O que é?

O transtorno delirante (anteriormente conhecido por transtorno de personalidade paranoide) é um doença mental rara, do grupo das psicoses, em que a pessoa não é capaz de distinguir o que é real daquilo que é apenas fruto da sua imaginação.

Os delírios são o sintoma dominante e podem ser de dois tipos:

  1. Bizarros: crenças em coisas irracionais e impossíveis. Por exemplo, sentir-se controlado por uma força exterior.
  2. Não bizarros: delírios sobre coisas que poderiam acontecer na vida real. Por exemplo, pensar que se está a ser seguido, que foi envenenado ou que os vizinhos estão a planear assassiná-lo.

 

Quem sofre de transtorno delirante acredita nos seus delírios mesmo quando são apresentadas provas incontestáveis de que estes não espelham a realidade. Estes delírios confundem-se com a vida real e tanto podem não ser verdadeiros de todo, como constituírem exageros não compatíveis com a realidade.

Habitualmente, o transtorno delirante surge pela primeira vez já na vida adulta ou na terceira idade.

 

Tipos de transtorno delirante

Existem vários tipos de transtorno delirante, que podem ser classificados consoante o tema em que os delírios se baseiam:

  • Erotomania: neste tipo de delírio, o doente acredita que outra pessoa - é comum ser alguém famoso ou conhecido - está apaixonado por ele. Esta crença pode levá-lo a tentar contactar essa pessoa (por exemplo, através de chamadas ou mensagens) ou até a começar a persegui-la.
  • Grandiosidade: a pessoa tem um autossentido de valor, poder, conhecimento e até de identidade exagerados, que pode levá-la a pensar que tem um grande talento ou que fez uma grande descoberta.
  • Ciúme: tal como o nome indica, neste tipo de delírio a pessoa acredita que o seu cônjuge não lhe é fiel, baseando-se em interpretações erradas que faz acerca das evidências disponíveis.
  • Perseguição: a pessoa crê que há algum tipo de plano contra ela e que alguém pode estar a espiá-la e a prejudicá-la. Neste tipo de delírio é frequente a pessoa fazer repetidamente queixas às autoridades.
  • Somatização: a pessoa acredita ter algum tipo de deformação física ou problema médico.
  • Misto: ocorre quando o doente apresenta dois ou mais tipos de delírio.

 

Sintomas

À primeira vista, o comportamento de uma pessoa que sofre de transtorno delirante não denuncia a doença, pois esta não age de forma evidentemente estranha. A exceção pode ocorrer quando os seus delírios lhe causam problemas e condicionam certas áreas da sua vida. É o caso, por exemplo, de quando o doente acredita que o seu cônjuge lhe está a ser infiel, embora essa traição não seja real.

Alguns dos possíveis sintomas de transtorno delirante são:

  • Delírios não bizarros, o sintoma mais óbvio.
  • Alucinações (que consistem em ver, ouvir e sentir coisas que não são reais) relacionadas com o delírio.
  • Mau humor, irritabilidade e raiva.
  • Suspeita e falta de confiança que, por sua vez, podem levar ao surgimento de sentimentos como medo, raiva e traição. Além disso, a pessoa pode tornar-se hipervigilante, ter dificuldade em perdoar ou até adotar uma atitude defensiva.
  • Guardar rancor de forma prolongada.
  • Encarar / interpretar comentários ou eventos inocentes como sendo uma ameaça.

 

Para que uma pessoa seja diagnosticada com transtorno delirante, os seus sintomas têm de persistir um mês ou mais.

 

Causas

A causa exata do transtorno delirante não é ainda conhecida, algo que acontece com muitos outros tipos de distúrbios psicóticos. A investigação decorre na tentativa de descobrir que fatores podem estar na sua origem e até agora sabe-se que os seguintes podem ter algum papel:

  • Genéticos: o transtorno delirante é mais comum em pessoas que têm história familiar desta doença ou de esquizofrenia, o que sugere que pode haver influência de algum fator genético. Além disso, acredita-se que, tal como noutros distúrbios mentais, a tendência para vir a ter transtorno delirante pode ser transmitida de pais para filhos.
  • Biológicos: a forma como determinadas alterações em certas zonas do cérebro podem estar envolvidas no desenvolvimento de transtorno delirante é alvo de estudo pela comunidade científica. A investigação feita até à data já demonstrou que um desequilíbrio dos neurotransmissores (substâncias que permitem as células nervosas comunicar entre si) pode levar ao surgimento de sintomas.
  • Ambientais / psicológicos: algumas evidências sugerem que pode ser desencadeado pelo stress e também pelo abuso de álcool e de drogas. Pessoas que tendem a isolar-se dos outros também parecem ser mais vulneráveis ao desenvolvimento de transtorno delirante.

 

Diagnóstico

Na presença de sintomas, os primeiros passos para o diagnóstico de transtorno delirante são a recolha da história clínica e exame físico.

Não existem exames específicos que permitam detetar esta doença, mas podem ser realizados alguns testes - como raio-X e análises ao sangue - que permitam excluir outros problemas de saúde. O doente deve ser acompanhado por um especialista em saúde mental, como um psicólogo ou um psiquiatra. Com base nos sintomas reportados e na observação comportamental, este profissional de saúde poderá conseguir fazer o diagnóstico de transtorno delirante, sendo que devem ser cumpridos critérios como ter delírios não bizarros há pelo menos um mês e não ter sintomas característicos de outros distúrbios psicóticos, como a esquizofrenia. Além disso, também é tido em consideração o impacto na vida do doente - o transtorno delirante, excetuando os delírios e os seus respetivos efeitos, pode ser compatível com as suas atividades habituais. Nestes doentes podem ocorrer episódios maníacos ou depressivos que habitualmente são breves quando comparados com os delírios.

 

Tratamento do transtorno delirante

Tratar o transtorno delirante pode ser desafiante para os profissionais de saúde dado que, muitas vezes, o doente não se apercebe de que tem um problema e, por isso, não procura ajuda.

Esta é uma doença tipicamente crónica, mas com o tratamento adequado é possível aliviar os seus sintomas. Enquanto algumas pessoas têm uma recuperação total, outras passam por períodos de delírio intercalados por períodos de remissão (ausência de sintomas).

O tratamento do transtorno delirante habitualmente inclui duas vertentes - a psicoterapia e a medicação - e uma boa relação médico-paciente é fundamental para o seu sucesso. Um dos objetivos do plano de tratamento a longo prazo assenta em desviar o foco de atenção do doente do delírio e transferi-lo, construindo o pensamento de forma mais construtiva e gratificante. Contudo, este objetivo pode ser difícil de alcançar.

A psicoterapia é fundamental no tratamento do transtorno delirante, permitindo que o doente encontre um ambiente seguro para discutir os seus sintomas ao mesmo tempo que o encoraja a ter comportamentos mais saudáveis e funcionais. Além disso, pode aprender a controlar os seus sintomas, assim como a identificar sinais de que pode estar a ter uma recaída e a traçar um plano que permita preveni-la.

O tratamento farmacológico pode consistir em diferentes tipos de antipsicóticos, tranquilizantes e antidepressivos.

Pessoas com sintomas severos ou que representam um risco para si próprias ou para outros poderão necessitar de ser hospitalizadas até a sua doença estar estabilizada.

 

Prevenção

Não são conhecidas estratégias de prevenção do transtorno delirante.

O diagnóstico e o tratamento precoces podem ajudar a reduzir o impacto que esta doença pode ter na vida pessoal, familiar e social das pessoas doentes e seus familiares e amigos.

Fontes:

Cleveland Clinic, maio de 2022

Harvard Health Publishing, Harvard Medical School, maio de 2022

Manual MSD, maio de 2022

Mental Health America, maio de 2022

WebMD, maio de 2022