Cancro oral: conheça os sinais de alerta
Este é o 6º cancro mais frequente em todo o mundo. Saiba como a consulta de medicina dentária pode ser uma aliada na prevenção do cancro oral.
Ao longo dos últimos anos, e à semelhança do resto da Europa, tem-se assistido a um aumento regular da incidência de cancro nos portugueses, atingindo números que se aproximam dos 1600 novos casos de cancro da cavidade oral e faringe por ano.
De acordo com a Ordem dos Médicos Dentistas, este é o 6º cancro mais frequente em todo o mundo.
É mais comum nos homens, acima dos 45 anos, sendo que, em Portugal, de acordo com o Registo Oncológico Nacional de 2018, os tumores da cavidade oral encontram-se entre os cinco tumores mais frequentes no sexo masculino.
Esta alta incidência torna-se particularmente preocupante quando consideramos que o cancro oral ainda carrega uma elevada taxa de mortalidade em Portugal, superior a 60% aos 5 anos após o diagnóstico e tratamento, sendo um dos piores países da Europa neste indicador por atraso no diagnóstico. O diagnóstico precoce deve ser o objetivo a atingir, facilitando o tratamento, tornando-o mais efetivo, melhorando o prognóstico e a sobrevivência.
Sinais de alerta
As lesões podem aparecer em qualquer zona da cavidade oral:
- lábios
- palato (céu da boca)
- língua
- pavimento da boca (área por baixo da língua)
- gengivas
- bochechas
- garganta
Numa fase inicial, é comum o cancro oral parecer ser uma afta ou ferida que não cicatriza, ou um nódulo, ou aumento de volume das mucosas, tipicamente rígido e persistente. No início é geralmente assintomático, sendo que, gradualmente, estas lesões tendem a manifestar-se de forma dolorosa.
Existe ainda um grupo de lesões que, não sendo malignas, têm alguma probabilidade de o virem a ser. São as chamadas lesões potencialmente malignas e a mais comum é a leucoplasia. Apresenta-se como uma placa branca, mais tipicamente única e homogénea, que não desaparece ao ser raspada com uma compressa. A deteção e remoção total de lesões potencialmente malignas é a verdadeira intervenção precoce no cancro oral, uma vez que elimina o risco de transformação maligna dessa lesão.
Quando detetadas pelo médico dentista, estas lesões são sujeitas a biópsia. No caso de diagnóstico de cancro oral, o tratamento será posteriormente planeado por uma equipa multidisciplinar e envolve a remoção cirúrgica da lesão, muitas vezes acompanhada de quimioterapia ou radioterapia.
Como reduzir o risco de cancro oral?
Sabemos que muitos casos de cancro oral podem ser prevenidos. Quando não é possível, o diagnóstico precoce salva vidas.
Consulta de rotina
O médico dentista está na linha da frente para a deteção precoce do cancro oral. A consulta de medicina dentária, na qual se inclui o rastreio do cancro oral, deverá ser realizada a cada 6 meses.
Vigilância
Entre consultas é importante que realize o autoexame em casa: uma vez por mês, em frente ao espelho, abra a boca e observe. Habitue-se a observar a sua anatomia normal e esteja atento a alterações e sinais de alerta como:
- Aftas ou úlceras que não desaparecem em 2-3 semanas
- Lesões brancas e/ou vermelhas, normalmente sob a forma de manchas ou placas nas mucosas
- Nódulos ou massas endurecidas, com ou sem dor associada
- Dificuldade em deglutir
- Limitação dos movimentos da língua
- Parestesias (perdas de sensibilidade)
- Linfoadenopatias (aumento de gânglios linfáticos)
Estilo de vida
É estimado que cerca de 43% das mortes por cancro estejam relacionadas com o estilo de vida. Algumas orientações importantes:
-
Cessação tabágica e redução do consumo de álcool
O tabaco e o álcool continuam a ser os principais fatores de risco. A ingestão de 3 a 4 bebidas alcoólicas por dia duplica o risco de cancro oral. Os fumadores têm um risco 5 a 7 vezes superior de desenvolverem esta doença. Estas probabilidades disparam quando ambos os hábitos estão associados.
-
Aumentar o consumo de frutas e vegetais
Um padrão alimentar saudável, focado na baixa ingestão de carne vermelha e na ingestão generosa de frutas e vegetais, reduzirá o risco de cancro. As vitaminas e antioxidantes das frutas e vegetais aceleram o sistema imunitário e, por isso, ajudam a protegê-lo. Por exemplo, concentrações mais altas de carotenos, encontrados em vegetais como a cenoura e a abóbora, estão associados a um risco menor de tumores mais agressivos.
-
Cozinhar de forma mais saudável
Para obter o máximo de nutrientes das frutas e vegetais tenha atenção à forma como escolhe confecioná-los. Em vez de fritar, é melhor assar, ferver, grelhar ou cozinhar a vapor. Cozinhar de forma saudável também ajuda a manter o peso ideal. A obesidade é cada vez mais considerada um fator de risco para o cancro, em geral.
-
Usar proteção solar sempre
A exposição solar excessiva é a principal causa de cancro do lábio. Use proteção solar diariamente, incluindo nos lábios.
-
Reduzir o risco para o HPV
A evidência do papel de alguns agentes infecciosos na origem do cancro oral, como é o caso do vírus do papiloma humano (HPV), é crescente. Está provado que a vacina do HPV funciona como prevenção não só para o cancro do colo do útero, mas também para o cancro da cabeça e pescoço.
Registo Oncológico Nacional 2018
International Agency for Research on Cancer (IARC). World Cancer Report 2020. World Health Organization
Barómetro da Saúde Oral, 2018. Ordem dos Médicos Dentistas
Ordem dos Médicos Dentistas, dezembro de 2021
WebMD, dezembro de 2021
Lopez AD, Mathers CD, Ezzati M, Jamison DT e Murray CJI. Global burden of disease and risk factors. Washington: The Word Bank/Oxford University Press 2006