Cancro do Ovário
O que é?
O cancro do ovário é a causa mais comum de morte por tumores ginecológicos nos Estados Unidos.
Os tumores malignos do ovário incluem as lesões primárias (que surgem das estruturas normais do ovário) e as lesões secundárias que são metástases de outros cancros de outras partes do corpo.
Lesões primárias incluem o carcinoma epitelial de ovário, que representa 70% de todos os tumores do ovário. Estudos recentes sugerem que a maioria destes tumores têm origem nas trompas de Falópio.
Os tumores estromais do ovário incluem tumores de células germinativas, tumores estromais do cordão sexual e outros tipos mais raros.
As metástases para os ovários são relativamente frequentes; os tumores que mais frequentemente metastizam no ovário são os tumores do endométrio, mama, cólon, estômago e colo do útero.
Neste texto referimo-nos exclusivamente aos tumores epiteliais do ovário, ou seja, que têm origem nas células do epitélio (tecido básico do organismo humano que reveste toda a pele e todas as mucosas).
Prevenção
Não está recomendado qualquer tipo de rastreio para o cancro do ovário na população em geral, nomeadamente com a utilização do nível sérico de CA125 (marcador tumoral) ou ecografia transvaginal, não se tendo demonstrado qualquer beneficio na redução das taxas de mortalidade, e acrescentando potenciais danos relacionados com os resultados falso-positivos.
Nenhum marcador tumoral (CA125, HE-4, beta-gonadotrofina coriónica humana, alfa-fetoproteína, desidrogenase láctica) é completamente específico, portanto, o uso destes testes deve ser feito em conjunto com os achados morfológicos e clínicos
Sintomas
Nos estadios iniciais, o cancro epitelial do ovário pode ter poucos ou nenhuns sintomas, o que dificulta o diagnóstico.
Os sintomas são mais comummente observados nos estádios avançados da doença e podem incluir:
- Dor abdominal ou pélvica.
- Sangramento vaginal.
- Obstipação (prisão de ventre)
- Abdómen distendido.
- Diarreia.
- Sensação de cansaço extremo.
- Necessidade frequente de urinar.
Fatores de risco
Ainda não foi possível encontrar as causas para o cancro do ovário, mas alguns fatores de risco são conhecidos. Os principais fatores de risco são:
- Antecedentes familiares de cancro do ovário - o risco de cancro do ovário é tanto mais elevado quanto mais familiares de primeiro grau e/ou de segundo grau que tenham tido esta doença. O risco é ainda mais elevado se os seus familiares tiveram a doença em idade precoce, seja cancro do ovário ou cancro da mama. Se for o caso, a mulher poderá submeter-se a testes genéticos para detetar se apresenta alguma mutação que indique a propensão para desenvolver a doença
- Antecedentes pessoais de cancro – mulheres com antecedentes de cancro da mama, útero ou colo-rectal, têm maior risco de cancro do ovário
- Mutações genéticas herdadas – aproximadamente 6% - 25% dos cancros do ovário têm uma mutação do gene BRCA1 ou BRCA2. Estas mutações são observadas com maior frequência em tumores serosos de alto grau. Herdar uma mutação no BRCA1 aumenta o risco de uma mulher desenvolver cancro do ovário em 15% - 45%, enquanto a herança de uma mutação do gene BRCA2 aumenta seu risco em 10% - 20%.
Estes síndromes genéticos podem dar origem a um perfil de cancros que pode incluir apenas cancro do ovário, cancro da mama e do ovário e cancro do ovário e do cólon;
- Idade – quanto maior a idade, maior o risco;
- Ter efetuado terapêutica hormonal de substituição após a menopausa;
- Ter tomado fármacos para tratar a infertilidade, nomeadamente estimuladores da ovulação;
- Não ter tido filhos
A quem me devo dirigir?
As informações aqui contidas não substituem o conselho do seu médico. O seu médico sabe o seu Histórico completo e irá orientá-la sobre o melhor tratamento para o seu caso.
Em caso de suspeita de cancro, devido a sintomas ou a um exame complementar de diagnóstico que apresente uma alteração, deve dirigir-se sempre a um Ginecologista Oncológico.
O mesmo fará uma primeira avaliação clínica e imagiológica, e encaminhará o seu caso para discussão numa equipa multidisciplinar, que faz uma avaliação personalizada, e que irá propor a melhor opção terapêutica para cada caso
Faça o seu pedido de contacto para o podermos acompanhar desde o primeiro momento. Se preferir pode agendar uma consulta através da nossa linha gratuita
Subtipos de cancro do ovário
Os quatro principais subtipos do cancro epitelial de ovário são:
- Carcinoma Seroso: este é o subtipo mais comum e representa cerca de 80% dos cancros do ovário avançados. Estes cancros subdividem-se, por sua vez, em tumores de alto grau e tumores de baixo grau
- Carcinoma Mucinoso: este subtipo representa 7-14% do todos os cancros epiteliais primários do ovário, mas podem estar associados a metastização de tumores intestinais
- Carcinoma Endometrioide: este subtipo é responsável pelo cancro epitelial do ovário em cerca de 10% das mulheres
- Carcinoma de Células Claras: cerca de 5% das mulheres com cancro dos ovários têm este subtipo.
Se clinicamente o seu médico suspeitar da existência de patologia do ovário, serão pedidos exames complementares para diagnosticar a doença.
Para além do exame ginecológico, que procurará sinais da doença pela palpação, de forma a procurar por massas abdominais ou pélvicas anómalas ou a presença de líquido anormal no abdómen (ascite), poderão ser realizados os seguintes exames:
- Análise ao marcador tumoral CA125 – consiste num exame ao sangue para determinar o nível e concentração deste marcador, cuja concentração poderá indiciar, a presença de cancro ou outras patologias. O marcador CA 125 não é específico para o cancro epitelial de ovário; pode estar aumentado em pessoas com outros tipos de cancro e também em mulheres com condições ginecológicas não malignas. O CA125 é importante para ajudar na avaliação do sucesso do tratamento a seguir, caso se confirme o cancro do ovário
- Ecografia Abdominal e Pélvica
- TAC Abdominal e Pélvico e/ou Ressonância Magnética
- Biópsia – em caso de forte suspeita de cancro, o ginecologista fará uma colheita de amostras de tecido ou de líquido para análise pela Anatomia Patológica. A biópsia é realizada cirurgicamente duma forma geral através de uma laparotomia, mas também pode ser executada por laparoscopia.
Só a observação dos tecidos recolhidos pela biopsia ao microscópio pela Anatomia Patológica pode confirmar o diagnóstico de cancro do ovário
O estadiamento é o processo pelo qual avaliamos a extensão da doença no ovário, nas estruturas próximas ou em órgãos distantes. A informação obtida pelo processo de estadiamento determina o estádio da doença, fundamental para o planeamento do tratamento.
Estádio I – No estádio I, o crescimento é limitado aos ovários.
Estádio IA - Tumor limitado a 1 ovário, cápsula intacta, sem tumor na superfície externa
Estádio IB - O tumor envolve ambos os ovários, a cápsula intacta, nenhum tumor na superfície externa
Estádio IC - Tumor no estágio IA ou IB, rutura cirúrgica da capsula (IC1), rutura da cápsula antes da cirurgia ou tumor na superfície ovariana (IC2) ou células malignas na ascite ou lavados peritoneais (IC3)
Estádio II – No estádio II, o tumor envolve um ou ambos os ovários, com extensão pélvica (abaixo do rebordo pélvico)
Estádio IIA - Extensão e / ou implantes no útero ou nas trompas de Falópio
Estádio IIB - Extensão para outros tecidos intraperitoneais pélvicos
Estádio III – No estádio III, o tumor envolve um ou ambos os ovários, com disseminação confirmada citológica ou histologicamente para o peritoneu fora da pelve e/ou metástases para os gânglios retroperitoneais.
Estádio IIIA - Gânglios retroperitoneais positivos e/ou metástases microscópicas além da pelve
Estádio IIIA1 - Apenas gânglios retroperitoneais positivos (IIIA1), metástase ≤10 mm (IIIA1 [ii]) ou metástase> 10 mm (IIIA1 [ii])
Estádio IIIA2 - Envolvimento peritoneal microscópico, extrapélvico (acima do rebordo pélvico) ± gânglios retroperitoneais positivos
Estádio IIIB - metástase peritoneal macroscópica, extrapélvica ≤ 2 cm ± gânglios retroperitoneais positivos; inclui extensão para cápsula do fígado / baço
Estádio IIIC - metástase peritoneal macroscópica, extrapélvica > 2 cm ± gânglios retroperitoneais positivos; inclui extensão para cápsula de fígado / baço.
Estádio IV – O estádio IV compreende metástases à distância, excluindo a metástase peritoneal.
Estádio IVA - derrame pleural com citologia positiva
Estádio IVB - metástase parenquimatosa hepática e / ou esplênica, metástase para órgãos extra-abdominais (incluindo gânglios inguinais e gânglios fora da cavidade abdominal
Tendo em conta o estadiamento do cancro do ovário, a equipa clínica multidisciplinar avaliará o melhor tratamento a seguir.
Estádio I e II – nestes estádios a opção de tratamento é geralmente a cirurgia. A quimioterapia é considerada como complemento da cirurgia para prevenir a recidiva do tumor, a partir do estádio III.
Estádio III e IV – as opções terapêuticas incluem a quimioterapia; a opção cirúrgica é avaliada caso a caso.
O tratamento padrão para mulheres com cancro do ovário envolve a cirurgia de cito-redução e a quimioterapia. O tratamento dependerá de quão avançado está o cancro na altura do diagnóstico.
A cirurgia tem como objetivo a confirmação do diagnóstico, definir a extensão da doença e ressecar todo o tumor visível, e deve ser efetuada num centro especializado com equipas qualificadas e experientes
A quimioterapia pós-operatória é indicada em todos os pacientes com cancro do ovário, exceto aqueles que têm estádio I da doença com características cirúrgico-patológicas de baixo risco. A quimioterapia pós-operatória padrão para o cancro do ovário é a terapia de combinação com um composto de platina e um taxano (por exemplo, carboplatina e paclitaxel).
A radioterapia é raramente utilizada no tratamento do cancro do ovário, apenas em situações de tratamento paliativo.
Follow-up
Após terminar o tratamento, o seu médico agendará consultas para o seu acompanhamento.
Durante essas consultas, irá ser efetuado um exame clínico, que incluirá o exame de área abdominal e pélvica. Poderão ser solicitados exames de imagem como por exemplo TAC ou RMN pélvica ou PET/Scan, e determinação do marcador tumoral Ca125.
Mesmo que tenha recebido o melhor tratamento disponível no momento do diagnóstico, existe sempre a possibilidade de que o cancro reapareça, sobretudo devido á agressividade destes tumores do ovário.
Esta situação, chamada recidiva/recorrência, ocorre mais frequentemente nos primeiros anos após tratamento, e por isso um programa de follow-up habitual inclui consultas a cada 3 meses durante os primeiros 2 anos após o tratamento, posteriormente a cada 4 meses no 3º ano e de 6/6 meses nos 4º e 5º anos.
Em caso de recorrência, o tratamento que será proposto dependerá da extensão da recorrência, da sua localização e das terapêuticas prévias