Consequências da pandemia na saúde das crianças
Este verão assistimos a uma situação atípica, com o surgimento das chamadas "doenças de inverno". Será que o confinamento teve impacto na imunidade dos jovens?
A infeção pelo vírus SARS-CoV-2 atinge uma pequena percentagem de crianças e adolescentes em todo o mundo. Embora os números sejam muito menores nestas faixas etárias comparativamente aos adultos, existem casos de doença grave e mortes.
Os pediatras estão preocupados com os efeitos diretos da infeção COVID-19, sobretudo pelos casos graves da Síndrome Inflamatória Multissistémica associada à infeção, mas também com os efeitos indiretos da pandemia. São várias as áreas onde a COVID-19 tem tido impacto negativo:
- isolamento e alteração do contexto escolar
- absentismo no seguimento da doença crónica
- atraso em consultas de rotina
- atraso na recorrência aos serviços de saúde em situações potencialmente graves
- saúde mental
Impacto da pandemia na circulação dos vírus
As infeções respiratórias são uma das maiores causas de morbilidade e mortalidade em todo o mundo. A Nasofaringite (constipação), Amigdalite, Bronquiolite, Laringite e Pneumonia são alguns dos exemplos. Surgem sobretudo no inverno e são o principal motivo de urgência ao longo desses meses. A maioria destas infeções são provocadas por vírus, como por exemplo o Vírus Sincicial Respiratório e o Vírus da Gripe.
Durante os períodos de confinamento verificámos uma diminuição do número de casos para valores perto do zero. A hipótese explicativa levantada pelos especialistas assenta nas medidas implementadas para travar a propagação do SARS-CoV-2, como o distanciamento social, lavagem frequente das mãos e o uso de máscaras.
Os vírus que causam infeção respiratória propagam-se da mesma forma que o vírus da COVID-19, através de gotículas respiratórias da pessoa infetada, pela tosse ou espirro. Ao travarmos a propagação de um, consequentemente os outros também deixam de circular e ter impacto significativo na saúde das crianças.
Impacto da pandemia na imunidade das crianças e adolescentes
Nos meses de verão constatou-se um aumento significativo de infeções respiratórias, como as Laringites e Bronquiolites, muitas a necessitar de medicação específica e cuidados diferenciados. São vários os países que registaram este aumento, não só os países Europeus, mas também os Estados Unidos da América e a Austrália.
A comunidade científica tem demonstrado preocupação com este aumento, sobretudo pelo reaparecimento do Vírus Sincicial Respiratório (VSR).
Habitualmente 60-70% das crianças abaixo do ano de idade e praticamente todas as crianças abaixo dos dois anos teriam doença ligeira provocada pelo VSR no inverno. Este contacto permitiria estimular a imunidade individual, existindo memória para as infeções e proteção contra a doença grave. Como no ano de 2020-2021 houve uma diminuição acentuada na circulação dos vírus (incluindo o VSR), as crianças não tiveram esse contacto, o que as coloca em maior risco de ter doença grave.
Com o regresso às escolas e alívio das medidas globais para o controlo da pandemia, os vírus entram novamente em circulação e causam doenças pela primeira vez nesta altura mais quente.
Em Portugal, este aumento de circulação de VSR levou à antecipação da época de vacinação de crianças mais susceptíveis, o que demonstra a importância deste assunto e a preocupação com o próximo inverno e o regresso à escola.
Existem algumas dúvidas sobre o potencial impacto desta "imunidade pouco estimulada" nos serviços de urgência, mas sabemos que o regresso à escola trará mais infeções e uma maior afluência aos sistemas de saúde.
Impacto da pandemia na saúde mental das crianças e adolescentes
Os efeitos do distanciamento social, isolamento e cessação das atividades lúdicas tiveram um aumento significativo de doenças mentais nos adultos. Relativamente à faixa pediátrica, tem-se verificado um maior número de quadros de ansiedade e depressão, sendo igualmente uma área que preocupa Pediatras, Psicólogos e Pedopsiquiatras.
Sinais de alerta para procurar atendimento urgente
A COVID-19 mudou substancialmente as nossas vidas e teve impacto em diferentes aspetos. Devemos, no entanto, continuar a apostar nas medidas protetoras recomendadas.
É fundamental cumprir os esquemas de vacinação, incluindo a vacinação contra o SARS-CoV-2 acima dos 12 anos, e recorrer aos serviços de Atendimento Permanente (urgência) apenas quando há sinais de alarme:
- prostração
- febre prolongada
- sinais de desidratação (olhos encovados, choro sem lágrima, cansaço, confusão, língua e mucosas secas)
- dificuldade respiratória ("covinhas" no peito)