Doenças exantemáticas: guia para os pais
Doenças exantemáticas são doenças que têm manifestações na pele, como sarampo, varicela e escarlatina. Aprenda a identificar cada uma e saiba o que deve fazer.
As doenças exantemáticas são doenças infecciosas cujo exantema (manifestações cutâneas) é essencial para o diagnóstico. Estas crianças adoecem antes de surgirem as características típicas na pele. Perante uma doença com exantema, devemos sempre colocar as seguintes questões:
- Existem outros casos semelhantes na escola ou em casa, houve passeios no campo ou ingestão de medicamentos recentes? É que nem sempre exantema significa infeção, podendo também tratar-se de uma alergia.
- Quais são as características do período prodrómico (antes das manchas aparecerem)?
- Existem outras manifestações clínicas associadas (por exemplo, febre, tosse, olho vermelho)?
- Quanto ao exantema, qual foi o local de início, características, evolução e duração?
Algumas doenças exantemáticas
Sarampo
O sarampo é uma doença viral muito contagiosa, cuja incidência diminuiu drasticamente nos países desenvolvidos desde que se efetua a vacinação.
O sarampo que dá febre alta, rinorreia, conjuntivite e manchas avermelhadas, é um excelente exemplo dos benefícios que a vacinação universal pode trazer para a saúde.
Durante muitos anos o sarampo foi considerado a doença exantemática mais emblemática que originou o ditado “sarampo sarampelo, sete vezes vem ao pêlo”. Efetivamente, as crianças só tinham sarampo uma vez, mas podiam, e podem ter, outras doenças mais suaves que o povo chama sarampelo. Conheça melhor as causas, sintomas e tratamento do Sarampo.
Rubéola
A rubéola é outra das doenças exantemáticas que praticamente está erradicada dos países com vacinação.
A sua consequência mais temível é o aparecimento da doença na mulher grávida, sobretudo no 1º trimestre de gravidez, porque pode causar malformações graves ou morte do feto.
Na criança, sempre foi uma doença benigna, com febre baixa, exantema de predomínio no tronco pouco exuberante e cuja característica particular é a presença de gânglios palpáveis na região posterior da cabeça.
As mulheres em idade fértil que não tiveram rubéola e que não foram vacinadas devem fazê-lo.
Varicela
É a mais contagiosa, e talvez a mais frequente, que tem a particularidade de dar imunidade duradoura. Contudo, pode haver reativação do vírus no ser humano, a qual ocasiona lesões cutâneas de herpes zoster, a chamada zona.
Após um período de incubação de 1-3 semanas, a criança manifesta febre e perda de apetite, seguida de erupção de pequenas manchas vermelhas muito pruriginosas e que, ao fim de algumas horas, se convertem em vesículas repletas de um líquido amarelado.
Uma das principais características da varicela é as borbulhas atingirem o couro cabeludo e a zona genital. Em cerca de 5-7 dias, as vesículas rebentam e o líquido seca, formando crostas. Quando as lesões estão todas em fase de crosta, a criança já não está contagiosa, podendo regressar à escola.
Por razões estéticas e para evitar cicatrizes da pela atingida, a criança não deve apanhar sol logo após a varicela.
Eritema infeccioso (ou quinta doença)
Esta patologia é provocada por um vírus que se transmite por via aérea e que afeta, sobretudo, as crianças de idades compreendidas entre os cinco e os 14 anos.
A doença inicia-se com uma erupção cutânea que se evidencia nas bochechas através da formação de manchas avermelhas. É deste aspeto que vem o nome de "doença da bofetada".
Cerca de 24 horas após surgir a erupção facial, há extensão das lesões a outras zonas do corpo, em particular, à porção proximal dos membros, braços e coxas. O eritema da face regride no espaço de um a quatro dias, mas as restantes lesões podem permanecer visíveis entre cinco a vinte dias, registando-se períodos de exacerbação após o banho ou a exposição solar.
Exantema súbito (6ª doença ou roséola infantil)
É a doença exantemática mais frequente antes dos dois anos. Durante 3-5 dias, a criança tem apenas febre alta e corrimento nasal. Ao fim deste tempo, a febre regride e surgem pequenas manchas no tronco, região peitoral e dorsal que desaparecem ao fim de 1-2 dias.
O exantema súbito é uma doença viral febril benigna, contudo, pode ser motivo de várias consultas pois, num bebé, febre alta e alguma prostração são razão de preocupação.
Enteroviroses
O grupo de vírus da família dos enterovírus é responsável pelos exantemas mais comuns nos meses de verão. A maioria das crianças doentes apresenta quadros inespecíficos, podendo ter manchas planas avermelhadas, pápulas ou manchas parecidas com as da escarlatina ou da rubéola. Ocasionalmente, ocorrem síndromes clínicos mais característicos, como o síndrome mão-pé-boca, em que há lesões nas mãos, pés e boca, ou a herpangina, caracterizada por pequenas vesículas na boca. Podem coexistir queixas respiratórias e/ou intestinais.
Perante estes quadros exantemáticos menos típicos, os pediatras informam os pais de que se trata de uma virose. É nestas ocasiões que os pais pensam que os médicos não sabem o que os seus filhos têm, quando na verdade sabem que estão perante este grupo de doenças, embora não identifiquem o nome do vírus. Esta identificação só é possível por análises mais demoradas que não acrescentam nada ao tratamento da doença, que é apenas sintomático.
Escarlatina
A escarlatina é uma doença bacteriana, provocada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. A doença manifesta-se pelo aparecimento de febre alta durante 3-5 dias, vómitos e odinofagia. A língua adquire o aspeto típico de língua cor de framboesa. Na face, a região malar está avermelhada, contrastando com a palidez da região peribucal.
Dois a três dias depois do início da febre surge a erupção de inúmeros pequenos pontos ligeiramente salientes, punctiformes, rosados, que depois adotam uma cor vermelha viva, confluentes e que dão à pele uma consistência áspera, tipo lixa, característica da doença. Estas lesões cutâneas localizam-se mais no pescoço, tronco, axilas e região inferior do abdómen. Decorrida cerca de uma semana, a pela atingida pode descamar.
A escarlatina associa-se à faringite ou amigdalite pultácea, diagnosticada em simultâneo com o exantema e requer a toma de antibiótico.
Febre escaronodular (febre da carraça)
Esta doença é típica dos meses quentes nos países mediterrâneos. O agente causador, a rickettsia conori, tem o seu reservatório na carraça do cão. Portanto, se uma pessoa for picada por uma carraça infetada pode adoecer. Mas, a maioria das carraças não está infetada.
Após um período de incubação de uma semana, a doença manifesta-se por febre alta, dores de cabeça, mialgias e prostração, sintomas semelhantes a um quadro de gripe. Depois surge o exantema maculopapular e nodular que se inicia nos membros inferiores não poupando nem palma das mãos, nem planta dos pés.
Para o diagnóstico, deve procurar-se o local de picada da carraça, uma ferida redonda com uma crosta preta (tache noire) localizada no couro cabeludo, cintura ou nádegas. Esta doença tem de ser tratada com antibiótico.