Sinusite
O que é a sinusite?
Sinusite é um termo geral vulgarmente utilizado para descrever uma inflamação ou infeção em um, ou mais seios perinasais (quatro grupos), podendo ser originada por vírus, bactérias, fungos ou como consequência de uma reação alérgica. Os seios perinasais são cavidades arejadas, revestidas por uma membrana mucosa idêntica à das fossas nasais, que existem nos ossos da face. Chamados frontais, etmoidais, esfenoidais e maxilares, em função da localização, os seios perinasais rodeiam o nariz e comunicam com as fossas nasais através de pequenos orifícios. Estas cavidades produzem muco drenado pelo nariz, o qual tem uma função protetora das vias respiratórias. Quando ocorre inflamação, como é o caso da sinusite, os seios perinasais ficam bloqueados, devido à acumulação de muco que provocam infeção e dor.
A sinusite é uma doença muito comum, que interfere de modo significativo na qualidade de vida, bem como no desempenho profissional e social das pessoas afetadas. Um estudo realizado em Coimbra, e divulgado em 2012, identificou uma prevalência de sinusite de 27 %. Dados mais recentes, apontam para uma prevalência na Europa, entre 10 % e 30 %, e de 15 % nos Estados Unidos.
Por outro lado, a proximidade anatómica e funcional entre as fossas nasais e os seios perinasais faz com que a sinusite aguda seja frequentemente associada a rinite, sendo, geralmente, seguida por essa inflamação, como é o caso da rinite alérgica. Entre 53 % e 70 % dos doentes com rinite desenvolvem sinusite, e 56 % dos pacientes com sinusite sofrem de sintomas de rinite. A rinossinusite pode tornar-se crónica, sendo uma das doenças crónicas mais comuns no mundo - estima-se que 10,9 % dos europeus sofram desta condição. A asma é outra doença inflamatória que está frequentemente associada com a sinusite e a rinite, podendo os episódios de uma desencadear as outras.
Causas da sinusite
A origem da sinusite pode dever-se a fatores que impeçam a drenagem das secreções nasais, permitindo a sua acumulação, o que resulta em inflamação. As alergias respiratórias são uma causa frequente da sinusite, mas existem outros fatores que podem desencadear este problema.
Sinusite alérgica
Alérgenos como o pólen, o pó doméstico, os ácaros e os pelos dos animais provocam habitualmente crises de sinusite, que, apesar de serem passageiras, podem ocorrer ao longo do ano. É uma forma de sinusite mais identificada por sintomas de comichão no nariz, nos olhos e na garganta.
Sinusite viral e bacteriana
Uma constipação ou uma gripe, originadas por um vírus, ao causarem uma infeção das vias respiratórias, podem provocar sinusite, contribuindo para os sintomas gerais da doença. A sinusite também pode ter uma causa bacteriana, isolada ou no seguimento da infeção viral, principalmente quando os sintomas nasais associados a uma constipação não melhoram ao fim de dez dias.
Sinusite fúngica
Pode ser alérgica, consequência de uma alergia a determinados tipos de fungos - bastando um contacto reduzido com o alérgeno - ou invasiva, sendo esta a mais grave. A sinusite fúngica invasiva caracteriza-se por uma infeção agressiva por parte do fungo e ocorre frequentemente em situações em que o sistema imunológico está comprometido.
Tipos de sinusite em função da duração
A sinusite pode ser definida e descrita em função das causas, mas também da duração e frequência com que ocorre.
Sinusite aguda
Trata-se de episódios isolados de sinusite, frequentemente com uma causa viral, como no caso de uma constipação, ou bacteriana. Também pode ser alérgica, após o contacto intenso com um alérgeno ou uma substância irritante, como por exemplo, poluição ou substâncias químicas. Infeções e abcessos dentários podem igualmente causar este tipo de sinusite. Os sintomas da sinusite aguda podem persistir entre duas a quatro semanas.
Sinusite subaguda
A sinusite subaguda ocorre, quando os sintomas se prolongam até cerca de 12 semanas, sendo necessário fazer um tratamento específico para a causa, recorrendo a antibióticos.
Sinusite crónica
Chama-se sinusite crónica quando a sua duração ultrapassa as 12 semanas, podendo acontecer tanto em pessoas com alergia crónica, como em situações isoladas, como, por exemplo, uma infeção bacteriana, o contacto prolongado com substâncias irritantes ou devido a poluição atmosférica.
Sinusite recorrente
Quando a sinusite aguda ocorre, pelo menos, quatro vezes por ano, desaparecendo rapidamente e voltando a surgir passados dez dias ou mais, chama-se sinusite recorrente. Pode ter como origem qualquer uma das causas anteriores, sendo também potenciada por fatores anatómicos do nariz, rinite alérgica, exposição a poluição e irritantes, ou ainda condições médicas que afetam o sistema imunológico ou as vias respiratórias.
Fatores de risco para a sinusite
Além das causas mais comuns, como as alergias ou as infeções respiratórias, existem várias situações que potenciam o risco de sinusite:
- Condições climáticas com frio e humidade;
- Traumatismos do nariz;
- Presença de pólipos nasais;
- Mudanças bruscas de pressão associadas a um voo ou a mergulho;
- Poluição atmosférica (automóvel, industrial ou fumo de tabaco passivo);
- Má higiene nasal;
- Desvios do septo nasal;
- Doenças que provoquem perturbações da imunidade;
- Uso excessivo de descongestionantes nasais;
- Consumo de tabaco.
A natação, apesar de ser normalmente benéfica no caso de doenças respiratórias, pode, no entanto, em pessoas suscetíveis, aumentar o risco de desenvolvimento de sinusite, sobretudo devido à presença de cloro na água.
Sintomas da sinusite
A lista de sintomas é longa e a combinação ou severidade dos mesmos depende habitualmente da duração e da causa da sinusite. Na maioria das situações, a sinusite desaparece com tratamento, mas nos casos subagudos ou crónicos, os sintomas podem persistir durante bastante tempo. A dor na face é normalmente mais intensa em caso de sinusite aguda.
Os sintomas da sinusite podem incluir:
- Congestão nasal;
- Rinorreia (saída de secreções pelo nariz);
- Tosse;
- Inchaço e dor no nariz e nas fossas nasais;
- Comichão no nariz, olhos e garganta;
- Olfato e paladar reduzidos;
- Mau hálito;
- Febre;
- Fadiga;
- Fraqueza;
- Dores de cabeça;
- Pressão nos ouvidos.
É comum a sensação de drenagem de muco amarelo ou esverdeado, que pode também descer pela garganta. Muitos pacientes referem dor ou sensação de pressão na face, nos malares, no nariz ou entre os olhos, pelo que as cefaleias são também habituais.
Sinusite nas crianças
Tendo o sistema respiratório e os seios nasais e perinasais ainda em desenvolvimento, as crianças sofrem frequentemente de infeções nasais e sinusite, sejam estas alérgicas ou infecciosas. A maior dificuldade em libertar as secreções nasais potencia as infeções por vírus ou bactérias, à qual acrescem o contacto com todo o tipo de objetos ou com outras crianças, sujidade, bem como o ato de levar frequentemente as mãos à boca.
A sinusite infantil pode ainda ser provocada pelo uso de chupeta, do uso do biberão numa posição deitada. A sinusite aguda, unilateral, em crianças pequenas deve fazer suspeitar de um objeto estranho preso na narina e é motivo de observação médica urgente.
Os sintomas de sinusite nas crianças são semelhantes aos dos adultos, embora menos intensos na maioria dos casos. Um sintoma mais presente nas crianças é a irritabilidade, principalmente pelo facto de não saberem lidar com o problema. Como os sintomas são comuns a gripes ou constipações, além de outras infeções possíveis nas crianças, o diagnóstico de sinusite infantil é muitas vezes complexo.
Diagnóstico da sinusite
O diagnóstico de sinusite aguda, nas crianças ou adultos, é realizado essencialmente através de uma avaliação clínica, quando se verifica a presença de secreção nasal purulenta, obstrução nasal e sensação de pressão ou dor na face. A confirmação médica, principalmente quando os sintomas permanecem por algumas semanas, pode ser completada com endoscopia nasal, tomografia computorizada ou radiografia. Nas crianças evitam-se exames que usem radiação, a não ser que haja sintomas graves, sinais de risco ou de gravidade ou que possam indiciar outro tipo de doenças.
Caso os sintomas sejam crónicos, sem sinais de gravidade e permaneçam ao fim de três meses mesmo com tratamento, ou a sinusite seja recorrente, será necessário consultar um otorrinolaringologista, pois pode tratar-se de sinusite crónica. Os exames permitem verificar com rigor o estado dos seios perinasais, revelando a presença de outras possíveis causas, como lesões, pólipos ou desvios severos do septo nasal.
Tratamento da sinusite
O tratamento de uma sinusite depende da sua causa, requerendo normalmente uma abordagem multifacetada, tendo em conta o estado geral do paciente, os tratamentos já efetuados, o estilo de vida e as doenças coexistentes.
Os objetivos da terapêutica para a sinusite são controlar e curar a infeção, reverter a obstrução dos orifícios de drenagem das cavidades perinasais, reduzir o risco de evolução para uma situação crónica e prevenir complicações mais graves.
De um modo geral, o tratamento inclui uso de descongestionantes e analgésicos, sendo também úteis os sprays nasais salinos. Os antibióticos podem ser usados, mas não são um tratamento preferencial na maioria dos casos. Um estudo português recente concluiu que dois terços dos doentes com rinossinusite aguda podem ser curados em menos de duas semanas sem necessidade de antibióticos.
Quando a obstrução dos seios perinasais não pode ser tratada com fármacos e através de lavagem nasal, devido à presença de pólipos, excesso de tecido, osso ou desvio do septo nasal, poderá ser necessário realizar cirurgia. Os pacientes submetidos a cirurgia melhoram francamente na frequência e intensidade dos sintomas, sendo-lhes igualmente mais fácil respirar. Em geral, o tratamento cirúrgico é realizado sob anestesia geral e controlo endoscópico, exclusivamente através das fossas nasais, sem deixar qualquer cicatriz externa, e com o mínimo de desconforto para o doente.
Prevenção da sinusite
Para evitar a sinusite, principalmente na sequência de uma alergia ou constipação, é importante recorrer a descongestionantes por via oral e/ou nasal. Se forem utilizados sprays nasais, convém que o seja durante curtos períodos de tempo. O ato de assoar deve ser delicado, para evitar que as secreções possam subir em vez de descer, bem como lesões nos seios nasais. É também aconselhável a ingestão frequente de líquidos, de forma a manter as secreções nasais mais fluidas.
Na presença de alergias, é importante uma consulta de Imunoalergologia para detetar quais as substâncias que as desencadeiam, e para que se possam instituir os tratamentos adequados. Por outro lado, surgindo uma sinusite frequentemente associada a gripe, as vacinas contra a gripe sazonal podem também aumentar a imunidade, ajudando indiretamente a prevenir o surgimento ou a evolução de infeções dos seios perinasais.
Outras formas de prevenção da sinusite incluem evitar a presença prolongada em locais com elevada poluição atmosférica; não colocar os dedos nem objetos estranhos no nariz (estar atento, no caso de crianças); evitar o ar muito frio e húmido, ou muito seco; assoar-se com regularidade; e procurar fazer lavagem nasal para desimpedir o nariz. As viagens de avião também podem provocar ou agravar a sinusite, pelo que convém garantir uma boa higiene nasal antes de viajar.
Para alguns pacientes com sinusite, os tratamentos termais apresentam bons resultados, sendo importante consultar previamente o médico assistente.
Diferença entre sinusite e rinite alérgica
A sinusite é por vezes confundida com a rinite alérgica, pois partilham alguns sintomas, como a congestão nasal. No entanto, tratam-se de problemas distintos. A rinite alérgica está diretamente ligada ao efeito dos alérgenos no nariz, tratando-se de uma inflamação da mucosa devido à exposição a substâncias como pó, bolor ou pólen - em caso de alergia.
Por outro lado, a rinite alérgica pode anteceder a sinusite quando a gravidade dos sintomas provocados pela reação alérgica provoca uma obstrução nasal, a qual evolui para uma infeção nos seios perinasais. Sendo a rinite alérgica uma doença crónica, quando é diagnosticada, é comum o médico assistente fazer recomendações de forma a prevenir que uma reação alérgica se transforme numa sinusite.
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