Viver com cancro do pulmão metastizado

A história de Lurdes Bessa

Lurdes Bessa tem 63 anos e vive há mais de 6 com um Cancro do Pulmão metastizado. Mãe, avó, mulher, dona de um sorriso desarmante e de uma vontade de viver ímpar, Lurdes nunca teve medo do tratamento ou do Hospital, nem nos momentos menos felizes.

O diagnóstico inesperado

Há 6 anos atrás fortes dores de cabeça levaram-na ao Atendimento Permanente do Hospital CUF Porto. Na primeira visita tentaram um tratamento direcionado para a dor de cabeça, que não se revelou eficaz. À segunda vez a equipa médica percebeu que algo não estava bem e nessa noite já não voltou para casa. Entre uma bateria de exames e um internamento, no dia seguinte, Lurdes recebeu a pior das notícias: um Cancro do Pulmão estadio 4, com metástases cerebrais, um contexto de situação clínica com prognóstico reservado.

Nessa noite, Lurdes percebeu que a situação era grave, mas em vez de entrar em pânico, decidiu preparar-se mentalmente para o que viria a seguir.

 

No dia seguinte a equipa médica explicou o que se passava: o caso era grave mas iriam iniciar tratamento de imediato - para o tumor primário no pulmão e para as metástases. “Nunca entrei em pânico”, conta. Só fez um pedido à equipa médica: que “falassem sempre comigo em primeiro lugar antes de dizer seja o que fosse à minha família”. E assim foi. 

 

Testemunho Lurdes Bessa cancro do pulmão Porto

“Senti-me sempre muito bem informada e acompanhada”

O longo caminho do tratamento

O apoio da família foi total - Lurdes foi o primeiro caso de cancro da família e, segundo a própria, e pelo menos à sua frente, reagiram sempre de forma muito positiva e com muita esperança no tratamento. 

Tratamento este que não foi simples, mas foi sempre encarado com um grande sorriso e vontade de viver. Numa primeira fase, Lurdes ficou internada durante algum tempo: fez radiocirurgia à cabeça, pulmão e coluna e iniciou terapêutica alvo. Esta fase foi feita de muitos contratempos e momentos menos bons: chegou a passar pelos Cuidados Intensivos e a estar “quase sete meses seguidos internada”. Mas a esperança nunca esmoreceu. Mantém-se até hoje em tratamento com a doença controlada.

Um serviço essencial - os Cuidados Paliativos

Lurdes beneficiou do acompanhamento muito precoce da equipa de Cuidados Paliativos do Hospital CUF Porto o que tem permitido, desde o diagnóstico, ter um grande controlo da dor e de outras co-morbilidades associadas ao tratamento e, ao mesmo tempo, ter a sua vida familiar e social normalizada. “Senti-me sempre muito bem informada e acompanhada” conta Lurdes, desde logo pela sua médica assistente, “a Professora Bárbara Parente que sempre fez questão de me manter informada de tudo”. 

Na primeira pessoa, Lurdes Bessa conta-nos a sua experiência nos Cuidados Paliativos do Hospital CUF Porto:

"Fiquei internada nos Cuidados Paliativos logo quando me detetaram o cancro, em janeiro de 2016. Fiquei logo internada porque cheguei mesmo muito mal. Já estava num estado muito avançado da doença. Achava que tinha pouco tempo de vida. Fiquei um mês nesse primeiro internamento e fizeram-me todos os exames. Não tive grande reação porque eu ia tão mal que as pessoas falavam e eu nem me apercebia que estavam a falar de mim, da minha doença. Eu só queria morrer. Mas na primeira noite dormi tão bem que quando acordei já não me doía a cabeça e liguei para o banco a dizer que estava internada, mas que já me sentia melhor e que me ia embora. Eu não tinha mesmo noção da minha gravidade."

 

A perceção sobre o que são Cuidados Paliativos

"Antes de ter a doença, provavelmente a minha perceção era a de muita gente, naquela altura era a de que se ia para Cuidados Paliativos para se morrer. Era para ajudar as pessoas em fim de vida a morrerem sem dor, com alguma qualidade e dignidade. Mas como entrei e fiquei melhor, e de todas as vezes que lá estive, melhorei, associo mais a recuperação, a recuperar a vida. Os Cuidados Paliativos salvaram-me."

 

O impacto dos Cuidados Paliativos na sua vida

"Os Cuidados Paliativos fizeram toda a diferença porque, por exemplo, tive um internamento de 8 meses, que foi duro porque tinha uma pancreatite e isso é incompatível com uma doença oncológica, mas a verdade é que aquela equipa esteve sempre comigo, sempre de volta de mim a tentarem fazer de tudo para que eu ficasse melhor todos os dias."

Lurdes conta também que uma das coisas que mais a marcou durante o Internamento foi o acompanhamento da equipa de Nutrição: “como tive muitas dificuldades na alimentação após os primeiros tratamentos, não me largaram enquanto não conseguiram fazer com que eu comesse normalmente; isso foi fundamental para não perder as forças e conseguir regressar a casa sem limitações. Perdi muito peso, cheguei aos 30 kilos porque não conseguia comer. Até que houve uma médica, muito jovem, a Dra. Antónia Ruela que me disse que precisava da minha ajuda para um trabalho de investigação que estava a fazer. Precisava que eu comesse duas colheres e que depois lhe contasse como me tinha sentido. No dia seguinte que comesse quatro. Quando dei conta, estava a comer."

"Toda a equipa é de louvar, nunca baixaram os braços, desde a minha médica, a Prof.ª Bárbara Parente, à equipa dos Cuidados Paliativos, a Dra. Carolina, a Enfermeira Graça, todos! Deixavam-me estar com as minhas visitas até tarde, o que me deu também muita força. Até a comida era boa! toda a equipa foi escolhida a dedo para ali estar. Fizeram-me acreditar que vale a pena lutar."

 

Uma mensagem de esperança

"Esperança de vida porque sempre me salvaram. Acredito mesmo nisto, por tudo o que aquela equipa fez por mim. Em todas as situações, nunca baixaram as armas, nunca desistiram de mim, fizeram-me viver e eu quero é viver. Se for para ser internada, tem de ser ali, com aquela equipa.

 

No início, deram-me cerca de três anos de vida, então de três em três anos comemoro a minha vida e faço questão de passar no hospital para cumprimentar toda a equipa que me acompanhou.

 

"A minha fé e esperança serão sempre maiores que o medo"

Mas Lurdes acredita que a sua postura em relação à doença ajudou sempre no percurso: “nunca tive medo e sempre fui muito positiva. Encarei sempre a doença como um percurso que faz parte da minha vida. Não tenho medo de vir ao hospital; já é a minha segunda casa e as equipas médicas e de enfermagem já são uma segunda família. Quando sinto que algo não está bem, peço ajuda. Os médicos não adivinham tudo e se não dissermos que algo não está bem pode ser depois tarde demais quando descobrirem”.

Por fim, Lurdes não tem dúvidas: “a minha fé e esperança serão sempre maiores que o medo” e deixa um conselho: “não tenham receio de hospitais e de dizer ao vosso médico que algo não está bem”.

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