Guia para tratar pequenas feridas
Saber como tratar pequenas feridas - se o seu filho pode ser tratado em casa ou se deve dirigir-se aos cuidados médicos - é essencial.
A pele é o maior órgão do nosso corpo, tendo funções vitais para a manutenção de uma barreira natural contra as agressões exteriores, como agentes bacterianos, radiação solar ou traumatismos.
Por motivos inerentes ao desenvolvimento infantil, as crianças não têm noção ou consciência do perigo, por exemplo, na manipulação de objetos cortantes ou na curiosidade típica por locais elevados. Este facto, aliado às quedas frequentes durante a aquisição da marcha e relacionadas com a imaturidade motora, faz com que a sua pele seja frequentemente exposta a agressões físicas por traumatismos diretos ou indiretos, como as feridas.
O que é uma ferida?
Considera-se ferida qualquer solução de continuidade da superfície da pele, quer seja superficial sem grande hemorragia - escoriação -, quer seja profunda, podendo atingir todas as camadas da pele, tecido subcutâneo rico em gordura e, por vezes, também as estruturas musculares subjacentes - feridas incisas. Estas feridas deverão ser sempre avaliadas numa unidade de saúde para se perceber a necessidade do tratamento adequado.
O que fazer?
Ainda em casa, existem alguns procedimentos que deverão ser aplicados o mais precocemente possível, pois, independentemente do mecanismo de trauma ou do local onde ocorreu, existe sempre um risco infeccioso.
Assim, é fundamental:
- A limpeza da ferida com soro fisiológico ou, na falta deste, lavar com água corrente, pois arrastará partículas de sujidade e a maioria dos agentes patogénicos.
- Sempre que possível, desinfetar com soluções antisséticas iodadas (por exemplo, Betadine®) e cobrir com compressa ou outro tecido limpo.
- Deve evitar-se a utilização de algodão, pois este liberta pequenas fibras difíceis de remover quando a ferida inicia o seu processo de secagem e cicatrização.
- Quando a ferida provoca uma hemorragia e não ceda espontaneamente, é imperativo fazer pressão sobre a mesma utilizando uma compressa que não deve ser removida. Na maioria das situações, este procedimento é suficiente para o controlo da hemorragia.
Como é tratada uma ferida no hospital
Na avaliação da ferida no hospital, podem ser utilizados diversos tratamentos conforme a gravidade do trauma. Nas escoriações superficiais a desinfeção pode ser suficiente, ficando a ferida preferencialmente sem proteção de penso.
Nas pequenas feridas superficiais, não sangrantes e com poucos folículos pilosos ao seu redor, pode optar-se pela utilização de colas sintéticas.
Tratamento de eleição
Em todas as feridas abertas sangrantes a sutura com linha é o tratamento de eleição. Este tratamento deve ser efetuado até seis horas após o traumatismo, pelo risco de infeção, e é realizado sob anestesia local, sem necessidade de jejum ou qualquer outra preparação.
Cuidados a ter
Em algumas situações particulares pode ser necessária a prescrição de um antibiótico profilático que deve ser cumprido durante os dias recomendados. Nos primeiros dias, a ferida não deve ser molhada para não atrasar o início da cicatrização nem promover as condições ideais para uma proliferação bacteriana.
Remoção dos pontos
Os pontos de sutura aplicados na pele devem ser removidos após 5-10 dias, dependendo da idade da criança e da extensão da ferida. Nesta altura, devem ser colocadas tiras de sutura cutânea hipoalergénicas (Steri Strip) para manter as condições de cicatrização ideais e não permitir que pequenos esforços ou movimentos indesejados possam reabrir a ferida.
Hidratação e proteção da cicatriz
Para um resultado estético adequado é fundamental manter a cicatriz bem hidratada e, duas semanas após a remoção dos pontos de sutura, ser massajada energicamente com um creme hidratante hipoalergénico ou com produtos de cosmética com efeitos na regeneração celular cutânea, evitando a formação de cicatrizes deformadas e inestéticas.
Proteger a cicatriz do sol
Todas as cicatrizes devem ser convenientemente protegidas da radiação solar, através do uso de vestuário adequado ou, se é inevitável a exposição solar (como nas cicatrizes da face), pela utilização de loções com fator de proteção ecrã total reaplicadas várias vezes ao dia.
As crianças são, por natureza, destemidas e curiosas e, por esta razão, o grande desafio na traumatologia é, sem dúvida, a prevenção.