Sequelas da COVID-19: efeitos na voz e garganta
Rouquidão ou dor de garganta podem ser duas sequelas da COVID-19. Saiba por que ocorrem, o que pode fazer para atenuar as queixas e quando consultar um médico.
Decorridos alguns anos desde o início da pandemia COVID-19, a ciência tem vindo a fazer novas descobertas sobre o vírus SARS-CoV-2, incluindo o conhecimento sobre os efeitos a longo prazo (sequelas) que esta infeção pode provocar. Estas sequelas podem ocorrer em vários órgãos, como coração e pulmões, mas também afetar a voz e a garganta.
Rouquidão e outros efeitos da COVID-19 na voz
É possível que após a infeção por COVID-19 algumas pessoas manifestem a longo prazo queixas a nível da voz, que pode soar diferente do habitual, ou até sentir desconforto e a sensação de que têm de se esforçar mais ao falar. Isto é o que acontece também, por exemplo, nas gripes e constipações, a diferença é que com a COVID-19 esta sequela pode ser mais intensa e mais prolongada no tempo, podendo durar cerca de 6-8 semanas até desaparecer de forma gradual.
Mas por que é que isto acontece? A tosse - um dos sintomas mais comuns durante a infeção COVID-19 - pode levar à inflamação e edema (inchaço) das cordas vocais, que, nestas situações, se tornam mais rígidas e perdem flexibilidade. Isto pode levar a alterações do tom da voz, que pode ficar rouca ou até não passar de um sussurro, com maior dificuldade em falar. Além disso, infeções do trato respiratório superior (onde se inserem as cordas vocais), como a laringinte e a COVID-19, podem também levar à inflamação das vias aéreas e, consequentemente, alterar a voz. Resumindo: além da inflamação causada pelo próprio vírus, pode somar-se ainda a inflamação resultante dos sintomas sentidos durante a COVID-19 (como a tosse, referida anteriormente).
Outro fator que pode contribuir para este efeito a longo prazo é o uso de ventilação assistida com necessidade de intubação traqueal e de recurso a ventilador nos doentes que tiveram doença grave. Nestes casos, é necessário inserir um tubo na traqueia para auxiliar a respiração, por vezes, durante várias semanas.
O próprio tratamento medicamentoso da COVID-19 pode afetar as cordas vocais do doente, pois a polimedicação (ou seja, a toma de vários medicamentos) pode favorecer o refluxo gastroesofágico e, assim, causar a irritação da garganta e cordas vocais. Também a fraqueza muscular, perda de peso e alterações do nervo vago (que pode ser afetado em situações de neuropatia - disfunção que afeta os nervos, especialmente no sistema nervoso periférico) podem resultar em efeitos a longo prazo nas cordas vocais.
Atenção!
Perante problemas de voz persistentes, decorrentes da infeção por COVID-19 - que não resolvem ao fim de algumas semanas após o início dos sintomas -, fale com o seu médico assistente.
Outros efeitos da COVID-19 na garganta
A infeção causada pelo SARS-CoV-2 pode também provocar sintomas a nível da garganta:
- Desconforto
- Dor
- Tosse irritativa
- Sensação de que há acumulação de muco na garganta
Algumas pessoas também sentem que a garganta se torna mais sensível a elementos exteriores / ambientais - por exemplo, tosse ou até sensação de aperto na garganta quando são expostas a cheiros intensos.
Embora estes sintomas sejam habitualmente temporários (durando apenas algumas semanas), há casos em que se prolongam no tempo.
Atenção!
Se a tosse seca e irritativa ou a sensação de falta de ar for persistente, consulte o seu médico assistente. O mesmo se aplica à dor de garganta.
Quanto tempo persistem estas queixas?
Enquanto que algumas pessoas já não apresentam sintomas no momento da alta hospitalar (se foi o caso de terem estado internadas), para outras pessoas, sobretudo com doença mais grave, pode levar mais tempo até que recuperem totalmente.
O que pode fazer para atenuar sequelas na voz e garganta
Perante um diagnóstico de COVID-19, não existem medidas preventivas que possam ser eficazes em todas as situações de modo a evitar problemas de garganta ou das cordas vocais.
Contudo, é possível instituir alguns cuidados no sentido de melhorar os sintomas como a rouquidão:
- Manter-se bem hidratado, reforçando a ingestão de água
- Seguir uma dieta equilibrada, saudável e rica em vitaminas
- Falar de forma mais pausada, e mais baixo, não esforçando a voz
- Fazer pausas e parar de falar sempre que sentir a voz “cansada”
- Adotar uma dieta saudável para ajudar a atenuar o refluxo gastroesofágico, evitando alimentos ricos em gordura e muito ácidos
- Fazer vapores com água morna, caso seja aconselhado pelo médico assistente
- Não fumar
Sabia que...
Após um período de doença prolongada e/ou grave, é possível que a voz possa ser afetada diretamente e também por alterações das emoções. As emoções e a voz estão fortemente relacionadas e um período de doença e, possivelmente, de hospitalização podem ter um impacto negativo na nossa saúde mental. Nas situações de longo COVID, a equipa multidisciplinar pode incluir médicos de várias especialidades - como Pneumologia e Otorrinolaringologia, Neurologia e especialistas em saúde mental, como psicólogos.
Cleveland Clinic, março de 2022
Your COVID Recovery, NHS, março de 2022
University Hospitals Coventry and Warwickshire, NHS, março de 2022