CUF Medicina Dentária convida... Oncologia
Teresa Girão, médica dentista, e Diogo Alpuim, oncologista, conversam sobre a relação entre Medicina Dentária e Oncologia. Veja o vídeo.
Cancro oral, autoexame da boca, hábitos de vida saudáveis, tratamentos oncológicos. É sobre estes assuntos que se fala no quarto episódio de "CUF Medicina Dentária convida...", que tem como tema protagonista a relação entre a Medicina Dentária e a Oncologia. Para nos explicar em que momentos devem estas especialidades trabalhar em conjunto, contamos com Teresa Girão, médica dentista, e Diogo Alpuim, oncologista.
"Existe muito a ideia de que a saúde oral e a saúde geral são dois conceitos distintos, mas não. Não podemos ter um sem ter o outro", alerta Teresa Girão. Sobre o trabalho em equipa, Diogo Alpuim refere ainda que, muitas vezes, é a Medicina Dentária "a identificar patologia oncológica da cavidade oral". Contudo, o papel desta especialidade não é apenas o de diagnóstico. Por exemplo, "antes de os doentes fazerem determinados tratamentos oncológicos, nomeadamente, quimioterapia e radioterapia, é muito relevante uma observação prévia pela Medicina Dentária", explica o oncologista, defendendo a importância de uma abordagem multidisciplinar. Assista à conversa.
Sobre o cancro oral
O cancro oral "é uma doença bastante complexa e heterogénea", explica Diogo Alpuim, acrescentando que, "em Portugal, estamos a falar de cerca de 1000 casos por ano, que já é um número bastante assinalável".
Quanto a fatores de risco, há vários, mas alguns têm um impacto mais significativo. É o caso, por exemplo, do álcool e do tabaco, que "representam 80 a 85% das causas deste tipo de cancro da cavidade oral", alerta Diogo Alpuim, referindo ainda a presença de patologia crónica da cavidade oral, como a doença periodontal, que pode ser fator de risco para este tipo de cancro. O estado da saúde oral tem também um papel importante e, por isso, é fundamental ter "cuidados com a alimentação e observação regular pela Medicina Dentária. Tudo isto, de alguma forma, vai influenciar na diminuição do risco ou pelo menos a deteção precoce deste tipo de cancro", afirma o oncologista. De acordo com a médica dentista Teresa Girão, é "o diagnóstico tardio que faz depois com que este seja um cancro tão fulminante e que tenha uma taxa de mortalidade tão elevada", na ordem dos 60%. "Portugal é um dos países da Europa com o índice mais elevado", afirma.
A importância do diagnóstico precoce
Costuma olhar para a sua boca? Se não o faz, é altura de começar a fazê-lo. Isto porque o autoexame oral é uma das estratégias que permite a deteção precoce do cancro oral, através da identificação de sinais e sintomas e consequente consulta de um médico dentista e, eventualmente, de um oncologista. Além disso, é simples de colocar em prática: pode fazê-lo quando vai escovar os dentes.
Mas a que sinais e sintomas devemos estar atentos? Teresa Girão dá alguns exemplos:
- Ferida
- Úlcera que não cicatriza
- Afta
- Mancha
- Aumento de um volume ou um inchaço
Estes sinais podem manifestar-se "em várias áreas da cavidade oral, como, por exemplo, lábios, língua, céu da boca, gengivas, bochechas, garganta", enumera a médica dentista.
Estratégias para prevenir o cancro oral
A saúde oral é fundamental na prevenção do cancro oral e, nesse sentido, é importante adotar uma boa higiene diária, assim como o autoexame da boca, e consultar o médico dentista com regularidade (para quem não sofre de patologia crónica, a visita deve ser feita pelo menos de seis em seis meses; em casos de patologia crónica, as consultas poderão ter de ser mais regulares, conforme acordado com o médico dentista).
Além disso, sempre que possível, é recomendável "evitar o tabaco e o álcool, que representam as duas principais causas deste cancro", afirma Diogo Alpuim. Mas existem outros fatores a ter em consideração: "Fala-se cada vez mais do HPV, mais pela orofaringe, mas em 5% dos casos também é um agente que pode levar a este tipo de cancro", refere. Daí a importância de se fazer a vacina do HPV em crianças de ambos os sexos.
Tendo atenção a estes fatores, em combinação com "uma dieta equilibrada, estilos de vida saudáveis, reduzimos em muito a incidência deste tipo de cancro", afirma Diogo Alpuim.
O impacto dos tratamentos oncológicos na boca
Os tratamentos oncológicos, como quimioterapia e radioterapia, podem ter efeitos colaterais. "Um deles, ao qual temos de estar mais atentos, é a mucosite", que se trata da "inflamação da mucosa da cavidade oral e que pode influenciar muito em atividades tão frequentes como a mastigação, a deglutição e até a parte da fala", explica Diogo Alpuim. Daí ser essencial que todos os doentes, antes de iniciarem as sessões de quimioterapia ou radioterapia, sejam observados pela Medicina Dentária, antecipando complicações, diminuindo riscos e promovendo qualidade de vida. Segundo salienta Teresa Girão, idealmente, este acompanhamento deve manter-se após o fim do tratamento oncológico, "até porque muitos dos efeitos da quimioterapia e da radioterapia são tardios e, portanto, só aparecem algum tempo depois".