O que é?

O fígado exerce diversas funções no organismo tais como as relacionadas com a digestão, armazenamento de energia ou remoção de toxinas.

Uma hepatite é uma inflamação deste órgão que pode ter diversas causas, sendo as mais comuns os vírus. Quando ocorre, o fígado não consegue desempenhar as suas funções e as lesões nele causadas podem evoluir para cirrose ou cancro. Uma vez que existem vários tipos, a sua gravidade é muito variável. Algumas formas resolvem-se apenas com repouso, enquanto que noutros casos pode haver necessidade de recorrer a um tratamento mais complexo que permita controlar a evolução da doença sem a curar.


Dentro das hepatites contraídas por bactérias ou vírus, existem seis tipos diferentes de vírus: A, B, C, D, E e G.

A hepatite A e E resulta da ingestão de água ou alimentos contaminados. A B, C e D requerem o contacto do vírus com o sangue do paciente a partir de outros fluidos, como pode ocorrer numa relação sexual, numa transfusão de sangue, na partilha de seringas ou na transmissão da mãe para o filho durante a gravidez. Descoberta recentemente, a G é transmitida, sobretudo, pelo contacto sanguíneo. As formas virais, mais comuns, são responsáveis por milhares de casos em todo o mundo. Na hepatite B e C é frequente a evolução para uma doença crónica.

A hepatite A é frequente em Portugal. De um modo geral, surge na infância ou na fase de adulto jovem. Cura-se ao fim de três a cinco semanas e não evolui para doença crónica. Raramente exige internamento hospitalar. Inicialmente assemelha-se a uma gripe com febre, dores musculares e mal-estar geral, depois surge icterícia, falta de apetite e vómitos. Não há um medicamento específico e o tratamento passa pelo repouso e por uma dieta rica em proteínas e baixa em gorduras. Embora seja uma forma pouco grave, pode ser fatal em zonas com escassas condições sanitárias. A sua prevenção passa por medidas de higiene como lavar as mãos sempre que se contacte com materiais potencialmente contaminados e, no caso de se ir para a Ásia, África ou América Central e do Sul, optar por beber água engarrafada e ingerir alimentos embalados. Existe uma vacina que é recomendada para pessoas que viajam com frequência ou que permanecem longos períodos em países onde a doença é comum.

A hepatite B é, talvez, a mais perigosa e grave, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Pode tornar-se crónica e pode ser fatal, evoluindo para cancro do fígado. As principais formas de contágio são o contacto sexual e a partilha de seringas entre os que utilizam drogas injetáveis. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em todo o mundo este tipo já infetou dois mil milhões de pessoas e causa a morte a 600 mil por dia. Em Portugal, a hepatite B afeta cerca de 1% a 1,5% da população. Nas formas agudas, o tratamento passa pelo repouso. Nas formas crónicas, recorre-se a medicamentos como os interferões e outros também utilizados para controlar a infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana. Embora sendo uma forma grave, pode ser prevenida, pela vacinação que tem uma eficácia de cerca de 95%. Esta é administrada em três doses e está incluída no Programa Nacional de Vacinação.

A hepatite C evolui com muita frequência para formas crónicas. Estima-se que existam 150 mil doentes com este quadro em Portugal. Os principais afetados são os consumidores de drogas injetáveis e as pessoas que receberam uma transfusão de sangue antes de 1992. O contacto sexual é uma forma possível de infeção, embora menos comum. Pode evoluir para doença hepática grave e é, em Portugal, a principal origem do cancro do fígado (60% dos casos) e uma das mais importantes causas de cirrose (25% das ocorrências). O tratamento da hepatite C crónica faz-se com peginterferão, associado ou não a outros medicamentos. Em situações de doença hepática avançada, pode ser necessário um transplante de fígado. Os dados da Organização Mundial da Saúde referem que existem cerca de 150 milhões de pessoas infetadas com este vírus e que morrem por ano mais de 350 mil por doença hepática relacionada com a hepatite C. Não existe vacina.

A hepatite D ocorre apenas em doentes com o vírus do tipo B, aumentando a gravidade dessa infeção. O contágio é feito pelo contacto com sangue contaminado ou fluidos sexuais. Embora não exista vacina para este tipo, uma vez que o mesmo só pode infetar doentes com tipo B, a imunização contra a hepatite B previne igualmente a infeção por este vírus.

A hepatite E transmite-se pelo consumo de água ou alimentos contaminados e, de um modo geral, não evolui para a cronicidade. O risco de complicações é mais elevado nas grávidas. Esta hepatite atinge cerca de 4,2% da população portuguesa e já existe vacina testada, embora ainda não comercializada.

A hepatite G foi descoberta mais recentemente. Desconhecem-se, ainda, todas as formas de contágio possíveis, mas sabe-se que é transmitida, sobretudo, pelo contacto sanguíneo.

Sintomas

A maior parte das vezes não se associa a quaisquer sintomas. Quando ocorrem, os mais comuns são fadiga, perda de apetite, náuseas, vómitos e diarreia, urina escura e fezes claras, dores abdominais, e coloração amarela da pele e dos olhos (icterícia).  Uma hepatite pode tornar-se crónica e ode evoluir para uma lesão mais grave no fígado, como a cirrose ou mesmo para o cancro do fígado, quando o quadro clínico persiste por mais de seis meses. Todos os tipos de hepatite exigem uma consulta médica e um acompanhamento adequado.

Causas

Podem ser provocadas por agentes infeciosos, como bactérias ou vírus, ou pelo consumo de álcool, medicamentos e algumas plantas. Existem ainda as hepatites autoimunes, nas quais o sistema imunitário ataca as células do fígado. Este tipo atinge sobretudo as mulheres, entre os 20 e os 30 anos e entre os 40 e os 60 anos.

Diagnóstico

Pela observação médica e pela história clínica do paciente, conjugados com os exames laboratoriais que se considerem apropriados.

Tratamento

De um modo geral, numa fase aguda, o tratamento passa essencialmente por permitir que o fígado possa recuperar, sendo importante o repouso físico e a dieta. O recurso a medicamentos específicos é importante nas formas mais graves e crónicas, e deve ser sempre avaliado caso a caso. Estes fármacos procuram limitar a multiplicação do vírus e, desse modo, reduzir as lesões causadas ao fígado.

Prevenção

A hepatite pode ser uma doença grave e difícil de tratar. A prevenção eficaz começa no comportamento de cada pessoa.

A hepatite A é causada pelo vírus da hepatite A (VHA) e transmite-se fundamentalmente pela comida contaminada e pela água não tratada.

  • Prevenção da hepatite A: 
    • Lavar as mãos com água e sabão depois de ir à casa de banho
    • Consumir apenas alimentos que acabaram de ser cozinhados
    • Beba água engarrafada comercialmente ou fervida se não se tiver a certeza do saneamento local
    • Comer frutas descascáveis ​​se se estiver num local com saneamento impróprio
    • Só deve comer vegetais crus na certeza de que foram limpos ou desinfetados completamente
    • Fazer a vacina contra a hepatite A antes de viajar para lugares onde esta é endémica

A hepatite B é causada pelo vírus da hepatite B (VHB) e transmite-se pelo contacto com sangue, semen e outros fluidos do corpo. Pode ser transmitida por via sexual

  • Prevenção da hepatite B:
    • Informar qualquer parceiro sexual se se é portador do vírus ou avaliar se ele é portador da doença
    • Praticar sexo seguro usando preservativos
    • Utilizar apenas agulhas esterilizadas e descartáveis
    • Não partilhar escovas de dentes, lâminas de barbear ou instrumentos de manicura
    • Só permitir o uso de equipamentos perfurantes da pele devidamente esterilizados (tatuagem, piercing ou acupuntura)
    • Fazer a vacinação contra a hepatite B se se estiver em risco

A hepatite C adquire-se habitualmente por via injetável a partir de seringas infetadas

  • Como prevenir a hepatite C
    • Não partilhar agulhas, escovas de dentes ou instrumentos de manicura
    • Verificar se o equipamento está devidamente esterilizado antes de fazer um piercing
    • Consumir álcool com moderação
    • Não injetar drogas ilegais

As hepatites A e C são curáveis, mas a B é evitável apenas com a vacina. A cura ainda está em desenvolvimento.

Fontes:

World Health Organization, Julho 2012

U.S. National Library of Medicine, National Institutes of Health, Março de 2013

SOS Hepatites Portugal, Março 2011

Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado

Marinho, R. T., A Hepatite E existe em Portugal? Claro que sim, J Port Gastrenterol., 16 (5): 185-186, Nov. 2009