O crânio dos recém-nascidos e dos lactentes é uma estrutura maleável para permitir quer a passagem pelo canal do parto quer o crescimento do cérebro no seu interior. Durante o primeiro ano de vida estima-se que o cérebro duplique o seu volume e para este efeito precisa que o crânio aumente também de forma coordenada. O cérebro e o crânio continuam a crescer depois do primeiro ano de vida, mas a um ritmo progressivamente menor.

 

Nos últimos anos, o diagnóstico de deformidades cranianas tornou-se mais frequente, sendo atualmente um dos principais motivos de consulta em Neurocirurgia Pediátrica.

 

O que é a plagiocefalia posicional?

Quando falamos em deformidades cranianas não sinostóticas, referimo-nos a deformidades que não se relacionam com problemas derivados da fusão precoce das estruturas - suturas - que se encontram no local de junção dos vários ossos do crânio.

Calcula-se que 15 a 20% dos lactentes poderão apresentar certo grau de assimetria craniana, relacionada com o posicionamento durante os períodos de decúbito no leito, cadeiras de transporte, etc.

No início dos anos 90, a recomendação para posicionar os lactentes em decúbito dorsal ("barriga para cima") permitiu reduzir significativamente os casos de morte súbita do lactente. Simultaneamente, parece associar-se ao aumento de casos de deformidade do crânio ("achatamento") na região posterior da cabeça. As causas exatas para esta deformidade são desconhecidas, identificando-se alguns fatores como possíveis precipitantes, como por exemplo:

  • Prematuridade
  • Torcicolo congénito
  • Sexo masculino
  • Primeiros filhos
  • Aleitação exclusiva
  • Decúbito preferencial
  • Ausência de "tummy time" (períodos de "barriga para baixo")

 

O termo plagiocefalia significa "cabeça oblíqua" ou assimétrica. Este termo é usado quando observamos um achatamento unilateral. Se o achatamento for bilateral chamamos braquicefalia ("crânio curto").

 

"O nosso bebé parece ter a cabeça achatada. O que fazemos?"

A preocupação manifestada pelos pais dos lactentes afetos por uma deformidade craniana é lógica e natural. Por isso criaram-se equipas multidisciplinares, com pediatras, neurocirurgiões pediátricos, médicos fisiatras e fisioterapeutas para o seguimento destas crianças. É importante salientar que a deformidade do crânio não traz alterações no desenvolvimento psicomotor dos lactentes e não se trata de uma doença. De um modo geral, trata-se de uma alteração estética que poderá, nalguns casos, provocar problemas funcionais derivados da deformidade craniana principalmente a nível da mandíbula e das órbitas.

A referenciação dos lactentes à consulta de Neurocirurgia Pediátrica deve ser o mais breve possível. Quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento maior a probabilidade de reverter a deformidade e obter um resultado estético satisfatório ao longo dos meses seguintes.

Em primeiro lugar, o lactente deve ser avaliado em consulta para descartar doenças derivadas do encerramento precoce de suturas cranianas, nomeadamente, as craniossinostoses. Para este objetivo, a avaliação clínica em consulta por um profissional treinado permite, na grande maioria dos casos, diagnosticar ou descartar esta doença, assim como realizar medições, calcular índices e estabelecer o grau de deformidade. A necessidade de realizar exames complementares de diagnóstico é rara. Após a avaliação inicial, a criança é integrada numa equipa dedicada e os pais / familiares envolvidos no tratamento e seguimento regular da criança, estratégia fundamental para a obtenção dos melhores resultados.

Os primeiros dezoito meses são o período mais relevante na correção destas deformidades, embora seja possível fazê-lo numa fase posterior. Porém, dado o crescimento craniano (secundário ao crescimento cerebral) ser elevado nos primeiros 9 meses de vida, as medidas de correção devem ser iniciadas o mais precocemente possível, logo após diagnóstico.

 

Tratamento da plagiocefalia

As medidas para corrigir a plagiocefalia (e também a braquicefalia) posicional compreendem:

  • Avaliação da criança, descartar doenças ósseas e estabelecer o grau de deformidade;
  • Educação dos pais e cuidadores sobre o diagnóstico, os procedimentos e o seguimento futuro;
  • Medidas de posicionamento alternados quando deitados ou decúbitos preferenciais de acordo com a deformidade diagnosticada. Evitar / limitar apoios quando acordados;
  • Fisioterapia para corrigir o torcicolo congénito e os decúbitos preferenciais;
  • Períodos de "tummy time" ("barriga para baixo") progressivos;
  • Uso de ortóteses em casos graves (controverso).

 

Em suma, realça-se a importância da avaliação clínica precoce por equipas multidisciplinares com treino no seguimento e tratamento quer de crianças com craniossinostose quer com deformidades cranianas posicionais.

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