Abcesso pulmonar
O que é?
São cavidades que se originam no pulmão, com acumulação de tecido pulmonar morto e líquido no seu interior. Como regra, um abcesso pulmonar corresponde a uma concavidade com um centímetro ou mais de diâmetro. São causados por bactérias e são mais frequentes no lado direito.
Antes da existência de antibióticos, o abcesso pulmonar era uma doença devastadora, com uma taxa de mortalidade de cerca de um terço. Esta situação evoluiu favoravelmente e, atualmente, quer a taxa de mortalidade quer o prognóstico são muito mais favoráveis, com cerca de 90% dos doentes curados mediante o recurso a tratamento médico.
A frequência dos abcessos pulmonares na população geral não é conhecida. Sabe-se que são mais comuns nos idosos, pela maior prevalência de doenças periodontais e maior risco de aspiração. Um dos principais fatores de risco parece relacionar-se com a imunodepressão e com a patologia obstrutiva brônquica, podendo nestes casos a mortalidade atingir taxas de 75%. Os abcessos pulmonares podem ser classificados com base na sua duração: com menos de quatro a seis semanas são considerados agudos, tendo os crónicos uma duração superior. Podem ser únicos ou múltiplos, primários e secundários, estando os primeiros relacionados com processos infeciosos, por aspiração ou pneumonia, e sendo os segundos causados por condições preexistentes, nomeadamente doença obstrutiva, bronquiectasias (dilatações dos brônquios) ou imunodepressão, entre outras causas.
Sintomas
O quadro clínico é variável, dependendo dos antecedentes do doente, da gravidade e extensão da patologia e do microrganismo implicado. Os pacientes com abcessos pulmonares por agentes bacterianos anaeróbios apresentam sintomas discretos que podem evoluir durante semanas ou meses, tendo habitualmente doença gengival associada. Estes sinais podem assemelhar-se aos da tuberculose pulmonar. Os principais indícios são febre ao final do dia, com temperatura axilar de 37° - 37,5°C, suores noturnos, tosse inicialmente seca e depois produtiva, dificuldade respiratória, dor torácica, perda de apetite e emagrecimento. A expetoração tem habitualmente cheiro fétido e causa um paladar desagradável. Podem surgir sangue na expetoração e pleurisia, em caso de rotura do abcesso para os brônquios ou para a cavidade pleural. A avaliação médica e a auscultação fornecem elementos importantes que permitem um melhor esclarecimento do quadro clínico.
As complicações resultam da rotura para o espaço pleural provocando empiema, fibrose pulmonar, pulmão encarcerado, insuficiência respiratória, fístula bronco-pleural ou cutâneo-pleural e disseminação da infeção pela corrente sanguínea. Nos doentes com empiema associado ao abcesso pulmonar, a sua drenagem com tratamento antibiótico prolongado é com frequência essencial.
Causas
Resulta da passagem das bactérias da cavidade oral para o tecido pulmonar. Estes pacientes apresentam particular tendência para pneumonias de aspiração, tendo com frequência doença periodontal, nomeadamente gengivite. São as bactérias anaeróbias existentes na cavidade oral a sua causa mais frequente. Outros agentes infeciosos, aeróbios, podem também provocá-los, embora menos frequentes. São habitualmente infeções mais agressivas, associadas a pneumonia bacteriana, com necessidade de terapêutica urgente, surgindo a cavidade à medida que se desenvolve o processo de necrose do tecido pulmonar. Dentro destes incluem-se os Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, Haemophylus influenzae, Streptococcus (pneumonia), Klebsiella, entre outros.
Os pacientes mais vulneráveis são os que apresentam doença dentária ou gengival, epilepsia ou alcoolismo, estando o risco relacionado com a maior possibilidade de aspiração de conteúdo da orofaringe, por alteração do estado de consciência. Dentro dos grupos de risco há a referir aqueles que têm alterações da junção gastroesofágica, das estruturais da faringe e do esófago, doença de refluxo, dificuldade de deglutição por lesão neurológica, obstrução brônquica por tumor ou corpo estranho, má higiene dentária e oral, indivíduos com impossibilidade de proteção das vias aéreas, casos de coma com perda de conhecimento, anestesia geral ou sedação. Outras situações estão relacionados com embolizações sépticas para o pulmão, tendo como causa a existência de bacteriémia (presença de bactérias no sangue) ou endocardite da válvula tricúspide.
Diagnóstico
Para além da avaliação médica, deve ser realizado um estudo analítico pormenorizado, sendo o hemograma e os parâmetros inflamatórios essenciais. A colheita de expetoração deve ser realizada antes do início do tratamento com antibiótico, englobando o teste de sensibilidade a este. Já a colheita de sangue para cultura de agentes microbianos pode ter um papel importante na identificação da causa do quadro clínico. A radiografia é igualmente útil. A imagem radiográfica típica de um abcesso pulmonar é a de uma cavidade de contornos irregulares com um nível hidroaéreo no seu interior. Já a tomografia computorizada permite uma melhor definição anatómica das lesões. Para obtenção de material estéril pode ainda realizar-se a aspiração do conteúdo do abcesso por punção transtraqueal ou transtorácica com agulha, cultura do líquido pleural ou hemoculturas. Finalmente, a broncoscopia é feita quando se suspeita de obstrução brônquica por carcinoma ou inalação de corpo estranho.
Tratamento
O principal problema no seu tratamento é a presença crescente de resistências aos antibióticos. Face ao risco elevado de recorrência com regimes terapêuticos de menor duração, a medicação deve ter a duração média de quatro a seis semanas, devendo manter-se até haver resolução da imagem radiológica ou até à redução para uma lesão pequena e estável. Os antibióticos devem ser inicialmente administrados por via intravenosa e só depois por via oral. A intervenção cirúrgica é raramente necessária, limitando-se a casos de má resposta à terapêutica médica, neoplasias ou malformações congénitas.
Prevenção
O reconhecimento e tratamento precoce das infeções respiratórias são essenciais para prevenir a sua evolução para o abcesso pulmonar. Uma boa higiene oral é igualmente importante. Os doentes com perturbações gastroesofágicas devem ser instruídos de modo a evitar a aspiração do conteúdo gástrico, devendo dormir com a cabeceira elevada e não enchendo demasiado o estômago antes de dormir.
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