Cancro da mama: um diagnóstico inesperado

Conheça a história de Rayane Dutra

Rayane Dutra, analista de marketing, 33 anos.

Em 2022, enfrentou um diagnóstico inesperado de cancro da mama. Hoje, já com os tratamentos realizados, partilha a sua experiência e como foi fundamental todo o apoio que recebeu da equipa que a acompanhou. Conheça a história na primeira pessoa.

Em julho de 2022, quando terminara a amamentação do meu filho, que na altura tinha um ano e meio, senti um nódulo na mama esquerda, porém, não fiquei nada alarmada, tendo em vista que sabia que tinha nódulos naquela mama pois fazia anualmente acompanhamento deles, que até então eram benignos. Afinal, o que poderia acontecer de mal a uma mulher de 31 anos e a uma mama que acabou de amamentar um bebé?

Não me preocupei muito na altura e só quando estava na altura de realizar os meus exames de rotina, marquei consulta de Ginecologia. Já na consulta e após palpação e avaliação do meu histórico, a ginecologista direcionou-me para a ecografia mamária. Ao realizar a ecografia, a médica radiologista solicitou biópsia que em poucos dias ficou pronta e atestava o diagnóstico que ninguém quer ter: carcinoma invasivo de grau 3, com comprometimento da axila.

As memórias visuais parecem ter desaparecido. Hoje eu apenas consigo ouvir claramente a médica a me dizer: é maligno. Você precisa ser forte.

A partir dali tudo aconteceu muito rápido. Foram realizados vários exames, consultas e procedimentos, tudo muito bem acompanhado pela equipa da Unidade da Mama e pela fantástica Dra. Catarina Gama Pinto, que me explicou tudo o que eu precisava saber naquele momento e me deixou mais segura diante
daquilo tudo.

Foram 9 dias angustiantes, mas ao mesmo tempo me sentia tão cuidada.

O tratamento

A primeira quimioterapia aconteceu em 26/12/2022 e duas semanas após esta primeira sessão, precisei ficar internada na CUF devido a baixa nos glóbulos brancos e infecção. Foram 9 dias angustiantes, mas ao mesmo tempo me sentia tão cuidada. A equipa da CUF, de forma multidisciplinar, me acompanhou desde o princípio, estavam mesmo todos empenhados em me tirar daquela situação. E assim aconteceu.

Foram ainda mais 5 sessões de quimioterapia, até que não consegui mais avançar com as sessões porque o sistema imunitário já não conseguia se restabelecer no tempo devido. Foi mais um choque para mim. De um total de 16 sessões prescritas, eu apenas consegui fazer 6. O Dr. Diogo Costa, oncologista que me seguia, então me informou que iríamos partir para a cirurgia e para eu não me preocupar que aquilo que estava a acontecer era um sinal do meu corpo a dizer que não precisa mais de quimioterapia. Eu me agarrei com fé em Deus e no que o Dr. Diogo tinha me falado e fui fazer a ressonância magnética.

 

Já na Consulta da Mama contei à Dra. Catarina tudo o que me tinha acontecido. Ainda muito abalada eu falei pra ela que o meu corpo não tinha dado conta de terminar o tratamento. E por mais que ela seja uma pessoa extremamente otimista, neste momento não conseguiu de todo esconder um ar preocupado. "Vamos lá ver essa ressonância", disse ela. Uns segundos de silêncio que pareciam horas e logo depois estava ela a saltar da cadeira e a dar pulos de alegria, dizendo que tínhamos conseguido resposta completa ao tratamento.
Ficamos muito emocionadas e felizes!

Partimos para a cirurgia que foi um sucesso! Realizamos mastectomia total com reconstrução imediata. Todo o material retirado na cirurgia foi analisado em anatomia patológica e não foram encontradas células malignas em atividade.

jovem mulher a receber tratamento de quimioterapia em hospital de dia

Esta foi um fase menos boa que ninguém quer viver, mas deixa muitas lições. A primeira é de nunca esquecer de cuidar de si e sempre, SEMPRE ouvir o seu corpo. A segunda é que, independente do que aconteça, nunca perca sua fé! Confie em Deus e nos médicos que você escolheu para te acompanhar nesta caminhada.

Durante o processo é preciso ressignificar algumas coisas, como por exemplo, o ambiente hospitalar. Por isso é tão importante escolher um hospital com uma equipa que também seja humana. A CUF foi palco do pior dia da minha vida, mas também foi ali que eu recebi os tratamentos eficazes que me fizeram seguir viva, além de muitos miminhos de toda equipa.

 

É brutal a mudança que o cancro causa nas nossas vidas

Os desafios do cancro da mama

É brutal a mudança que o cancro causa nas nossas vidas, porque as consequências acabam afetando praticamente todas as áreas: conjugal, financeira, profissional. Eu por exemplo tinha uma pequena empresa de marketing digital que atendia clientes no Brasil, mas durante essa fase ficou impossível de conciliar tratamento, empresa, casa e filho. Então deixei a minha vida profissional  de lado porque no momento não era a minha prioridade. E mesmo após dois anos, ainda não consegui retornar ao trabalho.

Com o meu filho às vezes é difícil, porque tem dias que fisicamente estou a sentir dores devido aos medicamentos que faço e ele enquanto criança quer brincar com a mãe. Converso e digo-lhe que hoje a mãe não está bem para brincar às apanhadas, mas que tal fazermos um puzzles juntos? A verdade é que quase tudo a partir do cancro vai precisar de adaptação e flexibilidade.

O regresso à "normalidade"

Cada dia sinto, mesmo que a passos curtos, um respiro de normalidade. Não sei se normalidade é bem a palavra certa, porque não acredito que a vida será como antes. Mas sair do meio daquela tempestade e ir para uma chuva fina, nos dá um pouco mais de confiança e esperança de que dias melhores virão. Hoje me sinto muito bem, apesar de tudo o que me aconteceu. Continuo a ter acompanhamento bimensal em oncologia e anualmente em consultas da mama.

jovem família a comemorar o aniversário do seu bebé

Uma mensagem para todas as mulheres

A prevenção pode poupar-lhe muito sofrimento, e talvez até a vida. Jamais negligencie sua saúde, em qualquer hipótese. Ao notar qualquer coisa fora da normalidade, procure um médico. Um dos meus erros foi achar que eu era muito nova para que isso me acontecesse e não tratei a situação com a velocidade que necessitava, mas basta pesquisar um pouco que você consegue perceber quantas notícias existem a relatar que a quantidade de casos em mulheres jovens tem crescido de forma considerável.

Outra conselho que dou é, se na sua família existe histórico de casos, o cuidado deve ser redobrado. Procure um médico geneticista e faça um estudo genético para saber se existe em você alguma mutação que predisponha o aparecimento do cancro da mama. Seja uma incentivadora da prevenção!

Eu virei a fiscal da prevenção na minha família!! Aconselho a fazer os exames, a se cuidarem. Tenho uma irmã que ela tem trauma de fazer exames devido a uma situação que ela passou na adolescência, e fiquei muito feliz que depois de muito conversar com ela, ela conseguiu ultrapassar esse trauma e realizar o seu check-up. Um dia acordei com uma mensagem dela me agradecendo muito emocionada que tinha conseguido realizar até biopsia (que a médica tinha passado há pelo menos 5 anos) e ela finalmente encarou o exame. Se eu puder colaborar 1% para que outras mulheres não passem pelo que eu passei, eu já me sinto muito feliz e minha vida faz ainda mais sentido.

 

E por fim, cerque-se de pessoas que te amem e apoiem. Meu esposo foi incansável, não me deixou só em nenhum tratamento ou consulta. Toda minha família estava muito empenhada em tornar esse momento um pouco mais fácil pra mim e isso me deu muita força. Eu só tenho a agradecer a todos eles e ao meu pequeno Miguel, que é o meu principal motivo para viver.

 

Cancro da mama

Conheça os principais sinais de alerta e fatores de risco do cancro da mama.

jovem mulher sobrevivente de cancro da mama fundo rosa