Burnout parental:

quando os pais atingem a fadiga extrema
Bebés e crianças
Cérebro e saúde mental
7 mins leitura

A exaustão associada à tarefa de cuidar dos filhos tem vindo a aumentar, com consequências que importa evitar. Conheça os sintomas e saiba como prevenir.

Cuidar de crianças pode ser uma tarefa extenuante devido à enorme exigência e à responsabilidade que tal implica. Se a isto somarmos o facto de este ser um dever contínuo (as crianças têm de ser continuamente cuidadas) e, por vezes, levado a cabo sem apoio, facilmente se percebe por que é que os pais podem atingir a fadiga extrema.

Designado como burnout parental, este fenómeno tem vindo a ganhar cada vez mais expressão nos últimos tempos, sobretudo durante a pandemia de COVID-19, devido ao isolamento e às dificuldades resultantes da necessidade de os pais conciliarem o teletrabalho com a assistência aos filhos. Mas a verdade é que este conceito não é novo, apenas ficou mais visível. Já em 2017, numa investigação liderada por Isabelle Roskam, do Instituto de Pesquisa em Ciências Psicológicas da Universidade de Lovaina, na Bélgica, chegou-se à conclusão que a proporção de pais que sofrem de burnout se situa entre 2 e 12%. Mais recentemente, um outro estudo levado a cabo em 42 países revelou que, em Portugal, 3 a 4% das pessoas com filhos são afetadas por burnout parental, valor que sobe para 7 a 8% nos EUA.

 

O que é o burnout parental?

O burnout parental é uma síndrome caracterizada por uma exaustão avassaladora - não só física, mas também psicológica - associada ao exercício da parentalidade e ao cumprimento de todas as tarefas relacionadas com o cuidar dos filhos. Frequentemente, acaba por conduzir a situações de distanciamento e frieza por parte dos pais em relação aos filhos, ao mesmo tempo que aumenta a insatisfação daqueles em relação à forma como desempenham o papel de mãe ou de pai.

 

Como identificar uma situação de burnout parental?

Numa primeira fase, os sintomas de burnout parental podem ser confundidos com o cansaço normalmente associado às funções parentais. No entanto, se os sintomas relatados forem em grande número e muito intensos, além de frequentes e persistentes no tempo, então, é possível que se esteja perante um caso de burnout parental. Entre os sintomas contam-se:

  • Exaustão física e mental (sensação de esgotamento)
  • Maior irritabilidade e intolerância
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Fadiga crónica
  • Confusão mental
  • Perda de interesse em assuntos ou atividades que antes suscitavam motivação
  • Problemas relacionados com o sono
  • Dificuldades de memória
  • Sentimentos de frustração, ressentimento e/ou zanga
  • Sentimentos de culpa e/ou vergonha em relação à forma como desempenha o papel de mãe/pai
  • Vontade de isolamento
  • Menor produtividade
  • Distanciamento / desapego emocional em relação à criança
  • Comportamentos obsessivo-compulsivos e/ou violentos (nomeadamente em relação à criança)
  • Consumo excessivo de álcool e/ou recurso a drogas
  • Alterações do apetite
  • Aumento de conflitos com o outro elemento do casal
  • Pensamentos suicidas

 

Quanto mais depressa se reconhecer a existência de um problema, mais rapidamente se darão passos no sentido de o resolver, procurando ajuda que abra portas a soluções e permita uma mudança de comportamentos.

 

Quais são as causas do burnout parental?

O conceito de burnout parental surgiu nos anos 1980, mas só recentemente começou a ser tema de pesquisa aprofundada. Quando se verificam situações de elevado stress com que os pais não conseguem lidar por falta de recursos (os quais podem já ter sido esgotados na tentativa de fazer face à situação), é possível que o burnout parental aconteça.

Este fenómeno parece ser mais comum nos países ocidentais, sobretudo os mais ricos, onde a taxa de natalidade é mais baixa e onde existe uma cultura mais individualista. Entre as possíveis justificações destaca-se o facto de, nestes países, os pais beneficiarem de menos ajuda da família alargada na educação das crianças, além de que se verifica um maior culto da performance e do perfecionismo nas diversas dimensões da vida.

 

Alguns fatores que podem potenciar o burnout parental são:

  • Perfecionismo e expectativas irrealistas sobre a parentalidade
  • Acompanhamento excessivo da educação dos filhos
  • Exigência dos projetos profissionais de ambos os elementos do casal, os quais se tentam conciliar com a maternidade / paternidade
  • Ausência de apoio do outro progenitor
  • Inexistência de rede familiar / social de suporte
  • Falta de tempo para se estar só, a fazer algo de que se gosta ou a cuidar de si próprio
  • Dedicação exclusiva aos filhos, negligenciando outras dimensões da vida
  • Dificuldade em delegar tarefas
  • Horários sobrecarregados de atividades extracurriculares dos filhos
  • Problemas de saúde de um filho, com a exigência de cuidados que requer
  • Existência de filhos com menos de 5 anos de idade
  • Parentalidade em idade precoce (menor experiência)
  • Problemas financeiros

 

O que pode fazer para combater ou prevenir?

Perante uma situação de cansaço relacionado com o exercício parental, há algumas mudanças que podem ser feitas para ajudar a atenuar a exaustão e a prevenir o burnout parental:

 

Comunicar mais e melhor

A partilha de sentimentos com o outro progenitor é fundamental para que se perceba o que se passa e, em conjunto, encontrar estratégias com vista a melhorar o dia a dia. Sem comunicação, a situação tenderá a piorar, podendo vir a minar a própria relação de casal. No caso de famílias monoparentais, é importante fazer esta partilha com um familiar ou um amigo próximo. Pode ser igualmente relevante conversar com outros pais que vivam situações idênticas.

 

Baixar as expectativas

É impossível ser-se perfeito a tempo inteiro. A consciência disso ajudará a pessoa a aliviar a pressão, permitindo-lhe desfrutar mais da parentalidade. Colocar de lado as comparações, eliminar a culpa e a vergonha por não corresponder a ideais impossíveis de alcançar e baixar as expectativas para patamares realistas são passos fundamentais.

 

Cuidar de si

Reservar tempo para se estar só é precioso em situações de exaustão: permite aliviar a pressão, abre tempo para o autocuidado (técnicas de meditação e relaxamento, por exemplo) e para a realização de tarefas que proporcionam prazer, como ler um livro, ver uma série, jardinar, tocar um instrumento musical ou estar com os amigos (sem a presença de crianças).

 

Praticar atividade física

Sabe-se que o exercício físico contribui para aumentar a energia e o bom humor, ajuda a reduzir o stress e a combater a depressão, já que estimula a produção de hormonas responsáveis pelo bem-estar. O ideal é escolher uma atividade de que se gosta particularmente, podendo bastar, por exemplo, uma caminhada pela manhã ou uma corrida ao fim do dia.

 

Adotar uma alimentação saudável

Em situações de exaustão é comum não se conseguir reunir energia suficiente para preparar refeições nutritivas, optando-se por comidas processadas e de confeção rápida, o que não é o ideal. Para combater o burnout, é importante apostar em refeições equilibradas e ricas em nutrientes, bem como resistir à tentação de beber álcool em excesso.

 

Reavaliar as agendas

Reduzir as atividades extracurriculares das crianças pode ajudar a ultrapassar situações de burnout parental, ou ainda rever prioridades em termos de compromissos assumidos. Hoje, as agendas das crianças são quase tão preenchidas quanto as dos adultos, pelo que importa analisar o que é verdadeiramente essencial, substituindo o supérfluo por uma atividade mais útil.

 

Pedir ajuda

Para algumas pessoas, este passo é difícil, mas é fundamental para se sair de uma situação de fadiga crónica. Pedir ajuda a amigos ou familiares para a gestão da rotina - por exemplo, para ficarem com as crianças durante uma noite, ou para as irem buscar à escola pontualmente - pode ser importante. Da mesma maneira, recorrer à ajuda de um profissional de saúde, nomeadamente, o médico de família, um psicólogo ou um psiquiatra, pode ser essencial.

Fontes:

American Psychological Association, janeiro de 2022

Frontiers in Psychology, janeiro de 2022

Parental Burnout, janeiro de 2022

Springer Link, janeiro de 2022

University of Oxford, janeiro de 2022

WebMD, janeiro de 2022

Publicado a 22/02/2022