Aquecer a casa (e proteger a saúde) no inverno

A chegada dos dias frios de outono e inverno traz constipações e gripes, mas também o risco de outros problemas de saúde. Parte destes problemas está relacionada com a pobreza energética, a dificuldade em manter as casas quentes e confortáveis para enfrentar as baixas temperaturas ou a humidade. Portugal é um dos países mais afetados por este problema, ocupando a 4.ª posição a nível europeu, a par da Lituânia, em termos de incapacidade de aquecer a casa. Segundo o Eurostat, 17,5 % das pessoas não conseguem garantir um conforto térmico adequado na sua habitação.

O frio em casa tem uma consequência direta no aumento de doenças e na própria mortalidade - nos doentes e idosos maioritariamente -, sendo essencial preparar a habitação para melhorar a temperatura interior, principalmente quando não existem equipamentos para o fazer. E mesmo com estes, o cuidado na sua utilização ajuda a prevenir riscos para a saúde.

 

Sabia que...

É nos países com um clima menos agressivo no inverno e dificuldades socioeconómicas que as dificuldades de conforto térmico mais se fazem sentir, por menores investimentos em isolamentos adequados.

 

Quais os riscos para a saúde de ter uma casa fria?

As principais consequências do frio dentro de casa prendem-se com os efeitos diretos da temperatura e da circulação do ar, mas também com a humidade e a possibilidade de acumulação de bolor. O próprio ar seco e frio afeta as fossas nasais e os pulmões até a pele, principalmente as mãos e outras zonas mais expostas.

O sistema respiratório é o mais afetado pelo frio dentro e fora de casa, particularmente no caso de pessoas que tenham problemas como asma ou doença pulmonar crónica, que podem ver agravada a sua situação clínica de base. O risco de pneumonia cresce igualmente nos meses frios.

Também o sistema circulatório é atingido pelo frio, nomeadamente devido ao aumento da pressão arterial, potenciando o aparecimento de doenças cardiovasculares ou o agravamento das existentes. Também o risco de infeções - devido à maior circulação de vírus - e perturbações da saúde mental estão frequentemente associados a casas com pouco conforto térmico.

 

Quem é mais afetado pelas dificuldades de aquecimento?

O frio pode afetar todo o tipo de pessoas, mas ameaça de forma direta tanto os mais desprotegidos financeiramente como os que têm doenças preexistentes ou dificuldades de locomoção.

Alguns dos grupos mais afetados são:

• Pessoas idosas
• Bebés e crianças
• Mulheres grávidas
• Pessoas com problemas circulatórios ou respiratórios
• Doentes com imunidade comprometida
• Pessoas com dificuldades cognitivas
• Acamados ou pessoas com pouca mobilidade
• Pessoas que vivem sozinhas

 

Como manter a casa aquecida?

O bom conforto térmico de uma casa depende essencialmente do isolamento conseguido. Mesmo o acesso a fontes de calor, como ar condicionado ou lareira, não garante uma temperatura adequada ou um bom nível de conforto se houver entrada de ar frio pelas portas, janelas e telhados, ou formação de humidade nas paredes, chão ou teto. Assim, é essencial vedar bem portas e janelas e apostar num melhor isolamento de paredes. Isso não significa ter tudo sempre fechado, o ideal é aproveitar o sol para ajudar a aquecer a casa, abrindo janelas quando a luz está a incidir sobre as mesmas, e fechando quando o sol desaparece ou está a anoitecer. A circulação do ar nesses momentos reduz a humidade e renova o ambiente em casa.

Divisões menos utilizadas ou não usadas devem ser fechadas, exceto para arejar nos períodos de maior sol, e dispensam a preocupação com a temperatura. Acima de tudo, se tiver apenas necessidade de uma ou duas divisões, concentre o aquecimento nesses espaços.

Quanto a equipamentos de aquecimento, lareiras, recuperadores de calor, caldeiras e aquecedores têm as suas vantagens, mas também os seus riscos. Ar condicionado e bombas de calor são os mais eficientes e seguros, desde que haja o cuidado com a sua utilização e manutenção.

 

Sabia que...

A temperatura ideal dentro de casa deve estar em torno de 21 ºC. Menos reduz o conforto térmico e potencia doenças, mas mais do que isso também pode ser prejudicial à saúde e aumenta os custos energéticos.

 

Cuidados a ter com os equipamentos de aquecimento da casa

A grande proximidade de fontes de calor - quer de pessoas, quer de objetos que possam ser inflamáveis, como tecidos, plásticos ou papel - é um risco, principalmente nos equipamentos em que o calor é mais intenso, como lareiras ou aquecedores. Por outro lado, sempre que haja uma coluna para saída de fumos e gases, deve haver uma correta manutenção, quer para garantir que não fica bloqueada, quer para impedir que o ar frio entre. Lareiras e outros equipamentos com chaminé não usados devem ser fechados para evitar correntes de ar.

 

Lareiras

São uma fonte de calor direto, de aquecimento rápido, mas são muito limitadas às divisões onde estão colocadas. Além disso, causam maior sujidade e libertam fumos. As lareiras têm alguns riscos de segurança, quer na inalação de fumo e monóxido de carbono, quer no potencial de incêndio caso haja saída de fagulhas ou brasas, sem esquecer o risco de queimaduras no manuseamento. Outro equipamento semelhante são as salamandras, que por terem uma porta quase sempre fechada, normalmente em vidro, não acarretam tantos riscos de gases, mas são perigosos, principalmente para crianças, sofrendo queimaduras se tocarem diretamente no equipamento.

 

Recuperadores de calor

Estes equipamentos, que podem ser a lenha, pellets, carvão, gás natural ou eletricidade, são parecidos com as lareiras, mas não estão limitados ao local da chaminé. Apenas necessitam que as tubagens estejam ligadas também ao exterior. Podem ainda ter dupla face, ou estar associados a um sistema de aquecimento central para mais divisões. O cuidado com as tubagens é o mais importante.

 

Caldeiras

As caldeiras usam materiais de combustão, incluindo gasóleo, ou então energia elétrica, e ficam instalados numa cave ou numa pequena divisão resguardada. As caldeiras têm a vantagem de poderem ser usadas com a opção de aquecimento da água em casa, sendo as principais desvantagens a manutenção e os riscos associados a gases ou fumos.

 

Aquecedores e radiadores

Os aquecedores e radiadores a gás, a óleo ou a eletricidade são uma solução mais acessível, com a vantagem de poderem ser mudados de local facilmente. Os que usam óleo mantêm a temperatura um pouco mais, pois demoram a arrefecer quando se desligam. Contudo, todos eles têm um alto custo energético, principalmente devido ao baixo poder de aquecimento de uma divisão. Os aquecedores a gás, apesar de inovações de segurança, também acarretam alguns riscos para a saúde, quer pela fonte de energia, pelos gases da combustão ou pelo calor emitido quando se está próximo e risco de incêndio e explosão.

 

Bombas de calor

São dos sistemas de aquecimento mais eficientes, mas de custo elevado. Há que ter cuidado com os radiadores ou ventiloconvectores associados, pois podem acumular pó e sujidade, que potenciam o aparecimento de fungos. Os painéis exteriores do equipamento não aquecem demasiado e, por isso, o contacto direto não é perigoso.

 

Ar condicionado

Os aparelhos de ar condicionado têm a seu favor a facilidade com que são instalados em uma ou mais divisões, e acima de tudo a possibilidade de aquecerem a casa no inverno e arrefecerem no verão. Os riscos para a saúde prendem-se essencialmente com os dispositivos de saída do ar, cujas lâminas e filtros devem ser limpos duas vezes por ano.

 

Tome nota:

Caso não tenha forma de aquecer a sua casa, tenha atenção à circulação do ar, à acumulação de humidade e bolor, e à roupa que usa. Mantenha o corpo a uma temperatura confortável com recurso a roupa e mantas numa lógica de “cebola”, vestindo e despindo as peças consoante a temperatura em casa. Evite secar roupa no interior e procure ventilar a casa de banho, controlando a humidade.

 

A importância da correta manutenção

Se tiver um sistema de aquecimento, preocupe-se com a segurança na utilização e na manutenção. Pó e outros resíduos podem ser bastante prejudiciais à saúde, principalmente o sistema respiratório, quando aquecidos ou espalhados pelo ar.

Alguns cuidados a ter incluem:

• Garantir que chaminés ou tubagens de escape de gases estão desimpedidos, para impedir inalação de fumos ou gases
• Fechar chaminés ou lareiras que não estejam a ser usadas
• Ter cuidado com a proximidade de produtos inflamáveis de fontes de calor
• Fazer a correta manutenção de equipamentos a gás ou outro combustível
• Ter atenção às ligações elétricas e ao estado geral de aquecedores de ligar à corrente
• Fazer uma limpeza dos radiadores para retirar o pó acumulado
• Garantir a manutenção dos filtros e saídas de ar em sistemas de ar condicionado ou bombas de calor

 

E não se esqueça, além de uma casa aquecida, há outros cuidados a ter com o frio, seja em espaços interiores ou exteriores:

• Use roupa quente e confortável
• Coloque protetor nos lábios
• Beba água e chá para manter a hidratação e aquecer
• Hidrate a pele
• Lave bem as mãos para impedir infeções
• Tenha atenção às roupas e mantas guardadas caso sofra de alergias
• Faça uma alimentação saudável para manter a imunidade
• Aproveite o sol para arejar a casa e melhorar o seu bem-estar nos dias frios