A cirurgia no tratamento do cancro colorretal
António Manso e Nuno Bonito, especialistas CUF, explicam a importância do diagnóstico precoce e do tratamento cirúrgico no cancro colorretal. Assista ao vídeo.
Em Portugal, o cancro colorretal é um dos cancros mais diagnosticados - em 2020, foram identificados 10.501 novos casos em ambos os sexos. Em termos de mortalidade, sabemos que, a nível nacional, “morrem cerca de 11 doentes por dia por cancro colorretal”, afirma Nuno Bonito, oncologista CUF. Já num panorama mais geral, “na Europa a sua prevalência surge em 2.º lugar no contexto do diagnóstico e a nível global em 3.º lugar”, completa. E como pode esta realidade ser alterada? A deteção e tratamento precoces são ferramentas fundamentais.
Nuno Bonito e António Manso, cirurgião geral CUF, esclarecem sobre os sinais de alarme, as causas, a importância do diagnóstico precoce e o tratamento cirúrgico do cancro colorretal e Francisco Vilhena Carvalho, diagnosticado com este tipo de cancro há dois anos, partilha a sua história.
Principais causas de cancro colorretal
“Um cancro colorretal pode ter vários fatores que podem ser desencadeantes”, afirma Nuno Bonito. “Nós sabemos que cerca de 5% do cancro colorretal está dependente de causas hereditárias. Todas as outras têm a ver com a interação entre o hospedeiro e o ambiente”, explica, enumerando algumas das possíveis causas associadas ao cancro colorretal:
- Álcool
- Tabaco
- Alimentação
- Sedentarismo
- Dislipidemia
- Síndrome metabólica
Cancro colorretal na 1.ª pessoa
Há dois anos, quando tinha 55 anos, Francisco Vilhena Carvalho foi diagnosticado com cancro colorretal, mais especificamente uma neoplasia no cólon sigmoide (a cerca de 35 cm do reto). A notícia chegou-lhe pelo seu médico gastrenterologista, que lhe recomendou a rápida realização de cirurgia no prazo máximo de três meses, pois o cancro ainda estava numa fase inicial. “Entre o diagnóstico e a realização da cirurgia houve um curto espaço de tempo”, conta Francisco Vilhena Carvalho.
Os restantes tratamentos foram feitos com o acompanhamento do oncologista Nuno Bonito. Mais tarde, nas avaliações de rotina, foi-lhe diagnosticado um novo nódulo no fígado, o que levou a mais uma intervenção cirúrgica e a outra ronda de tratamentos oncológicos.
Neste momento, Francisco Vilhena Carvalho encontra-se em período de vigilância (que é de cinco anos) e com ausência de doença. “De um modo geral, sinto-me bem, a recuperar”, afirma.
Sintomas do cancro colorretal
“Muita da sintomatologia que leva o doente a, numa fase inicial, consultar o seu médico de família é uma sintomatologia inespecífica”, afirma Nuno Bonito. Contudo, há sintomas mais prevalentes e sinais de alarme que são motivo para marcar uma consulta o mais rapidamente possível. Segundo o oncologista, são estes “o desenvolvimento de anemia, cansaço fácil, dor abdominal e, quando falamos mais dos tumores no cólon esquerdo e no reto, o aparecimento de sangue nas fezes”.
No caso de Francisco Vilhena Carvalho, os seus “primeiros sintomas não apontavam para este tipo de doença”, afirma. Esses sintomas consistiram numa grande má-disposição abdominal, nomeadamente, no estômago; flatulência; e mal-estar. Por isso, o seu médico prescreveu-lhe a realização de uma colonoscopia e de uma endoscopia. Foram esses exames que permitiram diagnosticar uma neoplasia no cólon sigmoide. Receber uma notícia desse tipo “é um choque, mas temos de ser fortes”, salienta, referindo que “é um desafio a ultrapassar”.
Tratamento cirúrgico: quando e para quem?
No cancro colorretal, “a maioria dos doentes tem indicação cirúrgica”, afirma o cirurgião geral António Manso, pois, “muitas das vezes, as lesões não são iniciais”. O tipo de cirurgia varia consoante vários fatores, como a localização da lesão: “Pode ser uma cirurgia mais pequena quando são lesões do reto; se for no cólon, é sempre uma excisão de uma parte do intestino”, esclarece.
A abordagem cirúrgica apresenta várias vantagens para o doente e, segundo nos explica o cirurgião geral, tem como objetivo “limitarmos a doença, conseguirmos controlá-la e depois fazermos um estadiamento local da doença, isto é, percebermos concretamente qual a gravidade da doença, quais os problemas que os doentes podem ter no futuro, estratificarmos os doentes em função de risco, podermos oferecer-lhes outros tratamentos coadjuvantes e, eventualmente, fazer um seguimento adequado para evitar que haja problemas no futuro”.
Laparoscopia: uma abordagem com mais vantagens para o doente
Na maioria dos casos de cancro colorretal, a laparoscopia é a técnica de eleição. São raras as situações em que esta abordagem minimamente invasiva não pode ser utilizada num doente, afirma António Manso. Para o doente, a laparoscopia tem claras vantagens: “Uma melhor recuperação e menos agressão”, o que facilita a realização de tratamentos adjuvantes (quando necessário) o mais precocemente possível, explica António Manso, acrescentando que, assim, é possível “otimizar o tratamento do cancro, que é o que nós queremos”.
Dentro da laparoscopia, o tipo de cirurgia que é feito depende, segundo o médico, de vários fatores, como o “estadiamento prévio, se há mais alguma coisa associada ou não, se é só no intestino, se é no fígado”, explica. Com esses dados, é definida a zona do intestino a retirar.
A cirurgia de Francisco Vilhena Carvalho consistiu numa hemicolectomia , “que significa tirar a parte esquerda do intestino grosso porque tinha uma lesão neoplásica”, explica António Manso. “Pela indicação que tive do Dr. António Manso, foi retirada uma margem de segurança relativamente à peça para que não houvesse uma recidiva, que não houvesse alguma situação posterior”, conta Francisco Vilhena Carvalho.
Para prevenir é importante estar informado e atento
A vigilância regular - pelos especialistas de saúde e pelo próprio doente - é muito importante na deteção precoce do cancro colorretal. Neste sentido, Nuno Bonito destaca a importância do rastreio organizado, a prevenção secundária e saber reconhecer os fatores de risco e sinais de alarme como ferramentas que podem ajudar o doente a recorrer precocemente ao médico e permitir “um diagnóstico numa fase o mais precoce possível de forma a que possamos oferecer ao doente uma estratégia com o intuito curativo”.
O diagnóstico e tratamento precoces podem fazer toda a diferença no prognóstico da doença. “A taxa de sobrevivência aos cinco anos neste tipo de doença vai dos 55% aos 90% em função da precocidade do diagnóstico e da estratégia terapêutica oferecida o mais precocemente possível”, sublinha Nuno Bonito.
The Global Cancer Observatory, International Agency for Research on Cancer, setembro de 2022