Apneia do sono: o médico dentista pode tratar
80% da população que tem esta doença está subdiagnosticada. Conheça o papel da Medicina Dentária no rastreio e tratamento dos distúrbios respiratórios do sono.
Cerca de um terço da nossa vida é passado a dormir. No entanto, devido a inúmeras situações e fatores, este estado de desconexão reversível do meio que nos rodeia nem sempre acontece em qualidade e quantidade.
Uma boa noite de sono é primordial para restabelecer funções endócrinas, metabólicas e intelectuais.
Impacto das doenças do sono
As patologias do sono são comuns. Estima-se que qualquer pessoa já sofreu, sofre ou sofrerá pelo menos um distúrbio de sono ao longo da sua vida.
A privação de sono tem um impacto negativo na qualidade das nossas vidas:
- ao nível do desempenho intelectual e laboral (a privação de sono está na origem de 25% dos acidentes de viação)
- ao nível da saúde individual e coletiva, devido à elevada prevalência de comorbilidades associadas
Falamos em particular dos distúrbios respiratórios obstrutivos do sono - como por exemplo a roncopatia e a apneia obstrutiva do sono. A boa notícia é que estas patologias são tratáveis.
A importância do diagnóstico da apneia do sono
Estima-se que cerca de 80% da população mundial que sofre de apneia está subdiagnosticada.
A apneia do sono é uma doença crónica de elevado índice de mortalidade e morbilidade. De acordo com o estudo da Universidade de Wisconsin-Madison, estudo com 18 anos de follow-up, publicado nos Estados Unidos da América, existe um elevado risco fatal e não fatal de doença cardiovascular em pacientes com apneia severa não tratada.
O rastreio e diagnóstico precoce de distúrbios respiratórios obstrutivos do sono, como a roncopatia e a apneia obstrutiva do sono, tanto em crianças como em adultos, é essencial para estabelecer a melhor terapêutica médica.
A ligação entre a Medicina Dentária e o sono
O Médico Dentista tem um papel fundamental na integração de equipas médicas multidisciplinares no âmbito do rastreio, diagnóstico e tratamento de distúrbios do sono.
Durante uma consulta de Medicina Dentária do sono, o médico dentista irá avaliar:
- Estruturas esqueléticas crânio faciais: avaliar o padrão de crescimento é fundamental para identificar alterações estruturais de desenvolvimento que poderão estar na origem da obstrução das vias áreas superiores.
- Arcadas dentárias e estado de saúde oral: é fundamental observar o grau de higiene da cavidade oral, gengivas, língua e dentes, assim como a existência de fraturas dentárias, cáries e zonas edêntulas (espaços desdentados), restaurações dentárias, próteses dentárias fixas ou removíveis e implantes.
- Orofaringe: avaliar a relação posicional da base da língua com o palato duro, palato mole, úvula e amígdalas.
- Estruturas musculares faciais e orofaciais: o tónus muscular é um relevante fator na estabilização do tratamento e terapias a aplicar. Como tal, a sua valorização é importante e deve ser trabalhada através de terapia miofuncional.
- Articulação temporomandibular: é importante avaliar possíveis alterações da articulação temporomandibular (como ressaltos, estalidos e dificuldade de mobilidade na abertura e lateralidade), levando a condicionantes no tratamento intraoral da apneia do sono.
- Postura craniocervical: a relação postural entre a base do crânio e as vértebras cervicais será também avaliada, uma vez que alterações posturais nesta região poderão condicionar a posição da faringe, a posição da mandíbula, contribuindo para a obstrução das vias áreas superiores.
- Screening Tools: através da aplicação de questionários médicos validados, o médico dentista terá a possibilidade de avaliar a existência de sonolência excessiva diurna e rastrear a possível existência de apneia do sono.
Tratamento da apneia do sono
O tratamento de eleição para a apneia do sono é o CPAP (“Continuous Positive Airway Pressure”) ou ventilador, como é vulgarmente conhecido.
Atualmente, em situações de apneia ligeira e moderada sem comorbidades associadas (como por exemplo doença cardiovascular ou diabetes) ou em situações de não adaptação ao CPAP, poderá ser eleito como tratamento alternativo um DAM (Dispositivo de Avanço Mandibular).
Um estudo recentemente publicado pela Universidade de South Wales, em Perth, na Austrália, demonstra que a eficiência do DAM face é equiparável ao CPAP.
O DAM é um tratamento noturno intraoral, que tem como objetivo avançar e estabilizar a posição da mandíbula, impedindo a obstrução da faringe e permitindo a passagem do ar sem interrupções.