“Preguiçar” pode ter um lado bom?
Sabia que tirar tempo para não fazer nada pode ser positivo para o seu bem-estar? A energia e a criatividade podem reequilibrar-se quando não fazemos nada.
Já deu por si sentado no sofá de casa, a mudar de canal na televisão, enquanto adia tarefas aborrecidas como estender a roupa ou arrumar a cozinha? A procrastinação sabe bem durante algum tempo, mas pode ser acompanhada de um sentimento de culpa já que as tarefas maçadoras não desaparecem - por vezes, até se avolumam - e podem constituir-se como uma fonte de redobrado stress. Por outro lado, vive-se um contexto social e cultural que valoriza a produtividade. De facto, para algumas pessoas, não fazer nada pode ser bastante difícil enquanto, para outros, tirar tempo para intencionalmente não fazer nada, embora pareça paradoxal, pode ser uma excelente estratégia para trabalhar melhor, com mais foco e maior produtividade, ao mesmo tempo que contribui para uma melhoria do bem-estar físico e mental e ajuda a prevenir o stress ou, em casos mais graves, o Síndrome de burnout.
Quais os benefícios de não fazer nada para o bem-estar?
O nosso organismo precisa de um equilíbrio entre esforço e descanso, pelo que períodos de pausa e relaxamento, mesmo que pareçam demasiado prolongados, podem trazer vantagens quer para continuar a realizar com eficácia uma tarefa em mãos, quer para uma sensação de bem-estar geral.
Conheça seis benefícios de tirar regularmente tempo para não fazer nada.
1. Potencia a concentração
Parece um contrassenso, mas, por vezes, ter muito tempo para realizar uma tarefa simples não significa que esta seja concluída rapidamente ou melhor. Quem gosta de trabalhar sob pressão, ao procrastinar intencionalmente está a deixar para mais tarde o que tem de fazer, preferindo trabalhar rápido e sem espaço para indecisões ou hesitações.
2. Aumenta a energia
Seja mental ou física, a atividade constante vai retirando energia, pode provocar tensão muscular e até ser prejudicial para os olhos ou o sistema nervoso. Uma paragem prolongada para caminhar um pouco ou simplesmente ficar quieto ajuda a “recarregar as baterias”, a ter mais força e resistência quando se começa ou recomeça alguma coisa.
3. Reforça a criatividade
Quer seja para resolver um problema em mãos ou encontrar inspiração, os momentos de pausa, em que simplesmente se respira de uma forma um pouco mais profunda, se observa o que se encontra em redor e se deixa a mente vaguear, podem favorecer o surgimento de novas perspetivas, ideias ou soluções.
4. Reduz a ansiedade e o stress
Há pessoas mais ansiosas por temperamento ou então, não sendo ansiosas por natureza, a realização de determinadas atividades deixa-as mais sujeitas ao stress. Sintomas de nervosismo e preocupação podem, por exemplo, advir das dificuldades encontradas na realização de uma tarefa, acabando por gerar ansiedade. É, frequentemente, a preocupação excessiva com o tempo ou a dificuldade de concentração que provoca maior ansiedade. Parar um pouco e desviar a atenção pode ajudar a relaxar quando algo não está a sair bem ou quando, ainda antes de começar, já se estão a antecipar problemas e dificuldades.
5. Ajuda a evitar o burnout
O Síndrome de burnout pode traduzir-se numa completa exaustão física, mental e emocional e é uma ameaça cada vez mais atual. Pode ocorrer devido à falta de equilíbrio entre vida pessoal, familiar e laboral, trabalhar horas excessivas, desvalorizar sintomas como cansaço constante, stress, irritabilidade, menor tolerância à frustração, dormir pouco ou ter um sono pouco reparador. Paragens regulares, mais ou menos longas, permitem reparar o corpo e mente, criando o espaço de cuidado necessário para prevenir o stress e recuperar devidamente do cansaço.
6. Melhora o humor
Não ter de fazer nada, ninguém à espera ou poder controlar o seu tempo para, entre tarefas, escolher não fazer nada pode traduzir-se numa sensação de liberdade e deixá-lo mais bem-disposto e relaxado. E é relativamente fácil encontrar esses momentos ao longo do dia e incluí-los na rotina pessoal. Seja através de acordar 15 minutos mais cedo para apanhar luz natural no exterior ou meditar, seja parar regularmente ao longo do dia de trabalho para realizar alongamentos ou tomar um café em silêncio enquanto contempla a paisagem à janela.
A preguiça, a falta de energia, falta de vontade de sair do sofá ou de ligar o computador para trabalhar são sinais que devem exigir a sua atenção. Pode estar a lidar com tarefas aborrecidas e pouco estimulantes que contribuem para a sua desmotivação e, a prazo, terem um impacto negativo na sua saúde mental ou serem sinais da existência de outras condições clínicas. Procure ajuda profissional caso tal se verifique.
Dicas para encontrar o tempo para parar
Uma vida muito ativa ou preenchida leva a pensar que é impossível ter momentos de total paragem, mas há formas de os encontrar, planeando-os com antecedência ou incluindo-os na sua rotina diária:
- Saber identificar quando o stress está a aumentar e não o deixar avolumar
- Desligar intencionalmente o smartphone, o computador ou a televisão
- Procurar a exposição à luz natural, caminhar, buscar espaços verdes ao ar livre e apreciar a natureza
- Dar prioridade a si próprio, usar a paragem como uma forma de cuidado pessoal
- Definir intervalos ao longo do dia, seja para ficar em silêncio ou para saborear um café à janela e contemplar uma vista
Um conselho para "preguiçar" bem: equilíbrio
Todas as pessoas são diferentes, lidam com o trabalho e o dia a dia de maneira distinta. Algumas sofrem com o stress, outras preferem vivê-lo, dentro de certos limites, de uma forma positiva. Tirar tempo para não fazer nada é um recurso que pode servir para promover o equilíbrio entre o dispêndio da energia necessária para trabalhar, lidar com a vida familiar e social e a necessidade de desligar, recuperar forças, usufruir de tempo para si sem ter de pensar em nada de especial, contemplar o que o rodeia, respirar. A sua saúde mental vai agradecer.
HealthKart Connect, outubro de 2023
Henry Ford Health, outubro de 2023
Psychology Today, outubro de 2023
The Royal Society Publishing, outubro de 2023