5 perguntas sobre incontinência urinária
O que é incontinência urinária? Qual a sua prevalência? E como impacta a qualidade de vida? Paulo Azinhais, urologista CUF, esclarece 5 questões sobre a doença.
A incontinência urinária, um problema muito mais comum na mulher - em cada quatro pessoas atingidas, três são mulheres e apenas uma é homem -, “é definida pelas duas grandes sociedades - a Associação Internacional de Incontinência e a Sociedade Internacional de Uroginecologia - como toda e qualquer perda involuntária de urina”, explica o urologista CUF Paulo Azinhais.
Fique a saber mais sobre os diferentes tipos de incontinência urinária, o impacto que pode ter na vida da pessoa, os tratamentos disponíveis, as principais estratégias de prevenção, entre outros temas.
A prevalência da incontinência urinária
“Os estudos são algo díspares”, começa por salvaguardar o urologista Paulo Azinhais, mas “a maior parte dos estudos aponta para que pelo menos 25 a 45% das pessoas sejam atingidas ao longo da sua vida por incontinência urinária”. É importante ter em consideração que “há várias variantes, nomeadamente, consoante os países e consoante a idade. Por exemplo, os Estados Unidos apontam para que mais de 167 milhões de pessoas sejam atingidas por incontinência urinária algures ao longo da vida, sendo que cerca de 3,3% são mais atingidas por um dos tipos de incontinência, a de esforço, enquanto apenas 1,1% são atingidas por incontinência por urgência”, exemplifica.
A idade é um fator que influencia a prevalência da incontinência urinária. “Por exemplo, a incontinência urinária por esforço atinge o seu pico na quinta década de vida, portanto, entre os 40 e os 50 anos, enquanto que a partir daí a incontinência urinária por urgência começa a assumir maior importância”, esclarece Paulo Azinhais.
O impacto da incontinência urinária na qualidade de vida
A incontinência urinária tem um impacto significativo em vários níveis e domínios da pessoa, incluindo “económico (porque a pessoa tem de usar proteções, como fraldas e pensos diários); pessoal (influencia a higiene íntima da pessoa que se urina com frequência); e social (porque a pessoa fica inibida de ir a eventos sociais, realizar viagens, encontrar-se com amigos, entre outros, devido aos problemas causados pela incontinência urinária)”, enumera Paulo Azinhais.
Sabia que...
“Nos idosos, a incontinência urinária pode gerar um aumento do número de fraturas ósseas, principalmente pelas idas à casa de banho durante a noite”, afirma o urologista Paulo Azinhais.
Principais causas
“Uma das causas principais é a idade. A idade por si, o envelhecimento dos tecidos, principalmente, dos músculos do pavimento pélvico, é geradora de incontinência urinária”, destaca o urologista. Depois, a infeção urinária é talvez o fator que mais frequentemente causa incontinência urinária, mas é também dos mais passageiros, explica Paulo Azinhais, referindo que “o médico, quando está a começar a estudar a incontinência, um dos fatores que tem de excluir é precisamente a incontinência por infeções”. Outro fator a excluir é, por exemplo, a incontinência associada à presença de sangue na urina. Neste caso, “há que excluir outras causas algo graves, como, por exemplo, neoplasias da bexiga e outras neoplasias, bem como algumas doenças neurológicas, como a doença de Parkinson, esclerose múltipla, etc”, salienta.
É também importante ter em consideração que as causas da incontinência urinária diferem consoante o tipo. “Por exemplo, uma incontinência urinária de esforço, que tipicamente acontece mais na mulher, está intimamente relacionada com o número de gravidezes que teve, com o número de partos (que às vezes não é igual ao número de gravidezes), a via pela qual se deu esse parto (se foi por via normal, por cesariana, inclusive se foi instrumentada). Tudo isso interfere e aumenta a incontinência urinária de esforço”, esclarece o especialista em Urologia.
Por outro lado, “na incontinência urinária por urgência estão envolvidos, além da idade, processos que levam a uma contração involuntária da bexiga e que levam a perda de urina”, explica Paulo Azinhais, acrescentando que a incontinência urinária por urgência pode ser agravada pela “ingestão de substâncias gaseificadas, café, chá preto e chocolate e pela obstipação crónica”.
Sinais a que deve estar atento
“A incontinência urinária é geradora de desconforto e uma perda involuntária de urina por si só deve gerar a ida a um médico”, salienta Paulo Azinhais. O mesmo se aplica ao aumento exagerado da frequência de vezes que a pessoa vai à casa de banho urinar e uma incapacidade de adiar essa ida à casa de banho”, acrescenta.
Numa fase inicial, pode ser consultado o médico de família, “que pode ajudar a fazer um estudo inicial do tipo de incontinência, dar alguns conselhos gerais e até, nalgumas circunstâncias, se o médico se sentir à vontade, dar início a uma terapêutica oral se houver indicação”, refere Paulo Azinhais. Quando esta abordagem não resulta, “o utente deve dirigir-se a um urologista ou, em alternativa, a um ginecologista vocacionado para área de Uroginecologia”, recomenda o urologista.
A incontinência urinária pode ser prevenida?
A resposta é “sim”. Segundo o urologista, a incontinência urinária “pode ser prevenida ou diminuída se tomarmos algumas medidas gerais”, que dependem, por exemplo, “do tipo de incontinência de que estamos a falar”.
Para prevenir a incontinência de esforço, podem ser implementadas as seguintes medidas:
- Evitar esforços extremamente violentos.
- Praticar o uso de exercícios de reforço do pavimento pélvico, portanto, uma ginástica que possa manter algum tónus muscular do indivíduo.
- Evitar tabaco.
- Combater o excesso de peso.
Já no caso da incontinência por urgência, o urologista refere outros cuidados específicos, que incluem:
- Diminuir a ingestão de substâncias que sejam irritantes da bexiga, como café, álcool, chá preto e chocolate.
- Educar a pessoa para que a partir de uma determinada hora, principalmente depois do jantar, não ingira tantos líquidos. Este cuidado resulta em menos idas à casa de banho durante a noite e, dessa forma, melhora um pouco a sua qualidade de vida.
Tratamentos disponíveis
“A maior parte das incontinências urinárias tem cura ou pode ser francamente melhorada”, começa por dizer Paulo Azinhais. Mais uma vez, o tratamento da incontinência varia consoante o tipo (se é incontinência por urgência ou por esforço).
Incontinência por urgência
Este tipo de incontinência tem “um tratamento iminentemente médico, isto é, à base de medicamentos orais. Há duas grandes famílias de medicamentos que melhoram muito os sintomas, podendo inclusive diminuir o número de perdas de urina. Quando essas substâncias não resultam, há que avançar para terapêuticas um pouco mais invasivas, como, por exemplo, a injeção de toxina botulínica (o famoso botox) no músculo da bexiga. Em alternativa, pode ser usado também o implante de um neuroestimulador, que é uma espécie de pacemaker, colocado no fundo das costas por baixo da pele. Este tem um grau apreciável de cura (entre 30-50%) e um grau importante da melhoria dos sintomas, que pode chegar até 80%. Depois, há outros tratamentos um bocadinho menos frequentes, como a estimulação do nervo da perna, chamado o nervo peronial”, explica o urologista.
Incontinência por esforço
“No caso da incontinência de esforço, o tratamento não passa por comprimidos. Infelizmente, não há nada disponível a nível de medicação oral para tratar este problema. O tratamento passa mais pela cirurgia, nomeadamente, as fitas suburetrais - também conhecidas por TVTs no caso das mulheres, existindo também uma versão para os homens. Esses slings têm uma taxa de cura próxima dos 90%. Quando esta terapêutica não resulta, há outras alternativas mais invasivas, nomeadamente cirurgias de suspensão do colo da bexiga e outros agentes de preenchimento periuretral, portanto, substâncias que são colocadas em torno da uretra para tentar acomodá-la e minorar a perda de urina. Em casos muito graves, há lugar à colocação de um esfíncter artificial”, afirma Paulo Azinhais.