Doença de Parkinson: a neurologista responde
Dos tipos de tremor aos tratamentos disponíveis, Graça Sousa, neurologista CUF, responde a várias questões sobre a Doença de Parkinson. Assista ao vídeo.
A doença de Parkinson é uma patologia frequente, afetando “cerca de 180 pessoas em cada 100 mil habitantes em Portugal”. Quem o afirma é a neurologista CUF Graça Sousa, que nos esclarece sobre esta doença neurodegenerativa progressiva, isto é, que vai evoluindo ao longo do tempo e é crónica. Assista ao vídeo, onde a especialista em Neurologia responde a várias questões sobre doença de Parkinson deixadas no Facebook da CUF.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da doença de Parkinson é clínico, havendo exames complementares a que o médico pode recorrer, principalmente, para excluir outras causas, explica Graça Sousa, acrescentando que “a prova terapêutica com levodopa [um fármaco comummente utilizado nesta doença] também é um dado que nos permite ter mais segurança, é um critério de suporte diagnóstico da doença”.
Alguns dos sintomas que caracterizam a doença de Parkinson são de origem motora, como a bradicinesia (lentificação dos movimentos) associada a rigidez e/ou a tremor.
Sabia que...
A doença de Parkinson afeta mais os homens.
Todos os tremores podem levar a suspeita de doença de Parkinson?
O tremor é um dos sintomas que, habitualmente, mais associamos à doença de Parkinson. Contudo, nem todos os tipos de tremor estão presentes neste problema de saúde.
“Na doença de Parkinson, o tremor típico é o tremor de repouso assimétrico. Pode evoluir, afetando o lado contralateral, mas afeta sempre mais um dos lados”, explica. Pode afetar diferentes partes do corpo, como:
- Mãos
- Pernas
- Queixo
A neurologista diferencia-o de outro tipo de tremor, o tremor essencial, que é oposto ao que surge habitualmente nesta doença. O tremor essencial é “muito frequente na população” e “é tipicamente simétrico [afeta os dois lados do corpo] e de predomínio de ação e de postura”, explica. É mais comum nas mãos, mas também pode atingir a voz e a cabeça.
Apesar de um destes tipos de tremores ser mais comum na doença de Parkinson, é importante ter em consideração que nesta patologia também pode haver tremores de postura e de ação.
Os tremores são um motivo de consulta de Neurologia, com o objetivo de diferenciar a sua tipologia.
Como é a evolução da doença de Parkinson?
Na doença de Parkinson, cada caso é um caso. Graça Sousa explica que “a evolução da doença de Parkinson, dada a sua heterogeneidade e complexidade, é variável e é difícil estimar o prognóstico ou evolução para cada caso individual”. A especialista em Neurologia refere que os estudos feitos até à data revelam alguns indicadores ou fatores preditivos de pior prognóstico, como:
- Idade avançada
- Sexo masculino
- Índice de massa corporal baixo
- Existência de comorbilidades, como, por exemplo, fatores de risco vascular e cancro
- Disfunção cognitiva
- Disfunção autonómica
Também a “existência de sintomas motores axiais, como perturbação do equilíbrio, alterações da marcha - com quedas, na maioria dos casos -, pode ter um impacto negativo no prognóstico”, salienta.
“Relativamente à sobrevida dos doentes, esta tem vindo a aumentar à medida que temos, ao longo destes anos, cada vez mais opções terapêuticas”, afirma a especialista em Neurologia. Falando de números mais concretos, Graça Sousa refere que a sobrevida “passou de cerca de nove anos na era pré-levodopa, para 13 anos na era pré-cirurgia de estimulação cerebral profunda e, atualmente, há uma sobrevida de cerca de 14 anos, mais ou menos sete (14+/-7). Comparativamente aos 23 anos para a população com mais de 60 anos, há uma melhoria significativa com as opções terapêuticas disponíveis”.
A doença de Parkinson é hereditária?
É natural que em alguém que tenha um familiar com doença de Parkinson surja a preocupação de que haja uma maior probabilidade de vir também a desenvolver a doença. Mas, segundo nos explica Graça Sousa, na maioria das vezes, ”não será de ficar assustado”. Isto porque “a doença de Parkinson, na maior parte dos casos, não é hereditária. Os casos em que se deteta uma alteração genética correspondem a uma minoria dos casos, cerca de 5%”, tranquiliza.
Que tratamentos existem para a doença de Parkinson?
“Atualmente, o tratamento da doença de Parkinson é sintomático”, afirma a neurologista. O que significa isto na prática? Quer dizer que não existem ainda “tratamentos conhecidos que sejam modificadores da evolução da doença”, esclarece, mas existe ainda assim uma larga variedade de opções terapêuticas que “podem ajudar nos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos doentes”.
Há vários fármacos para o tratamento da doença de Parkinson, sendo a levodopa aquele que é mais utilizado. “Nas fases mais avançadas, temos disponíveis vários tratamentos mais invasivos em que a resposta ao tratamento médico não é tão boa e que permitem uma melhoria da qualidade de vida e um aumento da sobrevida dos doentes”, afirma a neurologista. Alguns exemplos, utilizados em fases mais avançadas da doença e em que surgem flutuações motoras com discinésias, são:
- Estimulação cerebral profunda
- Infusão duodenal de levodopa através de gastrojejunostomia percutânea
- Administração subcutânea de apomorfina quer em bomba quer através de caneta
“Outro tipo de terapias estão em curso, nomeadamente terapias mais dirigidas, como as genéticas, e, portanto, não temos dados ainda esclarecedores”, revela.
“À parte do tratamento farmacológico e tratamento mais invasivo, temos sempre o tratamento não farmacológico, com a fisioterapia, o exercício físico e o tratamento de sintomas não motores que são muito importantes e que muitas das vezes contribuem para a incapacidade dos doentes, principalmente nas fases mais avançadas”, explica Graça Sousa.
Sabia que...
Quem sofre de doença de Parkinson, além de adotar uma dieta saudável, deve reforçar o consumo de fibra e a hidratação oral, de modo a prevenir um dos sintomas não motores muito frequentes: a obstipação.
Existem formas de prevenir a doença de Parkinson?
Não exatamente. Segundo as explicações de Graça Sousa, “a doença de Parkinson, sendo degenerativa e crónica” e tendo em consideração que ”não conseguimos descobrir uma causa tratável, não há forma propriamente de prevenir esta doença. Temos, sim, meios para lidar com ela e para melhorar a qualidade de vida dos doentes”.
O cuidador do doente de Parkinson
“O cuidador tem um papel importante para lidar com o doente com doença de Parkinson”, sublinha Graça Sousa. Este papel não é sempre igual, devendo ser adaptado às necessidades do doente à medida que a doença progride e vai requerendo maior acompanhamento. “Primeiro, há uma adaptação a uma nova fase, em que surgem sintomas que vão limitar as várias atividades: desde as atividades básicas do dia a dia às atividades sociais. Não vão ter a mesma velocidade a fazer as atividades”, alerta. Por isso, é importante “esclarecer todos estes cuidados que vão sendo necessários ao longo da doença e recorrer, por exemplo, a associações de doentes, onde podem ser partilhadas experiências, opiniões e estratégias para lidar com os problemas”, sugere a neurologista. Além disso, “o apoio do serviço social muitas das vezes é fundamental para ajudar a gerir estes problemas de apoio, por exemplo, até em cuidados básicos, como alimentação e higiene, que no futuro poderão ser equacionados. E lembrar que a terapia de exercício físico é sempre muito importante, assim como a terapia de estimulação cognitiva porque o défice cognitivo pode surgir ao longo da doença e, portanto, pode ser potenciado ou oferecido pelos cuidadores”, esclarece.
O próprio cuidador deve adotar alguns autocuidados. “É frequente o cuidador ao longo da progressão da doença ficar com desgaste e deve procurar o médico para ter apoio social, psicológico e, às vezes, farmacológico para ajudar a gerir as dificuldades que vai enfrentar em lidar com um familiar que tem uma doença que é crónica e que tendencialmente vai agravar ao longo do tempo”, explica Graça Sousa.