Cancro da próstata: o urologista responde
Tem dúvidas sobre cancro da próstata? Frederico Carmo Reis, urologista CUF, esclarece-as neste vídeo: dos sintomas aos tratamentos disponíveis.
Sabia que o cancro da próstata representa um quinto de todos os tumores diagnosticados no sexo masculino, sendo a maioria (75%) descobertos acima dos 65 anos de idade? O sucesso no tratamento deste tipo de tumor, conhecido por ser silencioso numa fase inicial, é a vigilância atenta e precoce. Para que não restem dúvidas acerca desta doença oncológica, conte com os esclarecimentos de Frederico Carmo Reis, urologista CUF, que responde às perguntas deixadas no Facebook da CUF.
Quais os principais sintomas do cancro da próstata?
O cancro da próstata é aquilo a que podemos chamar de “doença silenciosa”. Segundo nos explica o urologista CUF Frederico Carmo Reis, “o problema do cancro da próstata é a inexistência de sintomas numa fase inicial. Normalmente, as primeiras queixas que o homem apresenta são associadas ao normal crescimento da próstata, que só numa fase muito tardia, em que o tumor da próstata se agrava, é que pode de facto haver sintomas como dores ósseas, deixar de urinar ou urinar sangue”. Daí ser tão importante a vigilância atenta e regular da saúde do homem.
Fatores de risco do cancro da próstata
Não se conhecem ainda na totalidade os fatores de risco que podem favorecer o desenvolvimento de cancro da próstata. “Sabemos que pode haver uma associação ao histórico familiar, à raça (é mais prevalente na raça negra) e à idade (o envelhecimento naturalmente traz mais problemas)”, enumera o urologista CUF, acrescentando que “o resto ainda se está a tentar descobrir, como, por exemplo, a associação com a alimentação, com o desporto (a sua ausência) e até com o stress. Contudo, estes fatores ainda estão pouco definidos”.
O cancro da próstata pode ser hereditário?
Quando um homem tem um familiar direto com cancro da próstata, o seu risco de vir a desenvolver este tumor é sempre superior. “Sabemos que o cancro da próstata é hereditário no sentido em que há uma maior probabilidade de ter este tumor quando um pai ou um irmão o tem”, explica o especialista em Urologia, exemplificando: “Se o tumor da próstata for descoberto num pai/irmão numa idade inferior a 50 anos, a possibilidade de o homem ter um tumor é sete vezes superior ao normal. Se esse mesmo tumor já for descoberto num pai/irmão após os 65/70 anos de idade, esse risco é só quatro vezes superior”. E por que razão há sempre um risco aumentado? “Ainda não está bem identificado como é que este cancro passa de pai para filho, mas sabemos que existe esta associação. É por isso que nestes casos temos de estar mais atentos e de uma forma mais precoce”, frisa.
O que é o exame do PSA?
“O PSA (Antigénio Específico da Próstata) foi uma das grandes descobertas da comunidade científica”, afirma Frederico Carmo Reis. Os seus níveis podem ser medidos através de uma análise ao sangue e “um valor mais elevado pode estar associado a um tumor. No fundo, é um sinal de alerta. Quando este valor começa a ser persistentemente elevado, leva-nos a pesquisar e a tentar dar o passo seguinte que é eventualmente fazer a biópsia para obter um diagnóstico”, explica.
Mas é possível ter os níveis de PSA normais e, ainda assim, ter cancro da próstata? A resposta é “sim”: “Em vários doentes, numa percentagem que não é desprezível e que pode às vezes chegar aos 20%, podemos encontrar um tumor perante uma análise perfeitamente normal”, esclarece. Segundo o urologista CUF, “é por isso que não existe uma única forma de tentar descobrir um tumor da próstata. Normalmente, o seu diagnóstico é baseado em alterações de três pontos-chave:
- Análise de sangue, nomeadamente aos níveis de PSA
- Alterações na ecografia
- Alterações da textura da próstata, identificadas através do toque retal”
O cancro da próstata deve ser sempre tratado?
“O grande objetivo da medicina é trazer qualidade de vida à pessoa, normalmente, fazendo com que ela faça o seu percurso natural sem obstáculos e sem que esta termine mais cedo”, afirma Frederico Carmo Reis, explicando que “há uma tendência natural para tratar tudo aquilo que se descobre e que possa fazer mal, entre os quais o tumor da próstata. Em algumas situações, essa necessidade de tratar não é tão marcada. Quando o tumor é identificado numa idade extremamente avançada, em que o próprio tratamento prejudica a qualidade de vida, provavelmente o próprio doente não o desejará fazer. Por outro lado, há certas situações em que o tumor é descoberto numa fase tão inicial que, quando bem explicado ao doente e se este concordar, podemos protelar no tempo a nossa atitude”. Resumindo: “Nem sempre temos de tratar o cancro da próstata, mas há uma tendência natural em explicar bem a doença ao doente para que ele consiga decidir também connosco qual é a melhor altura para fazê-lo”, refere.
Quais são as opções de tratamento disponíveis?
O primeiro passo após o diagnóstico do cancro da próstata é perceber se é curável. “Normalmente, a cura passa ou por tratamentos cirúrgicos - em que se remove a próstata e o tumor - ou por tratamentos não cirúrgicos, como a radioterapia ou braquiterapia, em que a próstata e o tumor são tratados no local”, explica. “Quando a doença se afasta da próstata e cria ‘sementes’ e ‘raízes’ noutras partes do corpo, fazemos um tipo de tratamento que também tem de ir lá buscá-las, recorrendo a opções que retiram o alimento que ajuda a próstata a crescer: a testosterona, uma hormona presente nos testículos. Caso esta terapêutica não seja suficiente, temos ainda a quimioterapia”, afirma o médico urologista, referindo ainda que, “numa fase inicial, tentamos tratar a próstata onde ela está; numa fase mais tardia, tentamos tratar a próstata em todo o corpo”.
Incontinência urinária ou disfunção sexual após a cirurgia
A cirurgia para o tratamento do cancro da próstata implica “a remoção de um componente muito importante que funciona como mecanismo de conter a urina e, numa fase inicial, este pode ficar um pouco instável. No entanto, na maioria das vezes, em 80% dos doentes, esta função é recuperada três meses após a intervenção, sobretudo quando são utilizadas técnicas mais modernas, como a cirurgia robótica”, explica Frederico Carmo Reis. Já no que diz respeito à função sexual, “inicialmente, a ereção pode sofrer algum impacto, do qual muitas vezes se recupera. A grande alteração que o doente vai notar após a remoção da próstata é que, mesmo que tenha uma ereção e um orgasmo, não vai voltar a ejacular”, pois sem esta glândula não há produção de esperma, esclarece.
Visite o seu urologista com regularidade
Não se sabe ainda exatamente como prevenir o cancro da próstata, “o que queremos e devemos tentar fazer é prevenir as consequências de ter esse mesmo tumor”, afirma Frederico Carmo Reis. Ainda assim, é importante adotar hábitos de vida saudáveis, quer a nível de exercício físico como de alimentação e até de gestão do stress.
O médico urologista é o principal responsável pela saúde masculina - que inclui próstata, bexiga, rins, transporte da urina, testículos - e é importante que o homem seja por ele observado com regularidade. “Quando a doença é descoberta numa fase mais tardia, mais difícil é de tratar e o impacto no seu dia a dia vai ser maior”, alerta Frederico Carmo Reis.