Colite ulcerosa
O que é?
É uma doença inflamatória crónica do intestino que afeta a camada que reveste internamente o intestino grosso ou cólon. Esta mucosa fica inflamada e com pequenas feridas na superfície que podem sangrar, além de produzir uma quantidade excessiva de secreção que eventualmente contém pus e sangue.
Pode afetar uma extensão variável de intestino grosso, desde apenas alguns centímetros do reto até à totalidade do cólon. Esta doença apresenta um impacto importante na vida dos pacientes, causando sintomas recorrentes de diarreia sanguinolenta, urgência rectal e uma sensação dolorosa causada por contratura do esfíncter anal.
A idade habitual do aparecimento dos sintomas tem dois picos: entre os 15 e os 40 anos e entre os 50 e os 80 anos. Contudo pode surgir em qualquer idade e em qualquer género. É mais comum quando existe um familiar em primeiro-grau com uma doença inflamatória intestinal. Em 20% dos casos começa durante a infância ou adolescência.
Estima-se que, em Portugal, afete cerca de 20 mil pessoas. A incidência da doença inflamatória intestinal na Europa é de cerca de 16 novos pacientes por 100 mil habitantes por ano. O crescimento desta enfermidade tem ocorrido nos países mais industrializados devido aos hábitos alimentares, a fatores ambientais e a estilos de vida mais sedentários.
Sintomas
Os sintomas variam de acordo com a gravidade e com a quantidade de cólon afetado. Os sinais mais frequentes são a diarreia com sangue, a dor abdominal tipo cólica e o desejo urgente de evacuar. Nos casos mais graves pode ocorrer, ainda, cansaço, perda de peso e febre. Esta doença tem um curso variável, existindo períodos em que está ativa e outros em que não se associa a qualquer sintoma. Embora a maioria das crises responda bem ao tratamento, podem aparecer situações graves ou fatais. Em muitos doentes surgem manifestações extraintestinais, como ulcerações orais, alterações nas articulações periféricas e manifestações cutâneas.
As principais complicações da colite ulcerosa são as hemorragias graves; a perfuração intestinal; a dilatação repentina do cólon; a osteoporose; a litíase (pedras) renal; doenças da pele e articulações; e aumento do risco de cancro do cólon, que é maior em indivíduos com envolvimento de todo o cólon e com mais de 10 anos de evolução da doença. É, por isso, fundamental a vigilância regular mediante a realização de colonoscopia, exame onde se utiliza um colonoscópio, que é um instrumento flexível que permite examinar todo o interior do intestino grosso e que pode recolher de pequenos fragmentos da mucosa para estudo microscópico.
Causas
A sua causa é desconhecida. Pensa-se que pode ocorrer uma desregulação do sistema imunitário da mucosa intestinal que origina uma resposta imunológica exagerada contra a microflora intestinal normal, provocando as lesões típicas da colite ulcerosa. Esta resposta anómala pode ser desencadeada por um determinado motivo, como um vírus ou uma bactéria, e pode provocar inflamação do intestino, mesmo quando o agente causador já não está presente. Por outro lado, podem existir causas hereditárias e o fator idade, já que a doença desenvolve-se geralmente antes dos 30 anos.
Antigamente pensava-se que os hábitos alimentares, o stress e as questões emocionais podiam ser responsáveis pelo aparecimento da colite ulcerosa. No entanto, essa hipótese não se confirmou. Contudo, o stress pode agravar os seus sintomas.
Diagnóstico
Para além da história clínica e do exame médico, podem ser solicitadas análises ao sangue e às fezes. A confirmação do diagnóstico requer a realização de uma colonoscopia.
Tratamento
Não existe uma cura para a colite ulcerosa. Os tratamentos disponíveis permitem melhorar as queixas e manter os pacientes sem sintomas durante longos períodos de tempo. A terapêutica irá depender da gravidade e da extensão da doença, da resposta às intervenções já efetuadas e do número e gravidade das crises anteriores.
Nos indivíduos com crises agudas graves, muito frequentes ou com lesões do cólon com elevado risco de malignização, pode ser necessária hospitalização e intervenção cirúrgica.
A maioria dos doentes pode fazer uma alimentação normal, sem restrições alimentares, com exceção dos períodos em que ocorre diarreia, nos quais deve ser efetuada uma dieta pobre em fibras e sem lactose.
Os medicamentos mais utilizados são os aminosalicilatos, que ajudam a controlar a inflamação, os corticoides, os imunomoduladores e fármacos mais recentes, como o infliximab, úteis quando os pacientes não respondem ao tratamento convencional.
Podem ainda ser utilizadas terapêuticas que aliviem as dores, a diarreia ou que tratem eventuais infeções.
Prevenção
Não existindo uma causa conhecida para a colite ulcerosa, a sua prevenção não é possível. É importante sublinhar que os anti-inflamatórios podem agravar os sintomas. Dada a associação entre colite ulcerosa e cancro do cólon, o rastreio regular por colonoscopia é fortemente recomendado, com intervalos de um a dois anos, sempre validados pelo médico.
Horácio Lopes e col., Terapêutica farmacológica da Colite Ulcerosa. J Port Gastrenterol. 2009, 16 (4): 140-141.
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