Quais os efeitos da COVID-19 no cérebro?
A COVID-19 pode provocar sequelas como dificuldades de concentração, detetadas mesmo em quem já recuperou da infeção. Saiba o que dizem os estudos.
As sequelas deixadas pela COVID-19 são cada vez mais alvo de estudo pela comunidade científica. Estudos em curso revelam que a infeção causada pelo novo coronavírus pode provocar danos em vários órgãos, não apenas no sistema respiratório.
Várias pessoas que recuperaram da doença manifestam queixas neurológicas a longo prazo, das mais subtis às mais graves. Embora ainda não se saiba exatamente de que forma o vírus afeta o cérebro, são várias as hipóteses colocadas. Fique a saber o que dizem os estudos até agora.
Queixas neurológicas após a COVID-19
O quadro clínico causado pela COVID-19 varia muito de caso para caso e de acordo com a gravidade da doença. Os doentes podem manifestar sequelas durante semanas ou até meses depois da infeção - a chamada long COVID ou COVID de longo prazo. Alguns dos sintomas neurológicos manifestados pelos indivíduos que recuperaram da COVID-19 incluem:
- Cansaço
- Dores de cabeça
- Tonturas
- Fraqueza
- Confusão
Casos de extrema gravidade podem incluir convulsões e paralisia, encefalite (inflamação do cérebro) ou acidente vascular cerebral (AVC) isquémico e hemorrágico (situações em que há atingimento vascular do sistema nervoso).
No Canadá, um estudo revelou que indivíduos com idade superior a 70 anos apresentavam um risco especialmente mais elevado de sofrer um AVC associado à COVID-19. Contudo, mesmo as pessoas mais jovens têm uma probabilidade cerca de sete vezes mais elevada de ter um AVC associado a esta infeção, comparativamente ao risco de AVC associado ao vírus da gripe.
Sabia que...
A infeção por COVID-19 é um fator de risco para AVC.
Principais efeitos cognitivos no cérebro
Médicos e investigadores na China avaliaram a função cognitiva em indivíduos considerados completamente recuperados da COVID-19. Com esta avaliação detetaram dificuldades em prestar atenção de forma sustentada, isto é, estar atento a informação importante durante tempo relevante. Mas por que razão isto acontece? Coloca-se a hipótese de esta queixa ter na sua origem processos inflamatórios subjacentes. Contudo, é igualmente provável que doentes com COVID-19 tenham sofrido um AVC silencioso ou falta de oxigénio, resultando em disfunção cerebral.
Os efeitos cognitivos da COVID-19 podem ter algum impacto nas rotinas diárias das pessoas que estiveram infetadas, variando consoante cada caso específico. Estes podem influenciar diferentes capacidades, como a memória, concentração, raciocínio e execução de tarefas. Este conjunto de sintomas é, muitas vezes, informalmente chamado de "nevoeiro mental". Em termos práticos, as pessoas no dia a dia podem ter dificuldade em:
- Gerir a sua medicação
- Lidar com dinheiro e questões de finanças
- Compreender textos escritos
- Manter uma conversa longa com familiares e amigos
- Lembrar-se de nomes de pessoas que lhes são próximas
Estas queixas tendem a melhorar progressivamente com o tempo.
É necessário desenvolver mais estudos nesta área de modo a conhecer e compreender com detalhe como é que o SARS-CoV-2 atua no nosso cérebro e sistema nervoso.
A COVID-19 e a saúde mental
Foram já observados alguns efeitos psicológicos a longo prazo em indivíduos internados nos Cuidados Intensivos, como:
- Ansiedade
- Depressão
- Stress pós-traumático
Prevê-se que os efeitos causados pelo internamento em Cuidados Intensivos devido à COVID-19 sejam semelhantes.
Além disso, um estudo desenvolvido por cientistas da Universidade de Oxford, feito com base nos registos clínicos de 236 mil pacientes, conseguiu estimar o risco de desenvolver problemas psiquiátricos nos seis meses seguintes ao diagnóstico de COVID-19. Os investigadores estimam que, de um modo geral, a incidência de diagnósticos do foro psiquiátrico ou neurológico seja de 34% (1 em cada 3). Outras das conclusões retiradas do estudo foram:
- Seis meses após o diagnóstico de COVID-19, 13% dos participantes apresentou um problema neurológico ou psiquiátrico.
- As perturbações mais comuns foram distúrbios de ansiedade (17%), distúrbios de humor (14%), abuso de substâncias (7%) e insónia (5%).
Consequências a longo prazo
Ter COVID-19 pode também ser fator de risco para desenvolver doenças neurológicas no futuro. A combinação de efeitos diretos da COVID-19, inflamação sistémica, AVC e danos causados nos órgãos como pulmões e fígado, pode aumentar o risco de desenvolvimento de doença neurológica (incluindo doença de Alzheimer) no futuro em doentes recuperados da infeção causada pelo SARS-CoV-2.
Atenção!
Se teve COVID-19 e manifesta sintomas do foro neurológico ou mental, consulte o seu médico assistente e um médico especialista em Neurologia.