O que é?

Todas as pessoas têm hemorroidas. Trata-se de veias normais que existem no canal anal e que participam na contenção das fezes.  São classificadas em hemorroidas internas (localizadas no canal anal, acima do ânus) e em hemorroidas externas (localizadas debaixo da pele, à volta do ânus e fora do canal anal).

Quando se diz que se tem hemorroidas isso significa habitualmente que elas são origem de sintomas pelo que nestas circunstâncias falamos de doença hemorroidária.

 

Por vezes, à volta do ânus, desenvolvem-se umas pregas de pele, moles e indolores: são chamadas mariscas hemorroidárias e são diferentes das hemorroidas.

A situação que mais vezes conduz à doença hemorroidária é a obstipação levando a que as veias hemorroidárias dilatem, inflamem e possam formar procidências em torno do ânus. Situações como a diarreia prolongada e outras que aumentem a pressão dentro do abdómen (gravidez, tosse crónica, fatores profissionais) também podem originar a doença hemorroidária.

É uma doença extremamente frequente na população adulta, sendo rara na infância. A sua prevalência, embora elevada, é de difícil avaliação, surgindo estimativas muito diferentes, com valores de incidência entre os 4,4% e os 86%. Pensa-se que mais de metade população possa desenvolver hemorroidas depois dos 30 anos de idade. Não existe diferença entre sexos, surgindo habitualmente na terceira década de vida e atingindo um pico entre os 45 e os 65 anos.

Em Portugal, acredita-se que cerca de 20% da população com mais de 50 anos sofram desta patologia, sendo que o número de cirurgias ultrapassa as 40 mil por ano.

É importante reforçar que não existe relação entre as hemorroidas e o cancro rectal. Embora os sintomas, em particular as perdas de sangue possam simulá-lo, é essencial que este seja excluído mediante a realização de uma investigação médica completa, sobretudo depois dos 50 anos.

Sintomas

Os sintomas mais comuns são as perdas de sangue e a protusão durante a evacuação, o prurido na região anal e a dor.

As hemorroidas começam a dar sintomas quando aumentam de volume. Isto pode acontecer devido a um aumento de pressão ao nível do canal anal provocado, por exemplo, pela obstipação ou, no caso das mulheres grávidas, pelo peso do feto sobre a área retal e anal.O principal sintoma é a hemorragia de sangue vivo, que pode ser ligeira e só visualizada no papel higiénico ou ser abundante, cobrindo as fezes ou inclusive pingar na sanita.

Por vezes, as hemorroidas são tão volumosas que saem ou prolapsam através do ânus, provocando dor. Estes sintomas surgem sempre após esforço para evacuar ou ao fazer as fezes mais duras. As hemorroidas externas podem acumular sangue e formar um coágulo devido à dificuldade na sua drenagem, também provocada pelo aumento da pressão no canal anal. Neste caso forma-se uma trombose hemorroidária que é muito dolorosa e caracteriza-se por um "caroço" duro à volta do ânus. As mariscas hemorroidárias podem provocar ocasionalmente comichão, sobretudo quando são muito volumosas.

Causas

Não existe uma causa exata. A própria postura vertical cria uma maior pressão sobre as veias do reto que tende a provocar o seu prolapso. Os fatores mais frequentemente associados são a idade, a obstipação crónica, o esforço excessivo durante a evacuação, a gravidez, o mau funcionamento intestinal causado pelo excesso de uso de laxantes ou clisteres, as infeções anais, a cirrose do fígado e a hereditariedade.

Quando os tecidos que suportam as veias se distendem, elas dilatam-se, sendo que a sua parede fica mais fina e tende a sangrar. Se a pressão se mantiver, os vasos acabarão por prolapsar. Estar sentado durante muito tempo é outro fator a considerar.

Diagnóstico

Pelo exame proctológico, que inclui a inspeção anal e perianal, o toque retal e a anuscopia. A anuscopia permite a visualização do canal anal, através de um tubo curto (anuscópio) que está ligado a uma fonte de luz. Quando o principal sintoma é a hemorragia é necessário completar a investigação com o estudo do reto e cólon através da realização de uma fibrosigmoidoscopia ou colonoscopia.

Tratamento

O tratamento depende da gravidade da situação. Os sintomas mais ligeiros podem ser aliviados mediante medidas dietéticas, como o aumento da ingestão de fibras (fruta, vegetais, pão, cereais) e de líquidos. É importante reduzir o esforço durante a evacuação de modo a reduzir a pressão sobre as hemorroidas e impedir que elas prolapsem. Existem alguns medicamentos, como pomadas com corticoides, que podem aliviar as queixas. Um banho de imersão quente durante alguns minutos oferece algum alívio. Este tipo de medidas permite que a dor e o inchaço diminuam e que os nódulos das hemorroidas desapareçam.

Existem outras opções terapêuticas, como a esclerose ou o uso de uma ligadura elástica. Na esclerose, recorre-se à injeção de uma substância que provoca a fibrose dos tecidos e da sua irrigação, diminuindo assim o prolapso e a hemorragia. A ligadura elástica consiste na introdução dum anel elástico na base da hemorróida de modo a produzir um estrangulamento com formação de uma úlcera cuja cicatrização permite a fixação da mucosa aos planos profundos.

Em casos mais graves:

  • Terapêutica instrumental: é efetuada através do anuscópio e consiste na Esclerose (injeção de uma substância que oclui e diminui a hemorroida) ou na Laqueação elástica (colocação de uma banda elástica que provoca redução e eliminação da hemorroida). Por vezes estes dois métodos são utilizados em simultâneo. São tratamentos indolores, realizados em ambulatório, não necessitando de internamento. Podem ser necessárias 3 a 4 sessões para completar o tratamento.
  • Terapêutica cirúrgica: a cirurgia está indicada nas situações mais graves e torna-se necessária em cerca de 10% a 15% dos casos. De um modo geral, não requer internamento e deve ser a opção preferencial quando os tratamentos não cirúrgicos se revelaram ineficazes, quando existem lesões do ânus, na presença de hemorragia ou prolapso importante e em tromboses de repetição
  • Terapêutica da trombose hemorroidária: quando o trombo se encontra sob tensão e é muito doloroso é necessário retirá-lo, com uma pequena incisão, sob anestesia local.

Prevenção

Alguns aspetos importantes são a ingestão regular de líquidos e fibras, usar laxantes em caso de obstipação para evitar o esforço durante a evacuação e evitar o sedentarismo.

Fontes

U.S. Department of Health and Human Services National Institutes of Health, 2011

American Society of Colon & Rectal Surgeons, 2012

The College of Family Physicians of Canada, 2012

J. Ramos de Deus e col., Doença Hemorroidária, Rev Port Coloproct. 2010; 7(1): 28-31

Doenças relacionadas