O que é?

A ansiedade é uma emoção normal, experienciada pelas pessoas no seu dia a dia, e caraterizada por sentimentos de tensão, preocupação, insegurança, normalmente acompanhados por alterações físicas como o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, sudação, secura da boca, tremores e tonturas.

Apesar deste caráter normativo, quando a ansiedade persiste em certos contextos, interfere negativamente com a capacidade de desenvolver as atividades diárias e causa sofrimento físico e/ou emocional significativo, estamos perante uma patologia ansiosa.

Trata-se de um problema importante e comum. A nível da medicação, entre 2004 e 2009, observou-se um crescimento de 25,3% no consumo de ansiolíticos, hipnóticos, sedativos e antidepressivos. Estes dados são confirmados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), onde Portugal se situa acima da média dos países desta entidade no consumo de ansiolíticos. São escassos, no entanto, os estudos que apresentam resultados relativos à realidade portuguesa. Alguns apontam para taxas de cerca de 50% dos utilizadores de cuidados primários de saúde apresentando sintomas de depressão/ansiedade. 

As evidências demonstram maior prevalência de perturbações depressivas e de ansiedade entre as mulheres. Em Portugal, existem poucas evidências dessa tendência, embora alguns estudos recentes sugiram que o género feminino é mais suscetível a esse tipo de perturbação.

Em condições normais, a ansiedade pode ser útil, na medida em que ajuda a identificar situações de perigo e permite uma melhor preparação para as enfrentar. Quando bem controlada, atua sobretudo como estimulante. Em excesso, causa sofrimento desnecessário.

Existem diferentes formas de ansiedade, cada uma delas com sintomas diferentes, sendo as principais as seguintes:

 

Relação entre ansiedade e depressão

A ansiedade faz parte do quadro clínico da depressão e está associada de forma variável às alterações de humor e aos estados depressivos. Pode-se, portanto, afirmar que os pacientes com esta patologia sofrem também de ansiedade, mais ou menos pronunciada. Da mesma forma, a maioria das pessoas em que a ansiedade se manifesta num grau elevado pode evoluir para um estado depressivo. A presença em simultâneo de depressão e ansiedade é muito marcante, implicando maior gravidade de sintomas. Estudos desenvolvidos em Portugal registaram forte correlação entre depressão, ansiedade e stress.

Sintomas de Ansiedade

Os sintomas mais comuns são as sensações de apreensão ou preocupação, de impotência, de medo ou pânico. Estas associam-se frequentemente a manifestações físicas como o aumento da frequência cardíaca e respiratória, suores, tremores, sensação de fadiga, entre outros.

Os diferentes tipos de ansiedade apresentam sinais específicos:

  • Os ataques de pânico podem começar de forma súbita, causando sintomas físicos muito fortes, quase de asfixia. Na agorafobia, a ansiedade ocorre em ambientes nos quais o paciente se sente encurralado.
  • As fobias sociais acontecem em circunstâncias de exposição social ou pública.
  • Na doença obsessiva compulsiva surgem pensamentos persistentes e um desejo incontrolável de repetir, sem razão aparente e sem propósito, um determinado ato.
  • No stress pós-traumático, o paciente sente que está a reviver uma experiência traumática, referindo reações emocionais e físicas muito intensas.

Causas

Em alguns casos, a ansiedade poderá ter uma causa evidente. No entanto existem outros em que parece não ter origem aparente. Quando isso sucede, o facto de o paciente não conseguir identificar o seu motivo tende a aumentá-la ainda mais. Por isso, um dos aspetos importante no tratamento é a identificação dos fatores que a desencadeiam. Há indícios de que poder existir uma base genética para a ansiedade.

A ocorrência de experiências stressantes e a incapacidade de lidar com elas é outra questão importante. O consumo de álcool, drogas, chá, café, tabaco e alguns medicamentos também podem associar-se a crises de ansiedade.

De um modo geral, os problemas da vida são habitualmente desencadeadores de ansiedade, e nos casos agudos, angústia. Além disso, as dificuldades pessoais de inserção na sociedade, os conflitos interiores no domínio afetivo, emocional e sexual podem conduzir a uma sintomatologia ansiosa.

A ansiedade pode estar associada a:

Fobias Específicas

As fobias específicas são caracterizadas por medo ou ansiedade marcados e não racionais em relação a um objeto ou contexto específico. Estes objetos ou contextos temidos são habitualmente evitados ou enfrentados com medo e ansiedade intensos.

Entre as fobias específicas encontram-se alguns subtipos:

  • animal (aranhas, cães, …)
  • ambiente natural (água, tempestades, …)
  • sangue-injeções (ferimentos, agulhas, …)
  • situacional (aviões, elevadores, espaços fechados, …)

 

Fobia Social

A Perturbação de Ansiedade Social é caracterizada pelo medo e ansiedade persistentes e excessivos em contextos de exposição ao escrutínio dos outros. Nestes contextos é frequente o receio do embaraço, da humilhação e da rejeição, o que leva ao evitamento das situações de interação social, a níveis de sofrimento significativo e a um impacto considerável nas várias áreas da vida.

 

Perturbação de Pânico

É uma perturbação de ansiedade caraterizada por um aparecimento inesperado, por ataques de pânico recorrentes e pela preocupação persistente com a possibilidade de ocorrência de ataques de pânico subsequentes.

Um ataque de pânico consiste num período abrupto de medo e desconforto intensos que atinge o seu pico em minutos. Vivê-los tem como consequência principal o desenvolvimento de comportamentos desadaptativos, muitas vezes relacionados com a necessidade de evitar novos episódios.

A Perturbação de Pânico por vezes ocorre em comorbilidade com Agorafobia (medo ou ansiedade exagerada em contextos nos quais a pessoa acredita que escapar ou ter ajuda possa ser impossível, muito difícil ou embaraçoso, no caso de ocorrer um ataque de pânico).

 

Perturbação de Ansiedade Generalizada

A Perturbação de Ansiedade Generalizada é caraterizada por ansiedade e preocupação persistentes, excessivas e desproporcionadas acerca de vários aspetos da vida, vistos como difíceis de controlar.

Podem ser várias as manifestações deste tipo de quadro:

  • agitação e nervosismo
  • fadiga fácil
  • dificuldades de concentração
  • irritabilidade
  • tensão muscular
  • insónia

Diagnóstico

O seu diagnóstico pode ser bastante difícil. O exame médico é essencial de modo a poder excluir-se a presença de doença física real que esteja na base das queixas referidas. A sua confirmação depende da presença dos critérios de ansiedade definidos internacionalmente.

Tratamento

É necessário não esquecer que a ansiedade é um fenómeno universal, que faz parte da vida. Frequentemente, pequenas alterações no quotidiano ou nos hábitos podem diminuir ou mesmo eliminar as reações ansiosas.

Pode ser útil adotar no dia a dia hábitos simples que permitam reduzir os estados de ansiedade. São exemplos disso as técnicas de relaxamento e meditação, uma boa gestão e organização do tempo ou uma comunicação regular e eficaz com os outros (tanto no trabalho como em casa). Dormir bem é, também, muito importante.

Por vezes, pode ser necessário o recurso a medicamentos, que deverão ser sempre prescritos pelo médico. Este tipo de tratamento é, habitualmente, de longa duração e deve ser cuidadosamente acompanhado. Em alguns casos a utilização de fármacos pode ser complementado com apoio psiquiátrico. Deve ser sempre evitada a automedicação.

Prevenção

Existem algumas estratégias que podem ajudar a prevenir crises de ansiedade e a aliviar os sintomas:

  • Técnicas de relaxamento: por exemplo, a técnica de respiração diafragmática profunda ajuda a diminuir a frequência cardíaca, a pressão arterial e a lidar com o stress, permitindo alcançar um estado de relaxamento tranquilizador. Outras técnicas como a da imaginação guiada por imagens (imaginar um jardim repousante ou a praia favorita) são técnicas de uso fácil e ao alcance de todos e contribuem para o alívio do stress.
  • Mindfulness, meditação e yoga: aumentam a capacidade de autocontrolo e autoconhecimento com diminuição do stress associado às crises de ansiedade e uma maior capacidade de apreciar aquilo que traz felicidade e bem-estar.
  • Exercício, dieta saudável e descanso: devem sempre fazer parte da vida diária mas são particularmente importantes para quem sofre de ansiedade. O exercício diminui as hormonas associadas ao stress e promove a saúde e o bem-estar generalizado. Na alimentação diária devem ser evitados alimentos com cafeína ou álcool e privilegiado o consumo de alimentos ricos em omega-3. A falta de descanso e de sono reparador são também promotores de stress.
  • Autoconhecimento - aprender a identificar o que provoca crises de ansiedade é a forma mais eficaz de as evitar. Analise o seu dia-a dia e registe num diário o que lhe provoca ansiedade. Partilhe com amigos e  familiares as suas preocupações e procure a ajuda profissionais de saúde de modo a saber como lidar com a ansiedade.
Fontes:

Fernandes, C. P., Lidar com a ansiedade, Gabinete de Apoio Psicopedagógico, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Evidência científica sobre custo-efectividade de intervenções psicológicas em cuidados de saúde, Ordem dos Psicólogos Portugueses, Out. 2011

Apóstolo, J. L. Alves e col., Depressão, ansiedade e estresse em usuários de cuidados primários de saúde, Rev. Latino-Am. Enfermagem, 19(2), mar-abr 2011: 1-6,

American Psychological Association, 2013

Anxiety.org, 2013