente, encontraram-se estimativas em maiores de 15 anos para o país, de 58 mil doentes alcoólicos (síndrome de dependência de álcool), isto é, cerca de 7% da população, e 750 mil bebedores excessivos (síndrome de abuso de álcool), o que equivale a 9,4% do universo nacional.

Na população escolar portuguesa, estima-se que a prevalência de problemas ligados ao álcool se situem entre os 10% e os 20%, em alunos universitários. No que se refere ao ensino secundário, com idade média de 16 anos, entre 18% e 20% ter-se-ão embriagado pelo menos uma vez. Calcula-se ainda que o seu consumo excessivo ocorra em cerca de 10% das mulheres e 20% dos homens. Sabe-se também que está relacionado com 50% dos casos de morte em acidentes de automóvel, 50% dos homicídios e 25% dos suicídios.

O álcool é atualmente, em Portugal, uma droga legal e comercializada, fazendo parte dos hábitos alimentares de uma larga maioria da população. Para além disso aparece muitas vezes associado a inúmeras formas de relacionamento, tanto privado como público, de natureza ritual, comemorativa, recreativa, fazendo parte do estilo de vida ou mesmo da identidade de muitos grupos sociais.

Sintomas

Os sintomas do alcoolismo são muito diversos e passam pela incapacidade de reduzir o consumo de álcool, pela sensação de uma enorme necessidade de o consumir, desenvolvimento da sua tolerância, que obriga a uma maior ingestão para se obter o mesmo efeito, beber em isolamento ou às escondidas, sensação física de abstinência (náuseas, suores, tremores), lapsos de memória, criação de rituais, consumindo-o em horários definidos com sensação de frustração se tal não é possível, irritabilidade, para se sentir bem ou para se sentir ”normal”, para lidar com problemas legais, financeiros, pessoais e profissionais, acompanhados de perda de interesse noutras atividades que costumam ser agradáveis.

O álcool provoca uma depressão do sistema nervoso, embora, em algumas pessoas, a reação inicial seja de estimulação. Reduz as inibições, afeta os pensamentos, as emoções e a capacidade de julgar e decidir. Interfere ainda na fala, na coordenação muscular e, em doses excessivas, pode induzir coma ou causar a morte. Por outro lado, a dependência do álcool associa-se, habitualmente, à dependência de outras substâncias.

Como consequência da perda de todas as capacidades referidas, aumenta o risco de acidentes de viação e domésticos, reduz o desempenho no trabalho e na escola e aumenta a probabilidade de se cometerem crimes violentos. Agrava ainda a possibilidade de complicações médicas como, doença hepática (hepatite, cirrose, cancro), problemas digestivos (gastrite, úlcera); má-absorção, pancreatite; problemas cardíacos (hipertensão arterial, enfarte do miocárdio, AVC); complicações nos doentes diabéticos; alterações na função sexual; dificuldades de visão; osteoporose; implicações neurológicas; diminuição das defesas; anomalias congénitas no caso de consumo durante a gravidez; e aumento de risco para várias formas de cancro.

Causas

O alcoolismo é influenciado por fatores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais que afetam a resposta e o comportamento do organismo face a este tipo de bebidas. O processo de dependência ocorre de um modo gradual. O álcool, ao longo do tempo, vai alterando o normal equilíbrio entre as substâncias químicas que existem no cérebro associadas com a sensação de prazer, capacidade de avaliação e controlo do corpo. Esse facto faz com que se consuma para recuperar as boas sensações ou para afastar as negativas.

Alguns fatores de risco para o desenvolvimento do alcoolismo:

  • Consumo regular ao longo do tempo, que vai gerando uma dependência física.
  • Idade: quanto mais cedo se inicia, maior o risco de desenvolvimento de dependência.
  • História familiar: o risco é mais elevado quando existem familiares próximos alcoólicos.
  • Depressão e outros problemas mentais, como a ansiedade ou doença bipolar.
  • Fatores sociais e culturais: ter amigos ou pessoas próximas que bebem regularmente aumenta o risco da sua ingestão e de dependência. As mensagens que os media veiculam da associação entre o seu consumo e o status social podem ser um fator importante em alguns casos.
  • Mistura de medicamentos e álcool: alguns fármacos interagem com o álcool, o que pode aumentar ou diminuir os efeitos terapêuticos.

Diagnóstico

É importante que a pessoa adquira consciência de que consome álcool acima do normal e que, por isso, deve procurar ajuda. O diagnóstico passa, portanto, por uma boa entrevista com o médico assistente, pela avaliação dos consumos diários e por um conjunto de exames para avaliação da extensão da doença. Existem diversos recursos que são importantes na identificação dos problemas associados ao álcool, como análises clínicas, ecografia abdominal, biópsia do fígado e outros, competindo ao médico selecionar os mais adequados em cada caso.

Tratamento

O tratamento do alcoolismo é complexo e deve englobar os aspetos biológicos e psicossociais, bem como o meio familiar, profissional e social onde o paciente se insere. No que se refere aos problemas orgânicos, na fase inicial as lesões causadas podem ser reversíveis. É um período que pode demorar algum tempo e passa, fundamentalmente, pela abstinência completa do consumo de bebidas alcoólicas. Podem ainda ser prescritos medicamentos para ajudar a combater os sintomas provocados pela dependência ou abstinência. Nas fases mais adiantadas, as lesões podem ser irreversíveis (cirrose hepática). Apesar disso, o tratamento das complicações poderá contribuir para uma importante melhoria da qualidade de vida.

Prevenção

A única forma verdadeiramente infalível de o prevenir seria simplesmente não ingerir bebidas alcoólicas. Mas o que verdadeiramente interessa é a moderação. Durante eventos sociais deve-se beber menos do que se considera razoável, sendo também relevante não misturar bebidas diferentes. É importante avaliar o grupo de amigos e de pessoas próximas porque o excesso de consumo de álcool é frequentemente incentivado por terceiros. Praticar desporto, ler, meditar, ir ao teatro e cinema, podem ser boas alternativas para ajudar a libertar do stress e prevenir a necessidade de fuga para as bebidas alcoólicas. Vale ainda a pena referir que os medicamentos “anti-ressaca” não protegem dos efeitos nocivos do álcool.

Fontes

Sociedade Portuguesa De Gastrenterologia

M ª Lucília Mercês de Mello e col., Álcool e problemas ligados ao álcool em Portugal, Saúde XXI, Programa Operacional Saúde Direcção-Geral de Saúde, 2001

Casimiro Balsa e col., O Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal. Prevalências e padrões de Consumo, 2001-2007, CesNova – Centro de Estudos em Sociologia Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Mayo Foundation for Medical Education and Research, Agosto de 2012